terça-feira, 27 de janeiro de 2009

IV PARTE
OS DESTINATÁRIOS DA CATEQUESE
Os destinatários da catequese
« Eu te estabeleci como luz das nações, a fim de que a minha salvação chegue até as extremidades da terra » (Is 49,6).« Ele foi a Nazaré, onde fora criado, e, segundo seu costume, entrou em dia de Sábado na sinagoga e levantou-se para fazer a leitura.Foi-lhe entregue o livro do profeta Isaías; abrindo-o, encontrou o lugar onde está escrito: O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar a remissão aos presos e aos cegos a recuperação da vista, para restituir a liberdade aos oprimidos e para proclamar um ano de graça do Senhor.Enrolou o livro, entregou-o ao servente e sentou-se. Todos na sinagoga olhavam-no, atentos. Então começou a dizer-lhes: Hoje se cumpriu aos vossos ouvidos essa passagem da Escritura » (Lc 4,16-21).
« O Reino diz respeito a todos » (Rm 15) (91)
163. No início do seu ministério, Jesus proclama ter sido enviado para anunciar aos pobres a boa nova, (92) fazendo transparecer, e confirmando-o depois, com a sua vida, que o Reino de Deus é destinado a todos os homens, a partir daqueles que são os menos favorecidos. De fato, Ele se faz de catequista do Reino de Deus, para todas as categorias e pessoas: grandes e pequenos, ricos e pobres, sãos e enfermos, próximos e distantes, judeus e gentios, homens e mulheres, justos e pecadores, povo e autoridades, indivíduos e grupos... É disponível a cada pessoa e se interessa por todas as suas necessidades: da alma e do corpo, curando e perdoando, corrigindo e encorajando, com palavras e com fatos.
Jesus conclui a sua vida terrena, convidando os discípulos a fazerem o mesmo, a pregarem o Evangelho a toda criatura do mundo, (93) a « todas as nações » (Mt 28,19; Lc 24,47) « até os confins da terra » (At 1,8) e por todos os tempos, « até a consumação dos séculos » (Mt 28,20).
164. É a tarefa que a Igreja realiza há dois mil anos, com uma imensa variedade de experiências de anúncio e catequese, continuamente solicitada pelo Espírito de Pentecostes a cumprir o seu débito de evangelização « para com os gregos e os bárbaros, para com os sábios e os ignorantes » (Rm 1,14).
Configuram-se, assim, as linhas de uma pedagogia da fé, na qual se conjugam estreitamente a abertura universalista da catequese e a sua exemplar encarnação no mundo dos destinatários.
Significado e finalidade desta parte
165. A necessária atenção às diferentes e várias situações de vida das pessoas (94) leva a catequese a percorrer múltiplas vias, para encontrá-las e tornar a mensagem cristã adaptada às diversas exigências. (95)
Assim, se se considera a condição de fé inicial, abre-se a via dos catecúmenos e neófitos; a atenção ao desenvolvimento da fé dos batizados induz a falar de catequese de aprofundamento, ou de recuperação para aqueles que necessitam ainda de orientações essenciais. Se se considera o desenvolvimento físico e psíquico dos catequizandos, a catequese se articula segundo a idade. Estar atentos, ao invés, aos contextos socioculturais, significa impostar uma catequese por categorias.
166. Não podendo abordar de modo pormenorizado os diversos tipos possíveis de catequeses, consideram-se nesta parte somente alguns aspectos que são de relevo em qualquer situação:
– aspectos gerais da adaptação catequética (I Capítulo);
– catequese segundo as idades (II Capítulo);
– catequese para quem vive situações especiais (III Capítulo);
– catequese segundo contextos (IV Capítulo).
Aborda-se assim, em termos operativos, o problema da inculturação, em relação aos conteúdos da fé, às pessoas e ao contexto cultural.
Caberá às Igrejas particulares, nos seus diretórios catequéticos nacionais e regionais, dar orientações mais específicas e determinadas, com base nas concretas condições e necessidades locais.
I CAPÍTULO
A adaptação ao destinatário. Aspectos gerais
Necessidade e direito de todo fiel de receber uma válida catequese (96)
167. Todo batizado, porque chamado por Deus à maturidade da fé, necessita e, portanto, tem o direito a uma catequese adequada. É, por isso, tarefa primária da Igreja responder a este direito, de maneira totalmente congruente e satisfatória.
Neste sentido, recorda-se, antes de qualquer outra coisa, que o destinatário do Evangelho é « um homem concreto e histórico », (97) sempre radicado em determinada situação, sempre influenciado, conscientemente ou não, por condicionamentos psicológicos, sociais, culturais e religiosos. (98)
No processo de catequese, o destinatário deve poder manifestar-se sujeito ativo, consciente e co-responsável, e não puro receptor silencioso e passivo.(99)
Necessidade e direito da comunidade (100)
168. A atenção ao indivíduo não deve fazer esquecer que a catequese tem como destinatário a comunidade cristã como tal, e cada pessoa no âmbito desta. Se, de fato, é de toda a vida da Igreja que a catequese recebe legitimidade e energia, também é verdade que « o crescimento interior da Igreja, a sua correspondência ao desígnio de Deus que dependem da mesma catequese ». (101)
Portanto, a necessária adaptação do Evangelho diz respeito e envolve também a comunidade enquanto tal.
A adaptação quer que o conteúdo da catequese seja como um alimento sadio e adequado (102)
169. A « adaptação da pregação da Palavra revelada deve permanecer lei de toda evangelização ». (103) Isso tem uma intrínseca motivação teológica no mistério da encarnação, corresponde a uma elementar exigência pedagógica da sadia comunicação humana, reflete a prática da Igreja ao longo dos séculos.
Tal adaptação deve ser entendida como ação tipicamente materna da Igreja, que reconhece as pessoas como « cooperadores de Deus » (1 Cor 3,9), não a serem condenadas, mas a serem cultivadas na esperança. Vai ao encontro de cada uma dessas, considera seriamente a variedade de situações e culturas, e mantém a comunhão de tantos, na única Palavra que salva. Desta maneira, o Evangelho é transmitido genuíno e saboroso, alimento sadio e, ao mesmo tempo, adequado. Toda iniciativa singular deve inspirar-se neste critério e valer-se dos recursos de criatividade e genialidade do catequista.
A adaptação considera as diversas circunstâncias
170. A adaptação realiza-se segundo as diversas circunstâncias em que se transmite a Palavra de Deus. (104) Essas circunstâncias são determinadas pelas « diferenças de culturas, de idades, da vida espiritual, de situações sociais e eclesiais daqueles a quem a catequese é dirigida ». (105) Tais circunstâncias deverão ser atentamente consideradas.
Recorde-se também que, no pluralismo das situações, a adaptação leva sempre em consideração a totalidade da pessoa e a sua unidade essencial, segundo a visão que dela tem a Igreja. Por isso, a catequese não se detém apenas na consideração dos elementos exteriores de uma determinada situação, mas considera também o mundo íntimo da pessoa, a verdade sobre o ser humano, « primeira e fundamental via da Igreja ». (106) Isso determina um processo de adaptação que é tanto mais condizente, quanto mais forem consideradas as interrogações, as aspirações e as necessidades da pessoa, no seu mundo interior.
II CAPÍTULO
A catequese por idades
Indicações gerais
171. A catequese, segundo as diferentes idades, é uma exigência essencial para a comunidade cristã. Por um lado, de fato, a fé participa do desenvolvimento da pessoa; por outro lado, cada fase da vida é exposta ao desafio da descristianização e deve, acima de tudo, aceitar como um desafio, as tarefas sempre novas da vocação cristã.
Oferecem-se, pois, por direito, catequeses por idades, diversificadas e complementares, provocadas pelas necessidades e capacidades dos destinatários. (107)
Para tanto, é indispensável prestar atenção a todos os elementos em jogo, antropológico-evolutivos e teológico-pastorais, valendo-se também dos dados atualizados da ciências humanas e pedagógicas, relativos a cada idade.
Tratar-se-á também de integrar sabiamente as diversas etapas do caminho de fé, prestando particular atenção para que a catequese dirigida à infância encontre harmonioso cumprimento nas fases posteriores.
Também por esta razão, é pedagogicamente eficaz fazer referência à catequese dos adultos e, à sua luz, orientar a catequese dos demais momentos da vida.
Aqui indicar-se-ão apenas alguns elementos de ordem geral e a título de exemplo, deixando especificações ulteriores aos diretórios catequéticos das Igrejas particulares e das Conferências dos Bispos.
A Catequese dos adultos (108)
Os adultos aos quais se dirige a catequese (109)
172. O discurso de fé com os adultos deve levar seriamente em consideração as experiências vividas e os condicionamentos e desafios que eles encontram na vida. As suas exigências e necessidades de fé são múltiplas e várias. (110)
Conseqüentemente, podem-se distinguir:
– adultos crentes, que vivem coerentemente a sua opção de fé e desejam sinceramente aprofundá-la;
– adultos que, embora batizados, não foram adequadamentecatequizados ou não levaram a termo o caminho da iniciação cristã, ou se distanciaram da fé, tanto que podem até mesmo ser chamados « quase catecúmenos »; (111)
– adultos não batizados, aos quais corresponde o verdadeiro e próprio catecumenato. (112)
Devem ser também mencionados os adultos que provêm de confissões cristãs que não estão em plena comunhão com a Igreja Católica.
Elementos e critérios próprios da catequese dos adultos (113)
173. A catequese dos adultos diz respeito a pessoas que têm o direito e o dever de levar ao amadurecimento o germe da fé que Deus lhes deu, (114) tanto mais que são chamados a desempenhar responsabilidades sociais de vários tipos; ela dirige-se a pessoas que estão expostas a transformações e a crises às vezes muito profundas. Em razão disso, a fé do adulto deve ser continuamente iluminada, desenvolvida e protegida, para adquirir aquela sabedoria cristã que dá sentido, unidade e esperança às múltiplas experiências da sua vida pessoal, social e espiritual. A catequese dos adultos exige uma cuidadosa identificação das características típicas do cristão adulto na fé, a fim de traduzi-las em objetivos e conteúdos, determinar certas constantes na exposição, fixar as indicações metodológicas mais eficazes e escolher as formas e os modelos. Uma especial atenção merece a figura e a identidade do catequista dos adultos e a sua formação; e quem são os responsáveis pela catequese dos adultos na comunidade. (115)
174. Entre os critérios que asseguram uma catequese dos adultos autêntica e eficaz, é preciso recordar: (116)
– a atenção aos destinatários na sua situação de adultos, como homens e como mulheres, cuidando, portanto, dos seus problemas e experiências, dos recursos espirituais e culturais, em pleno respeito pelas diferenças;
– a atenção à condição leiga dos adultos, aos quais o Batismo confere a possibilidade de « procurar o Reino de Deus, exercendo funções temporais e ordenando-as segundo Deus » (117) e ao mesmo tempo os chama à santidade; (118)
– a atenção ao envolvimento da comunidade, para que seja lugar de acolhimento e de apoio do adulto;
– a atenção a um projeto orgânico de pastoral dos adultos, no qual a catequese se integre com a formação litúrgica e com o serviço da caridade.
Tarefas gerais e particulares da catequese dos adultos (119)
175. Para responder às instâncias mais profundas dos nossos tempos, a catequese dos adultos deve propor a fé cristã na sua integridade, autenticidade e organização sistemática, segundo a compreensão que dela possui a Igreja, colocando em primeiro plano o anúncio da salvação, iluminando as muitas dificuldades, pontos obscuros, mal-entendidos, preconceitos e objeções atualmente em circulação, mostrando a incidência espiritual e moral da mensagem, introduzindo à leitura crente da Sagrada Escritura e à prática da oração. Um fundamental serviço para a catequese dos adultos é fornecido pelo Catecismo da Igreja Católica e, com referência a este, pelos Catecismos dos adultos das Igrejas singulares.
Em particular, são tarefas da catequese dos adultos:
– Promover a formação e o amadurecimento da vida no Espírito de Cristo ressuscitado através de meios adequados: pedagogia sacramental, retiros, direção espiritual...
– Educar à justa avaliação das transformações socioculturais na nossa sociedade à luz da fé. Dessa maneira, o povo cristão é ajudado a discernir os verdadeiros valores e também os perigos da nossa civilização, e a assumir as atitudes convenientes.
– Esclarecer as atuais questões religiosas e morais, ou seja, aquelas questões que se apresentam aos homens do nosso tempo, como, por exemplo, as relativas à moral pública e individual, às questões sociais, à educação das novas gerações.
– Esclarecer as relações existentes entre a ação temporal e a ação eclesial, mostrando as mútuas distinções, implicações e, portanto, a medida da devida interação. Com este objetivo, a doutrina social da Igreja é parte integrante da formação dos adultos.
– Desenvolver os fundamentos racionais da fé. A reta compreensão da fé e das verdades a se crer estão em conformidade com as exigências da razão humana e o Evangelho é sempre atual e pertinente. É necessário, por isso, promover eficazmente uma pastoral do pensamento e da cultura cristã. O que permitirá superar certas formas de integrismo e de fundamentalismo, assim como uma interpretação arbitrária e subjetiva.
– Formar à assunção de responsabilidades na missão da Igreja e a saber dar um testemunho cristão na sociedade.
O adulto é ajudado a descobrir, valorizar e atuar aquilo que recebeu por natureza e por graça, seja na comunidade eclesial que vivendo no âmbito de uma comunidade humana. Dessa forma, poderá também superar as insídias da massificação e do anonimato, particularmente freqüentes em algumas sociedades atuais, que levam à perda da identidade e ao descrédito das qualidades e recursos que uma pessoa possui.
Formas particulares de catequese dos adultos (120)
176. Existem situações e circunstâncias em que se impõem formas especiais de catequese:
– a catequese da iniciação cristã ou catecumenato dos adultos. Ela tem todo o seu ordenamento expresso no OICA;
– a catequese ao Povo de Deus nas formas tradicionais devidamente adaptadas, ao longo do ano litúrgico, ou na forma extraordinária das missões;
– a catequese de aperfeiçoamento, dirigida àqueles que têm uma tarefa de formação na comunidade: catequistas ou aqueles que estão engajados no apostolado dos leigos;
– a catequese a ser desenvolvida por ocasião de eventos particularmente significativos da vida, tais como o matrimônio, o batismo dos filhos e os demais sacramentos da iniciação cristã, nos períodos críticos do crescimento juvenil, na doença, etc. São circunstâncias nas quais as pessoas são, mais do que nunca, induzidas a buscar o verdadeiro sentido da vida;
– a catequese por ocasião de experiências particulares, como o ingresso no trabalho, o serviço militar, a emigração... São mudanças que podem gerar enriquecimento interior, mas também momentos de desorientamento, razão pela qual se sente a necessidade da luz e do amparo da Palavra de Deus;
– a catequese que se refere ao uso cristão do tempo livre, por ocasião, particularmente, das férias e das viagens turísticas;
– a catequese por ocasião de eventos particulares relativos à vida da Igreja e da sociedade.
Estas e tantas outras particulares formas de catequese se colocam lado a lado, sem substituí-los, aos cursos de catequese sistemática, orgânica e permanente que toda comunidade eclesial deve garantir a todos os adultos.
A catequese das crianças e dos adolescentes (121)
Situação e importância da infância e da adolescência (122)
177. Esta fase de idade, tradicionalmente dividida em primeira infância ou idade pré-escolar e adolescência, aos olhos da fé e daprópria razão, tem como própria a graça do início da vida. Nesta idade, « ...nascem preciosas possibilidades para a edificação da Igreja e para a humanização da sociedade », (123) a serem assumidas. Filha de Deus graças ao dom do Batismo, a criança é proclamada por Cristo membro privilegiado do Reino de Deus. (124)
Por diversas razões, hoje talvez mais do que ontem, a criança requer pleno respeito e ajuda nas suas exigências de crescimento humano e espiritual, também através da catequese, que não pode jamais faltar às crianças cristãs. Quem, de fato, deu-lhe a vida, enriquecendo-a com o dom do Batismo, tem o dever de alimentá-la em sua continuidade.
Características da catequese das crianças e dos adolescentes (125)
178. A catequese das crianças é necessariamente conexa com a sua situação e condição de vida, e é obra de diversos agentes educativos, complementares entre si.
Podem ser indicados alguns fatores que revestem uma particular importância e têm extensão universal:
– A infância e a adolescência, cada qual compreendida e tratada segundo a peculiaridade que lhes é própria, representam o tempo da primeira socialização e da educação humana e cristã na família, na escola e na Igreja e, portanto, devem ser compreendidas como um momento decisivo para o futuro sucessivo da fé.
– Segundo uma tradição consolidada, este é, habitualmente, o período em que se cumpre a iniciação cristã inaugurada pelo Batismo. Com o recebimento dos sacramentos, se visa a primeira formação orgânica da fé da criança e a sua introdução na vida da Igreja. (126)
– No período da infância, o processo catequético será, por isso, eminentemente educativo, atento a desenvolver aqueles recursos humanos que formam o substrato antropológico da vida de fé, tais como o senso da confiança, da gratuidade, do dom de si, da invocação, da alegre participação... A educação à oração e a iniciação à Sagrada Escritura são aspectos centrais da formação cristã das crianças. (127)
– Enfim, deve-se estar atentos à importância de dois lugares educativos vitais: a família e a escola. A catequese familiar é, de certo modo, insubstituível, antes de mais nada, pelo ambiente positivo e acolhedor, persuasivo pelo exemplo dos adultos, e pela primeira explícita sensibilização e prática da fé.
179. O ingresso na escola significa, para a criança, a entrada numa sociedade mais ampla do que a família, com a possibilidade dedesenvolver muito mais as suas capacidades intelectivas, afetivas e comportamentais. Na escola, freqüentemente, é ministrado um específico ensino religioso.
Tudo isso requer que a catequese e os catequistas mantenham uma colaboração constante com os genitores e também com os professores da escola, segundo as oportunidades fornecidas pelo contexto. (128) Os pastores devem recordar-se que quando ajudam os genitores e os educadores a bem desempenhar a missão que lhes cabe, é a Igreja que está sendo edificada. Além disso, este trabalho oferece uma ótima ocasião para a catequese dos adultos. (129)
Crianças e adolescentes sem apoio religioso familiar ou que não freqüentam a escola (130)
180. Existem, na verdade, e em larga escala, crianças e adolescentes gravemente prejudicados, uma vez que lhes falta um adequado amparo religioso familiar, ou porque não têm uma verdadeira família, ou porque não freqüentam a escola, ou porque sofrem condições de instabilidade social, de desadaptação, ou ainda por outros motivos ambientais. Muitos deles não são nem mesmo batizados; outros não levam a termo o caminho da iniciação. Cabe à comunidade cristã ocupar-se deles, mediante um generoso, competente e realista serviço de suplência, buscando o diálogo com as famílias, propondo formas educativas escolares apropriadas, criando uma catequese proporcional às possibilidades e às necessidades concretas das crianças.
A catequese dos jovens (131)
Puberdade, adolescência e juventude (132)
181. Em termos gerais, é preciso observar que a crise espiritual e cultural que oprime o mundo (133) faz as suas primeiras vítimas nas jovens gerações. Assim como é verdade que o empenho em favor de uma sociedade melhor encontra nestas as suas melhores esperanças.
Isso deve estimular ainda mais a Igreja a realizar, corajosamente e criativamente, o anúncio do Evangelho ao mundo juvenil.
A propósio, a experiência sugere o quanto seja útil para a catequese distinguir, na idade juvenil, a puberdade, a adolescência e a juventude, valendo-se oportunamente dos resultados da pesquisa científica e das condições de vida nos diversos países. Nas regiões mais desenvolvidas, é particularmente sentida a questão da puberdade: não se leva em consideração o bastante as dificuldades, as necessidades e os recursos humanos e espirituais dos pré-adolescentes, tanto que, em relação a eles, se pode falar de idade negada.
Tantíssimas vezes, nesse período, o menino e a menina, recebendo o sacramento da Crisma, conclui o processo da iniciação cristã mas, ao mesmo tempo, distancia-se totalmente da prática da fé. É preciso levar seriamente em consideração tal fato, desenvolvendo um específico cuidado pastoral, valendo-se dos recursos formativos fornecidos pelo próprio caminho da iniciação.
No que diz respeito às outras duas categorias, é útil distinguir a adolescência da juventude, embora na consciência de que é difícil definir, de maneira unívoca, o significado das mesmas. Globalmente, aqui se compreende aquele período da vida que antecede a assunção das responsabilidades próprias dos adultos.
Também a catequese ao mundo juvenil deve ser profundamente revista e potencializada.
A importância da juventude para a sociedade e a Igreja (134)
182. Se a Igreja vê os jovens como « esperança », também os sente hoje como « um grande desafio para o futuro da própria Igreja ». (135)
A rápida e tumultuosa transformação cultural e social, o aumento numérico, o afirmar-se de um consistente período de juventude antes de assumir as responsabilidades de adulto, a falta de empregos e, em certos países, as condições de permanente subdesenvolvimento, as pressões da sociedade de consumo..., tudo isso colabora para a definição do planeta jovem como o mundo da expectativa, e não raramente, do desencanto, do tédio e até mesmo da angústia e da marginalização. O distanciamento da Igreja ou, pelo menos, uma atitude de desconfiança em relação a ela, existe em muitos jovens como um comportamento de fundo. Nele refletem-se, freqüentemente, a carência do amparo espiritual e moral das famílias e as fraquezas da catequese recebida.
Por outro lado, em tantos jovens, é forte e impetuoso o impulso da busca de um sentido, da solidariedade, do empenho social, da própria experiência religiosa...
183. Daí derivam algumas conseqüências em vista da catequese.
O serviço à fé percebe, antes de mais nada, as luzes e as sombras da condição juvenil, assim com existem, concretamente, nas diversas regiões e ambientes da vida.
O coração da catequese é a explícita proposta de Cristo ao jovem do Evangelho, (136) proposta direta a todos os jovens, sob medida para os jovens, na atenta compreensão dos seus problemas. No Evangelho, de fato, eles aparecem como diretos interlocutores de Cristo, que lhes revela a « singular riqueza » e, ao mesmo tempo, os empenha num projeto de crescimento pessoal e comunitário de decisivo valor para os destinos da sociedade e da Igreja. (137)
Por isso, os jovens não devem ser considerados somente objeto de catequese, mas sim « sujeitos ativos, protagonistas da evangelização e artífices da renovação social ». (138)
Características da catequese dos jovens (139)
184. Dada a amplidão da tarefa, cabe certamente aos diretórios catequéticos das Igrejas particulares e das Conferências dos Bispos, nacionais e regionais, especificar, em mérito ao contexto, o que convém aos lugares singularmente considerados.
Podem-se indicar certas linhas gerais comuns:
– Ter-se-á presente a variedade da situação religiosa: há jovens que não foram nem mesmo batizados, outros que não completaram a iniciação cristã ou estão vivendo uma crise de fé às vezes grave, e outros ainda que são propensos a fazer ou já fizeram uma opção de fé e pedem para ser ajudados.
– Não se deve também esquecer que se torna muito profícua aquela catequese que se pode desenvolver no interior de uma mais ampla pastoral dos pré-adolescentes, adolescentes e dos jovens, a qual considera o conjunto dos problemas que dizem respeito à vida deles. Com este objetivo, a catequese deve ser integrada com certos procedimentos, como a leitura da situação, a atenção às ciências humanas e à educação, a colaboração dos leigos e dos próprios jovens.
– A bem regulada ação de grupo, a filiação a válidas associações juvenis (140) e o acompanhamento pessoal ao jovem, acompanhamento que inclui, como fato eminente, a direção espiritual, são mediações muito úteis para uma eficaz catequese.
185. Entre as diversas formas de catequese juvenil devem ser previstas, de acordo com as situações, o catecumenato juvenil em idade escolar, catequese da iniciação cristã, catequese sobre temáticas programadas, outros encontros mais ou menos ocasionais e informais...
Em termos mais globais, a catequese aos jovens deve ser proposta com percursos novos, abertos à sensibilidade e aos problemas desta idade, que são de ordem teológica, ética, histórica, social... Em particular, obtêm o seu justo posto a educação à verdade e à liberdade segundo o Evangelho, a formação da consciência, a educação ao amor, o discurso vocacional, o engajamento cristão na sociedade e a responsabilidade missionária no mundo. (141) É preciso ressaltar, todavia, que freqüentemente, a evangelização contemporânea dos jovens deve adotar uma dimensão missionária muito mais do que uma dimensão estritamente catecumenal. De fato, a situação obriga freqüentemente o apostolado dos jovens a ser animação juvenil de índole humanizadora e missionária, como primeiro passo necessário para que amadureçam as disposições mais favoráveis ao momento estritamente catequético. Por isso, muitas vezes, na realidade, é oportuno intensificar a ação précatecumenal no interior de processos globais educativos.
Uma das questões a serem afrontadas e resolvidas diz respeito à diferença de « linguagem » (mentalidade, sensibilidade, gostos, estilo, vocabulário...) entre jovens e Igreja (catequese, catequistas). Insiste-se, portanto, sobre a necessidade de uma « adaptação da catequese aos jovens », sabendo traduzir na sua linguagem, « com paciência e sabedoria, a mensagem de Jesus, sem a trair ». (142)
Catequese dos anciãos (143)
A terceira idade, dom de Deus à Igreja
186. Em diversos países do mundo, o crescente número das pessoas anciãs representa uma nova e específica tarefa pastoral para a Igreja. Sentidas não raramente como objeto passivo, mais ou menos incômodas, estas pessoas, à luz da fé, devem ser, ao invés, compreendidas como dom de Deus para a Igreja e para a sociedade, às quais deve ser endereçada também uma adequada catequese. Elas têm o direito e o dever de receber tal catequese, como todos os cristãos.
É preciso levar em consideração a diversidade de condição pessoal, familiar, social, e em particular, a provação da solidão e o risco da marginalização. A família tem uma função primária porque, nela, o anúncio da fé pode dar-se num clima de acolhimento e de amor que, melhor do que qualquer outro, confirma a validade da Palavra.
Em todo caso, a catequese aos anciãos associa, ao conteúdo da fé, a presença cordial do catequista e da comunidade de fé. Por esta razão, é desejável que os anciãos participem plenamente do caminho catequético da comunidade.
A catequese da plenitude e da esperança
187. A catequese aos anciãos dá atenção aos particulares aspectos de sua condição de fé: o ancião pode ter alcançado a idade em que se encontra, com uma fé sólida e rica; nesse caso, a catequese leva, de certo modo, à plenitude, o caminho percorrido, em atitude de agradecimento e de confiante expectativa; outros vivem uma fé mais ou menos obscurecida e uma prática cristã frágil; nesse caso, a catequese se torna momento de nova luz e experiência religiosa; outras vezes, o ancião chega a essa fase de sua vida com profundas feridas na alma e no corpo: a catequese o ajuda a viver a sua condição, na atitude da invocação, do perdão e da paz interior.
Em cada caso, a condição do ancião requer uma catequese da esperança que provém da certeza do encontro definitivo com Deus.
É sempre um benefício para ele e um enriquecimento para a comunidade, se o ancião que crê testemunha uma fé que irradia sempre mais, na medida em que ele se aproxima do grande momento do encontro com o Senhor.
Sabedoria e diálogo (144)
188. A Bíblia nos apresenta o homem ancião crente como o símbolo da pessoa rica de sabedoria e de temor a Deus e, portanto, como o depositário de uma intensa experiência de vida, que o torna, de certo modo, « catequista » natural da comunidade. Ele, de fato, é testemunha da tradição da fé, mestre de vida, operador de caridade. A catequese valoriza esta graça, ajudando a pessoa anciã a redescobrir as ricas possibilidades que estão dentro dela, ajudando-a a assumir papéis catequéticos no mundo das crianças — das quais freqüentemente são os avós tão queridos —, no mundo dos jovens e entre os adultos. Deste modo, se favorece um fundamental diálogo entre gerações, no âmbito da família e da comunidade.
III CAPÍTULO
Catequese para situações especiais, mentalidades, ambientes
A catequese para excepcionais e desadaptados (145)
189. Toda comunidade cristã considera como pessoas prediletas do Senhor aquelas que, particularmente entre as crianças, sofrem de qualquer tipo de deficiência física e mental e de outras formas de dificuldades. Uma maior consciência social e eclesial e os inegáveis progressos da pedagogia especial fazem com que a família e outros lugares de formação possam hoje oferecer, a essas pessoas, uma adequada catequese, à qual têm direito, como batizadas, e se não batizadas, como chamadas à salvação. O amor do Pai para com estes filhos mais frágeis e a contínua presença de Jesus com o seu Espírito nos dão a confiante certeza de que toda pessoa, por mais limitada que seja, é capaz de crescer em santidade.
A educação na fé, que envolve antes de mais nada a família, requer itinerários adequados e personalizados, leva em consideração as indicações da pesquisa pedagógica, e é atuada proficuamente no contexto de uma global educação da pessoa. Por outro lado, deve-se evitar o risco de que uma catequese necessariamente especializada acabe por permanecer à margem da pastoral comunitária. Para que isso não ocorra, é preciso que a comunidade seja constantemente advertida e envolvida. As peculiares exigências desta catequese requerem, dos catequistas, uma específica competência e tornam ainda mais louvável o serviço dos mesmos.
A catequese das pessoas marginalizadas
190. Na mesma perspectiva deve ser considerada a catequese dirigida a pessoas em situações de marginalidade, ou próximas a ela, ou já caídas na marginalização, tais como os imigrados, os refugiados, os nômades, as pessoas sem habitação fixa, os doentes crônicos, os toxicômanos, os presos... A palavra solene de Jesus, que ensina como feito a Ele próprio todo gesto de bondade realizado a « um desses pequeninos » (Mt 25,40; 45), garante a graça de bem atuar em ambientes difíceis. Sinais permanentes da validade da catequese são a capacidade de distinguir a diversidade das situações, de se dar conta das necessidades e das exigências de cada um, de ter como meta importante o encontro pessoal, com uma paciente e generosa dedicação, de proceder com confiança e realismo, recorrendo a formas muitas vezes indiretas e ocasionais de catequese. A comunidade apoiará fraternalmente os catequistas que se dedicam a este serviço.
A catequese para os grupos diferenciados
191. A catequese, hoje em dia, deve afrontar destinatários que, em razão da especificidade profissional e, de modo mais amplo, cultural, exigem peculiares itinerários.
Neste contexto estão incluídas a catequese para o mundo operário, para os profissionais liberais, para os artistas, os homens da ciência, para a juventude universitária... São categorias de pessoas vivamente recomendadas no âmbito do caminho comum da comunidade cristã.
É claro que todos estes setores necessitam de abordagens competentes e de uma linguagem apropriada aos destinatários, mantendo plena fidelidade à mensagem que se pretende transmitir. (146)
A catequese ambiental
192. O serviço à fé, atualmente, tem grande consideração pelos ambientes ou contextos de vida, uma vez que neles, a pessoa desenvolve concretamente a própria existência, recebe influências e influencia, e exerce as próprias responsabilidades.
Em linhas gerais e a título de exemplo, devemos recordar dois ambientes mais amplos, o rural e o urbano, que requerem formas diferenciadas de catequese.
A catequese dirigida às pessoas do campo reflete necessariamente as necessidades que aí nascem, necessidades freqüentemente ligadas à pobreza e à miséria, acompanhadas, não raramente, pelo medo e pela superstição, mas também ricas de simplicidade, de confiança na vida, de senso de solidariedade, de fé em Deus e de fidelidade às tradições religiosas.
A catequese dirigida às pessoas da cidade deve levar em consideração uma variedade, às vezes extrema, de situações que vão de áreas exclusivas de bem-estar a bolsões de pobreza e de marginalização. Os ritmos de vida tornam-se freqüentemente estressantes, a mobilidade é fácil, não poucas são as solicitações à evasão e à falta de compromisso, freqüentes são as situações de penoso anonimato e de solidão...
Para cada um desses ambientes será necessário criar um adequado serviço à fé, valorizando catequistas preparados, produzindo oportunos subsídios, recorrendo aos recursos dos meios de comunicação social...
IV CAPÍTULO
Catequese no contexto sócio-religioso
A catequese em situação de pluralismo e de complexidade (147)
193. Muitas comunidades e indivíduos singularmente considerados são chamados a viver num mundo pluralista e secularizado, (148) onde podem ser encontradas formas de incredulidade e de indiferença religiosa, mas também formas vivazes de pluralismo cultural e religioso; em muitas pessoas, mostra-se forte a busca de certezas e de valores, mas não faltam também formas espúrias de religião e um incerta adesão à fé. Diante desta condição de complexidade, pode acontecer que diversos cristãos se sintam confusos e perdidos, não saibam confrontar-se com as situações, nem julgar as mensagens que nelas estão contidas, abandonem uma regular prática religiosa e acabem por viver como se Deus não existisse, recorrendo freqüentemente a sucedâneos pseudo-religiosos. A fé dessas pessoas é exposta a provas e ameaçada, corre o risco de se extinguir e morrer, se não for continuamente alimentada e promovida.
194. Torna-se indispensável uma catequese evangelizadora, ou seja, « uma catequese cheia de linfa evangélica e servida por uma linguagem adaptada ao tempo e às pessoas ». (149) Ela visa educar os cristãos ao sentido da sua identidade de batizados, de crentes e de membros da Igreja, abertos ao mundo e em diálogo com ele. Recorda-lhes os elementos fundamentais da fé, estimula-os a um real processo de conversão, aprofunda neles a verdade e o valor da mensagem cristã diante das objeções teóricas e práticas, ajuda-os a discernir e a viver o Evangelho no cotidiano, torna-os aptos a dar razão da esperança que está neles, (150) encoraja-os a exercitar a sua vocação missionária, através do testemunho, do diálogo e do anúncio.
A catequese em relação à religiosidade popular (151)
195. Nas comunidades cristãs encontram-se, não raramente, particulares expressões de busca de Deus e de vida religiosa, carregadas de fervor e de pureza de intenções, às vezes comoventes, que podem ser chamadas de « piedade popular ». « Ela traduz em si uma certa sede de Deus, que somente os pobres e os simples podem experimentar; ela torna as pessoas capazes de rasgos de generosidade e as predispõe ao sacrifício até as raias do heroísmo, quando se trata de manifestar a fé; ela comporta um apurado sentido dos atributos profundos de Deus: a paternidade, a providência, a presença amorosa e constante, etc. Ela, além disso, suscita atitudes interiores que raramente se observam alhures no mesmo grau: paciência, sentido da cruz na vida cotidiana, desapego, aceitação dos outros, dedicação, devoção, etc. ». (152) É uma realidade rica e ao mesmo tempo vulnerável, na qual a fé, que está na sua base, pode ter necessidade de purificação e de reforço.
Requer-se, portanto, uma catequese que, de tal recurso religioso, seja capaz de « captar as dimensões interiores e os inegáveis valores, ajudando-a a superar os riscos de desvio. Bem orientada, esta religiosidade popular pode vir a ser, cada vez mais, para as nossas massas populares, um verdadeiro encontro com Deus em Jesus Cristo ». (153)
196. Também a veneração dos fiéis pela Mãe de Deus tem assumido formas variadas, segundo as circunstâncias de tempo e de lugar, a diversa sensibilidade dos povos e a sua diferente tradição cultural. As formas com que tal piedade mariana se exprime, sujeitas à usura do tempo, mostram-se carentes de uma catequese renovada, que permita substituir nelas aqueles elementos caducos, valorizar aqueles que são perenes e incorporar os dados doutrinais adquiridos pela reflexão teológica e propostos pelo magistério eclesiástico.
Uma tal catequese é sumamente necessária. É também conveniente que ela exprima claramente a nota trinitária, cristológica e eclesial, intrínseca à mariologia. Além disso, ao rever ou criar exercícios de piedade mariana, devem ser levadas em consideração as orientações bíblicas, litúrgicas, ecumênicas e antropológicas. (154)
A catequese no contexto ecumênico (155)
197. Toda comunidade cristã, pelo fato de ser tal, é levada pelo Espírito Santo a reconhecer a sua vocação ecumênica na situação emque se encontra, participando do diálogo ecumênico e das iniciativas destinadas a realizar a unidade dos cristãos. A catequese, portanto, é chamada a assumir sempre e em todos os lugares uma « dimensão ecumênica ». (156) Esta dimensão se realiza, antes de mais nada, com a exposição de toda a revelação que tem a Igreja Católica como depositária, no respeito pela hierarquia das verdades; (157) em segundo lugar, a catequese evidencia a unidade de fé que existe entre os cristãos e, ao mesmo tempo, explica as divisões que subsistem e os passos que devem ser feitos para superá-las; (158) além disso, a catequese suscita e alimenta um verdadeiro desejo de unidade, em particular através do amor à Sagrada Escritura; e enfim, empenha-se a preparar as crianças, jovens e adultos a viverem em contato com os irmãos e irmãs de outras confissões, cultivando a própria identidade católica, no respeito pela fé dos demais.
198. Em presença de diferentes confissões cristãs, os Bispos podem julgar oportunas, e até mesmo necessárias, determinadas experiências de colaboração, no âmbito do ensinamento religioso. É importante que aos católicos seja assegurada, de uma outra maneira e ainda com maior cuidado, uma catequese especificamente católica. (159)
Também o ensino da religião, ministrado na escola, onde estão presentes membros de diversas confissões cristãs, reveste-se de valor ecumênico quando a doutrina cristã é genuinamente apresentada. Tal ensino, de fato, oferece a ocasião de um diálogo, mediante o qual podem ser superados ignorância e preconceitos, e pode ser favorecida a abertura a uma melhor compreensão recíproca.
A catequese em relação ao hebraísmo
199. Uma atenção especial deve ser dada à catequese relativa à religião hebraica. (160) De fato, « a Igreja, Povo de Deus na Nova Aliança, descobre, ao perscrutar o seu próprio mistério, seus vínculos com o Povo Hebreu, a quem Deus falou por primeiro ». (161)
« O ensino religioso, a catequese e a pregação devem formar não apenas à objetividade, à justiça e à tolerância, mas também à compreensão e ao diálogo. As nossas duas tradições têm um alto grau de parentesco; não podem, por isso, ignorar-se. É necessário encorajar um recíproco conhecimento em todos os níveis ». (162) De modo particular, um objetivo da catequese é a superação de toda e qualquer forma de anti-semitismo. (163)
A catequese no contexto de outras religiões (164)
200. Os cristãos hoje, vivem, no mais das vezes, num contexto multi-religioso, e não poucos, em condições de minoria. Em tal situação, particularmente no que diz respeito ao Islamismo, a catequese se reveste de uma importância relevante e é chamada a assumir uma responsabilidade delicada, que desemboca em outras tarefas.
Antes de mais nada, ela aprofunda e reforça a identidade dos crentes, particularmente onde eles são minoria, mediante uma adaptação ou inculturação conveniente, num necessário confronto entre o Evangelho de Jesus Cristo e a mensagem das demais religiões. Neste processo, são indispensáveis comunidades cristãs sólidas e fervorosas, bem como catequistas autóctones bem preparados.
Em segundo lugar, a catequese ajuda a nos tornarmos conscientes da presença de outras religiões. Necessariamente, ela torna os fiéis capazes de distinguir, nessas outras religiões, os elementos que se contrapõem ao anúncio cristão, mas os educa também a captar as sementes evangélicas (semina Verbi) que nelas existem e que podem constituir uma autêntica preparação evangélica.
Em terceiro lugar, a catequese promove em todos os crentes, um vivo senso missionário. Este se manifesta através de um límpido testemunho da fé, através de uma atitude de respeito e de recíproca compreensão, através do diálogo e da colaboração em defesa dos direitos da pessoa humana e em favor dos pobres e, onde for possível, também através do explícito anúncio do Evangelho.
A catequese em relação aos « novos movimentos religiosos » (165)
201. No clima de relativismo religioso e cultural, e às vezes também em virtude de uma não reta conduta dos cristãos, proliferam atualmente « novos movimentos religiosos », também denominados de seitas ou cultos, com abundância de nomes e de tendências, difíceis de ordenar no âmbito de um quadro orgânico e preciso. Por quanto nos seja possível entender, podem distinguir-se movimentos de matriz cristã, outros que derivam de religiões orientais e outros ainda que se baseiam em tradições esotéricas. Despertam preocupações pelas doutrinas e práticas de vida que freqüentemente se distanciam dos conteúdos da fé cristã. Continua a ser necessário, portanto, promover em favor dos cristãos cuja fé está exposta ao risco « o empenho em favor de uma evangelização e de uma catequese integrais e sistemáticas, que devem ser acompanhadas de um testemunho capaz detraduzir tais ensinamentos em vivência ». (166) Trata-se, de fato, de superar a grave insídia da ignorância e do preconceito, ajudar os fiéis a encontrarem corretamente a Escritura, suscitando entre eles vivas experiências de oração, defendendo-os dos semeadores de erros, educando-os à responsabilidade pela fé recebida, fazendo-se presente com a força do amor evangélico, quando existem perigosas situações de solidão, de pobreza e de sofrimento. Pelo anseio religioso que tais movimentos podem exprimir, eles merecem ser considerados como um « areópago a ser evangelizado », no qual os problemas mais sentidos podem encontrar resposta. « A Igreja tem em Cristo, que se proclamou « o Caminho, a Verdade e a Vida » (Jo 14,6), um imenso patrimônio espiritual a oferecer à humanidade ». (167)
V CAPÍTULO
A Catequese no contexto sócio-cultural (168)
Catequese e cultura contemporânea (169)
202. « Da catequese, como da evangelização em geral, nós podemos dizer que ela é chamada a levar a força do Evangelho ao coração da cultura e das culturas ». (170) Os princípios da adaptação e da inculturação catequética já foram expostos precedentemente. (171) Agora, basta reafirmar que o discurso catequético tem como guia necessária e eminente a « regra da fé », ilustrada pelo Magistério e aprofundada pela teologia. Deve-se considerar também que a história da catequese, particularmente no tempo dos Padres, é, em tantos aspectos, história da inculturação da fé e, como tal, merece ser estudada e meditada; uma história que, por outro lado, jamais se detém e que exige tempos longos, de contínua assimilação do Evangelho.
Neste capítulo são expostas indicações de método para uma tarefa tão necessária quanto exigente, além de bastante difícil e exposta aos riscos do sincretismo e de outros mal-entendidos. Pode-se dizer que, sobre este tema, hoje particularmente importante, é necessária uma maior reflexão programada e universal, em relação à experiência catequética.
Tarefas de uma catequese para a inculturação da fé (172)
203. Formam um conjunto orgânico e são, a seguir, sinteticamente enumeradas:
– conhecer em profundidade a cultura das pessoas e o grau de penetração nas suas vidas;
– reconhecer a presença da dimensão cultural no próprio Evangelho, afirmando que este não nasce de um húmus cultural humano e, por outro lado, reconhecendo como o Evangelho não possa ser isolado das culturas nas quais se inseriu a princípio, e nas quais se tem expresso no curso dos séculos;
– anunciar a profunda transformação, a conversão que o Evangelho, enquanto força « transformadora e regeneradora », (173) opera nas culturas;
– testemunhar a transcendência e não exaustão do Evangelho na cultura e, ao mesmo tempo, distinguir os germes evangélicos que podem estar presentes nesta;
– promover uma nova expressão do Evangelho segundo a cultura evangelizada, visando obter uma linguagem da fé que seja patrimônio comum entre os fiéis e, portanto, fator fundamental de comunhão;
– manter íntegros os conteúdos da fé da Igreja e procurar que a explicação e o esclarecimento das fórmulas doutrinais da Tradição sejam propostas tendo-se em conta a situação cultural e histórica dos destinatários, evitando sempre mutilações e falsificações dos conteúdos.
Processo metodológico
204. A catequese, ao mesmo tempo em que deve evitar toda e qualquer manipulação de uma cultura, também não pode limitar-se simplesmente à justaposição do Evangelho a esta, « de maneira decorativa », mas sim deverá propô-lo « de maneira vital, em profundidade » e isto até às suas raízes, à cultura e às culturas do homem. (174)
Isso determina um processo dinâmico, feito de diversos momentos que interagem entre si: esforçar-se por escutar, na cultura das pessoas, o eco (pressagio, invocação, sinal...) da Palavra de Deus; discernir aquilo que é autêntico valor evangélico ou, pelo menos, é aberto ao Evangelho daquilo que não o é; purificar o que está sob o sinal do pecado (paixões, estruturas do mal...) ou da fragilidade humana; penetrar nas pessoas, estimulando uma atitude de radical conversão a Deus, de diálogo com os demais e de paciente amadurecimento interno.
Necessidades e critérios de avaliação
205. Em fase de avaliação, tanto mais necessária quando se apresenta um caso de tentativa inicial eou de experimentação, dever-se-á observar com muito cuidado se no processo catequético se tenham infiltrado elementos de sincretismo. Em tal caso, as tentativas de inculturação seriam perigosas e errôneas, e deveriam ser corrigidas.
Em termos positivos, é correta aquela catequese que não apenas provoca uma assimilação intelectual do conteúdo da fé, mas também toca o coração e transforma a conduta. Deste modo, a catequese gera uma vida dinâmica e unificada da fé, preenche o abismo entre aquilo que se crê e aquilo que se vive, entre a mensagem cristã e o conteúdo cultural, estimula frutos de santidade.
Responsáveis pelo processo de inculturação
206. « A inculturação deve envolver todo o Povo de Deus, e não apenas alguns peritos, dado que o povo reflete aquele sentido da fé, que é necessário nunca perder de vista. Que ela seja guiada e estimulada, mas nunca forçada, para não provocar reações negativas nos cristãos: deve ser uma expressão da vida comunitária, ou seja, amadurecida no seio da comunidade, e não fruto exclusivo de investigações eruditas ». (175) O processo de encarnação do Evangelho, que é o objetivo específico da inculturação, exige uma participação, na catequese, por parte de todos aqueles que vivem no mesmo contexto cultural: o clero, os agentes pastorais (catequistas), o mundo dos leigos.
Formas e vias privilegiadas
207. Entre as formas mais apropriadas de inculturação da fé, é útil recordar a catequese dos jovens e dos adultos, pela possibilidade de correlacionar mais incisivamente fé e vida. A inculturação da fé não pode deixar de ser considerada na iniciação cristã das crianças, exatamente pelas notáveis implicações culturais de tal processo: aquisição de novas motivações de vida, educação da consciência, aprendizagem da linguagem bíblica e sacramental, conhecimento da importância histórica do cristianismo.
Uma via privilegiada é a catequese litúrgica, pela riqueza de sinais com que é expressa a mensagem e pela possibilidade de acesso que oferece, a grande parte do Povo de Deus; deve ser também revalorizados os conteúdos dos Lecionários, a estrutura do Ano Litúrgico, a homilia dominical e outras ocasiões de catequeses particularmente significativas (matrimônios, funerais, visitas aos enfermos, festas dos santos padroeiros, etc.); é central a atenção dispensada à família, agente primário da iniciação a uma transmissão encarnada da fé; reveste-se de peculiar interesse a catequese em situação multiétnica e multicultural, uma vez que leva ainda mais atentamente a descobrir e a considerar os recursos dos diversos grupos, no acolher e no expressar a fé recebida.
A linguagem (176)
208. A inculturação da fé, sob certos aspectos, é obra da linguagem. Isto faz com que a catequese respeite e valorize a linguagem própria da mensagem, antes de mais nada, a linguagem bíblica, mas também a linguagem histórico-tradicional da Igreja (Símbolo, liturgia) e a chamada linguagem doutrinal (fórmulas dogmáticas); além disso, é necessário que a catequese entre em comunicação com formas e termos próprios da cultura da pessoa à qual se dirige; enfim, é preciso que a catequese estimule novas expressões do Evangelho na cultura na qual este foi implantado.
No processo de inculturação do Evangelho, a catequese não deve ter receio de usar fórmulas tradicionais e termos técnicos da fé, mas oferecer o significado dos mesmos e mostrar o seu relevo existencial; e, por outro lado, é dever da catequese « encontrar uma linguagem adaptada às crianças, aos jovens do nosso tempo em geral e ainda a muitas outras categorias de pessoas: linguagem para os estudantes, para os intelectuais e para os homens da ciência; linguagem para os analfabetos e para as pessoas de cultura elementar; linguagem para os excepcionais, etc. (177)
Os meios de comunicação
209. Intrinsecamente ligados à linguagem são os modos da comunicação. Um dos mais eficazes e penetrantes é o dos mass media. « A evangelização da cultura moderna depende, em grande parte, da sua influência ». (178)
Remetendo ao que se afirma a esse respeito noutra parte, (179) recordam-se aqui alguns indicadores úteis para a inculturação: uma mais ampla valorização dos meios de comunicação, segundo a sua específica qualidade comunicativa, sabendo equilibrar devidamente a linguagem da imagem com a linguagem da palavra; a salvaguarda do senso religioso genuíno nas formas expressivas escolhidas; a promoção do amadurecimento crítico dos receptores e o estímulo ao aprofundamento pessoal do que foi captado através dos meios de comunicação; a produção de subsídios catequéticos para os mass media, congruentes com o objetivo; uma profícua colaboração entre agentes pastorais. (180)
210. Um instrumento considerado central no processo de inculturação é o Catecismo. Antes de mais nada, o Catecismo da Igreja Católica, cuja « vasta gama de serviços é preciso saber evidenciar... também em vista da inculturação, a qual, para ser eficaz. não pode jamais deixar de ser verdadeira ». (181)
O Catecismo da Igreja Católica requer expressamente a redação de Catecismos locais apropriados, nos quais possam ser atuadas as adaptações... exigidas pelas diferenças de culturas, de idades, da vida espiritual e das situações sociais e eclesiais daqueles a quema catequese é dirigida. (182)
Âmbitos antropológicos e tendências culturais
211. O Evangelho solicita uma catequese aberta, generosa e corajosa no alcançar as pessoas onde elas vivem, de modo particular encontrando aquelas encruzilhadas da existência onde se dão os intercâmbios culturais elementares e fundamentais, como a família, a escola, o ambiente de trabalho, o tempo livre.
Também é importante para a catequese saber distinguir e penetrar naqueles ambientes antropológicos nos quais as tendências culturais têm maior impacto, para a criação ou difusão de modelos de vida, tais como o mundo urbano, o fluxo turístico e migratório, o universo dos jovens e outros fenômenos socialmente relevantes...
Enfim « são outros tantos setores a serem iluminados pela luz do Evangelho » (183) aquelas áreas culturais que são denominadas « areópagos modernos », tais como a área da comunicação, a área dos esforços civis em favor da paz, o desenvolvimento, a libertação dos povos e a salvaguarda da criação; a área da defesa dos direitos das pessoas, sobretudo das minorias, da mulher e da criança; a área da pesquisa científica e das relações internacionais...
Intervenção nas situações concretas
212. O processo de inculturação operado pela catequese é chamado a confrontar-se continuamente com situações concretas múltiplas e diferentes. Pretendemos enumerar aqui algumas das mais relevantes e freqüentes.
Em primeiro lugar, é necessário distinguir a inculturação em países de recente origem cristã, onde o primeiro anúncio missionário deve ainda consolidar-se, e a inculturação em países de tradição cristã, que necessitam de uma nova evangelização.
É preciso levar em consideração, também, as situações expostas a tensões e conflitos em relação a fatores como o pluralismo étnico, o pluralismo religioso, as diferenças de desenvolvimento às vezes gritantes, a condição urbana e extra-urbana de vida, os sistemas dominantes de significado, os quais, em certos países, são influenciados pela maciça secularização, e em outros, por uma forte religiosidade.
Enfim, se buscará ter presente aquelas tendências culturalmente significativas no território, representadas pelas várias classes sociais e profissionais, tais como homens da ciência e da cultura, mundo operário, jovens, marginalizados, estrangeiros, excepcionais...
Em termos mais gerais, « a formação dos cristãos terá na máxima conta a cultura humana do lugar, a qual contribui para a própria formação e ajudará a avaliar tanto o valor inerente à cultura tradicional, como o proposto pela moderna. Dê-se a devida atenção também às várias culturas que possam coexistir num mesmo povo e numa mesma nação ». (184)
Tarefas das Igrejas locais (185)
213. A inculturação compete às Igrejas particulares e se refere a todos os âmbitos da vida cristã. A catequese é um desses aspectos. Exatamente pela natureza da inculturação, que acontece no concreto e na especificidade das situações, « uma legítima atenção para com as Igrejas particulares não pode senão vir a enriquecer a Igreja. Tal atenção, aliás, é indispensável e urgente ». (186)
Com este objetivo e de maneira muito oportuna, as Conferências dos Bispos dos diversos países do mundo, estão propondo Diretórios catequéticos (e instrumentos análogos), catecismos e subsídios, laboratórios e centros de formação. À luz do conteúdo expresso no presente Diretório, torna-se necessário operar uma revisão e uma atualização das diretrizes locais, estimulando o concurso dos centros de pesquisa, valendo-se da experiência dos catequistas e favorecendo a participação do próprio Povo de Deus.
Iniciativas guiadas
214. A importância do assunto e, por outro lado, a indispensável fase de pesquisa e de experimentação, exigem iniciativas guiadas pelos legítimos Pastores. Tais iniciativas são:
– favorecer uma catequese difusa e capilar, que sirva a superar, antes de mais nada, o grave obstáculo de toda inculturação que é a ignorância ou a má informação. Isso permite aquele diálogo e envolvimento direto das pessoas, que indicam melhor eficazes vias de anúncio;
– realizar experiências-piloto de inculturação da fé, no âmbito de um programa estabelecido pela Igreja. Em particular, assume um papel influente a prática do catecumenato dos adultos segundo o OICA;
– se na mesma área eclesial, existem múltiplos grupos étnicos e lingüísticos, é oportuno dispor de guias e Diretórios traduzidos nas diversas línguas, promovendo, através de centros catequéticos, um serviço catequético homogêneo a cada grupo;
– estabelecer um diálogo de recíproca escuta e de comunhão entre as Igrejas locais e entre estas e a Santa Sé. Isso permite verificar certas experiências, critérios, itinerários e instrumentos de trabalho para a inculturação, mais válidos e atualizados.

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