III PARTE
A PEDAGOGIA DA FÉ
A Pedagogia da fé
« Fui eu, contudo, quem ensinou Efraim a caminhar, eu os tomei em meus braços... Com vínculos humanos eu os atraía, com laços de amor eu era para eles como os que levantam uma criancinha contra o seu rosto, eu me inclinava para ele e o alimentava » (Os 11,3-4).« Quando ficaram sozinhos, os que estavam junto dele com os Doze o interrogaram sobre as parábolas. Dizia-lhes: « A vós foi dado o mistério do Reino de Deus... » « ...A seus discípulos, porém, explicava tudo em particular » (Mc 4,10.34).
« Só tendes um Mestre, o Cristo » (Mt 23,10)
137. Jesus cuidou atentamente da formação dos discípulos que enviou em missão. Propôs-Se a eles como único Mestre e, ao mesmo tempo, amigo paciente e fiel, (23) exerceu um real ensinamento mediante toda a sua vida, (24) estimulando-os com oportunas perguntas, (25) explicou-lhes de maneira aprofundada aquilo que anunciava à multidão, (26) introduziu-os na oração, (27) mandou-os fazer um tirocínio missionário, (28) primeiro prometeu e depois enviou o Espírito de seu Pai, para que os guiasse à verdade na sua totalidade, (29) e os amparou nos inevitáveis momentos difíceis. (30) Jesus Cristo é o « Mestre que revela Deus aos homens e revela o homem a si mesmo; o Mestre que salva, santifica e guia, que está vivo, fala, desperta, comove, corrige, julga, perdoa e marcha todos os dias conosco, pelos caminhos da história; o Mestre que vem e que há-de vir na glória ». (31) Em Jesus Senhor e Mestre, a Igreja encontra a graça transcendente, a inspiração permanente, o modelo convincente para toda comunicação da fé.
Significado e finalidade desta parte
138. Na escola de Jesus Mestre, o catequista une estreitamente a sua ação de pessoa responsável, com a ação misteriosa da graça de Deus. A catequese é, por isso, exercício de uma « pedagogia original da fé ».(32)
A transmissão do Evangelho através da Igreja é, antes de mais nada e sempre, obra do Espírito Santo, e tem na revelação, o testemunho e a norma fundamental (Capítulo I).
Mas o Espírito se vale de pessoas que recebem a missão do anúncio evangélico e cujas competências e experiências humanas entram na pedagogia da fé.
Daí nasce um conjunto de questões amplamente tocadas, na história da catequese, no que diz respeito ao ato catequético, às fontes, aos métodos, aos destinatários e ao processo de inculturação.
No segundo capítulo, não se pretende apresentar uma abordagem exaustiva, mas sim expor somente aqueles pontos que hoje se mostram como de particular importância para toda a Igreja. Caberá aos vários diretórios e aos outros instrumentos de trabalho das Igrejas particulares, afrontar os problemas específicos, de maneira apropriada.
I CAPÍTULO
A pedagogia de Deus, fonte e modelo da pedagogia da fé (33)
A pedagogia de Deus
139. « Deus vos trata como filhos. Ora, qual é o filho a quem seu pai não corrige? » (Hb 12,7). A salvação da pessoa, que é o fim da revelação, se manifesta como fruto também de uma original e eficaz « pedagogia de Deus » ao longo da história. Analogicamente ao uso humano e segundo as categorias culturais do tempo, Deus, na Escritura, é visto como um pai misericordioso, um mestre, um sábio(34) que assume a pessoa, indivíduo e comunidade, na condição em que se encontra, livra-a dos laços com o mal, a atrai a Si com vínculos de amor, faz com que ela cresça progressiva e pacientemente até à maturidade de filho livre, fiel e obediente à sua palavra. Com este objetivo, como educador genial e providente, Deus transforma os acontecimentos da vida do seu povo em lições de sabedoria, (35) adaptando-Se às diversas idades e situações de vida. A este Povo, confia palavras de instrução e catequese que são transmitidas de geração em geração, (36) adverte com a recordação do prêmio e do castigo, torna formativas as próprias provas e sofrimentos. (37) Verdadeiramente, fazer encontrar uma pessoa com Deus, que é tarefa do catequista, significa colocar no centro e fazer própria, a relação que Deus tem com a pessoa e deixar-se guiar por Ele.
A pedagogia de Cristo
140. Vinda a plenitude dos tempos, Deus mandou à humanidade Seu Filho, Jesus Cristo. Ele trouxe ao mundo o supremo dom da salvação, realizando a sua missão de redentor, no âmbito de um processo que continuava a « pedagogia de Deus » com a perfeição e a eficácia intrínsecas à novidade de sua pessoa. Das suas palavras, sinais e obras, ao longo de toda a sua breve mas intensa vida, os discípulos fizeram experiência direta das diretrizes fundamentais da « pedagogia de Jesus », indicando-as, depois, nos Evangelhos: o acolhimento do outro, em particular do pobre, da criança, do pecador, como pessoa amada e querida por Deus; o anúncio genuíno do Reino de Deus como boa nova da verdade e da consolação do Pai; um estilo de amor delicado e forte, que livra do mal e promove a vida; o convite premente a uma conduta amparada pela fé em Deus, pela esperança no reino e pela caridade para com o próximo; o emprego de todos os recursos da comunicação interpessoal tais como a palavra, o silêncio, a metáfora, a imagem, o exemplo e tantos sinais diversos, como o faziam os profetas bíblicos. Convidando os discípulos a segui-Lo totalmente e sem nostalgias, (38) Cristo entrega-lhes a sua pedagogia da fé como plena compartilha da sua causa e do seu destino.
A pedagogia da Igreja
141. Desde o princípio, a Igreja, que « é em Cristo como que um sacramento », (39) tem vivido a sua missão como prosseguimento visível e atual da pedagogia do Pai e do Filho. Ela, « sendo nossa Mãe, é também educadora da nossa fé ».(40)
São estas as razões profundas, pelas quais a comunidade cristã é, em si mesma, uma catequese viva. Por aquilo que é, anuncia e celebra, opera e permanece sempre o lugar vital, indispensável e primário da catequese.
A Igreja produziu, ao longo dos séculos, um incomparável tesouro de pedagogia da fé: antes de mais nada, o testemunho de catequistas e de santos. Uma variedade de vias e formas originais de comunicação religiosa, como o catecumenato, os catecismos, os itinerários de vida cristã; um precioso patrimônio de ensinamentos catequéticos, de cultura da fé, de instituições e de serviços da catequese. Todos estes aspectos fazem a história da catequese e entram, a pleno título, na memória da comunidade e na praxe do catequista.
A pedagogia divina, ação do Espírito Santo em todo cristão
142. « Feliz o homem a quem corriges, Iahweh, e a quem ensinas por meio de tua lei » (Sl 94,12). Na escola da Palavra de Deus acolhida na Igreja, graças ao dom do Espírito Santo enviado por Cristo, o discípulo cresce como o seu Mestre, « em sabedoria, em estatura e em graça diante de Deus e diante dos homens » (Lc 2,52) e é ajudado a desenvolver em si a « educação divina » recebida, mediante a catequese e os recursos da ciência e da experiência. (41) Deste modo, conhecendo sempre mais o mistério da salvação, aprendendo a adorar a Deus Pai e « vivendo na verdade segundo a caridade », procura crescer « em tudo em direção àquele que é a cabeça, Cristo » (Ef 4,15).
A pedagogia de Deus pode-se dizer realizada quando o discípulo atinge « o estado de Homem Perfeito, à medida da estatura da plenitude de Cristo » (Ef 4,13). Por isso, não se pode ser mestres e pedagogos da fé alheia, se não se é discípulo convicto e fiel a Cristo na Sua Igreja.
Pedagogia divina e catequese
143. A catequese, enquanto comunicação da divina revelação, inspira-se radicalmente na pedagogia de Deus como se desvela em Cristo e na Igreja, acolhe os seus parâmetros constitutivos e, sob a guia do Espírito Santo, faz uma sábia síntese da mesma, favorecendo assim, uma verdadeira experiência de fé, um encontro filial com Deus. Deste modo, a catequese:
– é uma pedagogia que se insere no « diálogo de salvação » entre Deus e a pessoa e, além de servir a este diálogo, ressalta devidamente a destinação universal de tal salvação; no que diz respeito a Deus, sublinha a iniciativa divina, a motivação amorosa, a gratuidade, o respeito pela liberdade; no que diz respeito ao homem, evidencia a dignidade do dom recebido e a exigência de crescer continuamente neste; (42)
– aceita o princípio da progressividade da Revelação, a transcendência e a conotação misteriosa da Palavra de Deus, assim como também a sua adaptação às diversas pessoas e culturas;
– reconhece a centralidade de Jesus Cristo, Palavra de Deus feita homem, que determina a catequese como « pedagogia da encarnação », razão pela qual o Evangelho deve ser proposto sempre para a vida e na vida das pessoas;
– valoriza a experiência comunitária da fé, própria do Povo de Deus, da Igreja;
– radica-se na relação interpessoal e faz próprio o processo de diálogo;
– faz-se pedagogia de sinais, onde se entrelaçam fatos e palavras, ensinamento e experiência; (43)
– sendo o amor de Deus a razão última da sua revelação, é do inexaurível amor divino, que é o Espírito Santo, que a catequese recebe a sua força de verdade e o constante empenho de dar testemunho do mesmo. (44)
A catequese configura-se assim, como processo, itinerário ou caminho na seqüela do Cristo do Evangelho, no Espírito, rumo ao Pai, caminho este empreendido para alcançar a maturidade da fé « pela medida do dom de Cristo » (Ef 4,7) e as possibilidades e as necessidades de cada um.
Pedagogia original da fé (45)
144. A catequese, que é portanto pedagogia da fé em ato, ao realizar as suas tarefas, não pode deixar-se inspirar por considerações ideológicas, ou por interesses puramente humanos, (46) não confunde o agir salvífico de Deus, que é pura graça, com o agir pedagógico do homem, nem tampouco os contrapõe e separa. É o diálogo que Deus vai tecendo amorosamente com cada pessoa, que se torna sua inspiração e sua norma; dele, a catequese se torna « eco » incansável, buscando continuamente o diálogo com as pessoas, segundo as grandes indicações oferecidas pelo Magistério da Igreja. (47)
Objetivos precisos que inspiram as suas escolhas metodológicas são:
– promover uma progressiva e coerente síntese entre a plena adesão do homem a Deus (fides qua) e os conteúdos da mensagem cristã (fides quae);
– desenvolver todas as dimensões da fé, razão pela qual esta se traduz em fé conhecida, celebrada. vivida e rezada; (48)
– impulsionar a pessoa a se entregar « livre e totalmente a Deus »: (49) inteligência, vontade, coração, memória;
– ajudar a pessoa a distinguir a vocação à qual o Senhor a chama.
A catequese realiza assim, uma obra de iniciação, de educação e de ensinamento ao mesmo tempo.
Fidelidade a Deus e fidelidade à pessoa (50)
145. Jesus Cristo é a viva e perfeita relação de Deus com o homem e do homem com Deus. D'Ele, a pedagogia da fé recebe uma « lei que é fundamental para toda a vida da Igreja » e, portanto, da catequese: « a lei da fidelidade a Deus e da fidelidade ao homem, numa única atitude de amor ». (51)
Será, portanto, genuína, aquela catequese que ajudar a perceber a ação de Deus ao longo do caminho formativo, favorecendo um clima de escuta, de ação de graças e de oração (52) e, ao mesmo tempo, visar a livre resposta das pessoas, promovendo a participação ativa dos catequizandos.
A « condescendência de Deus »,(53) escola para a pessoa
146. Querendo falar aos homens como a amigos, (54) Deus manifesta a sua pedagogia, de modo particular, adaptando com solícita providência, a sua Palavra à nossa condição terrena. (55)
Isso comporta, para a catequese, a tarefa jamais concluída de encontrar uma linguagem capaz de comunicar a palavra de Deus e o Credo da Igreja, que é o seu desenvolvimento, nas variadas condições dos ouvintes, (56) mantendo, ao mesmo tempo, a certeza de que, por graça de Deus, isso pode ser feito, e que o Espírito Santo dá a alegria de fazê-lo.
Por isso, indicações pedagógicas adequadas à catequese são aquelas que permitem comunicar a totalidade da Palavra de Deus no coração da existência das pessoas. (57)
Evangelizar educando e educar evangelizando (58)
147. Inspirando-se continuamente na pedagogia da fé, o catequista configura o seu serviço como qualificado caminho educativo, ou seja, de um lado ajuda a pessoa a se abrir à dimensão religiosa da vida, e, por outro lado, propõe o Evangelho a essa mesma pessoa, de tal maneira que ele penetre e transforme os processos de inteligência, de consciência, de liberdade e de ação, de modo a fazer da existência um dom de si a exemplo de Jesus Cristo.
Com este objetivo, o catequista conhece e se vale da contribuição das ciências da educação, cristãmente compreendidas.
II CAPÍTULO
Elementos de metodologia
A diversidade de métodos na catequese (59)
148. Na transmissão da fé, a Igreja não possui um método próprio, nem um método único, mas sim, à luz da pedagogia de Deus, discerne os métodos do tempo, assume com liberdade de espírito « tudo o que é verdadeiro, nobre, justo, puro, amável, honroso, virtuoso ou que de qualquer modo mereça louvor » (Fl 4,8), em síntese, todos os elementos que não estão em contraste com o Evangelho, e os coloca a serviço deste. Admirável confirmação disso encontra-se na história da Igreja, onde tantos carismas de serviço da Palavra geraram variados percursos metodológicos. Desta forma, « a variedade dos métodos é um sinal de vida e uma riqueza », e, ao mesmo tempo, uma demonstração de respeito pelos destinatários. Tal variedade é exigida pela « idade e pelo desenvolvimento intelectual dos cristãos, pelo seu grau de maturidade eclesial e espiritual e por muitas outras circunstâncias pessoais ». (60)
A metodologia catequética tem como objetivo unitário, a educação para a fé; vale-se das ciências pedagógicas e da comunicação, aplicadas à catequese; leva em consideração as numerosas e notáveis aquisições da catequética contemporânea.
A relação conteúdo-método na catequese (61)
149. O princípio da « fidelidade a Deus e fidelidade ao homem » leva a evitar toda contraposição ou separação artificial, ou ainda presumível neutralidade entre método e conteúdo, afirmando, pelo contrário, a sua necessária correlação e interação. O catequista reconhece que o método está a serviço da revelação e da conversão (62) e, portanto, é necessário valer-se dele. Por outro lado, o catequista sabe que o conteúdo da catequese não é indiferente a qualquer método, mas sim exige um processo de transmissão adequado à natureza da mensagem, às suas fontes e linguagens, às concretas circunstâncias da comunidade eclesial, à condição de cada um dos fiéis aos quais a catequese se dirige.
Pela intrínseca importância tanto na tradição quanto na atualidade catequética, merecem ser recordados os métodos de aproximação à Bíblia, (63) o método ou « pedagogia do documento », do Símbolo em particular, uma vez que « a catequese é transmissão dos documentos da fé », (64) o método dos sinais litúrgicos e eclesiais, o método próprio dos meios de comunicação. Um bom método catequético é garantia de fidelidade ao conteúdo.
Método indutivo e dedutivo (65)
150. A comunicação da fé na catequese é um evento de graça, realizado pelo encontro da Palavra de Deus com a experiência da pessoa, se exprime através de sinais sensíveis e, finalmente, abre ao mistério. Pode realizar-se por vias diversas, nem sempre completamente conhecidas por nós.
De acordo com a história da catequese, hoje se fala comumente de via indutiva e dedutiva. O método indutivo consiste na apresentação de fatos (eventos bíblicos, atos litúrgicos, eventos da vida da Igreja e da vida cotidiana...) com o objetivo de discernir o significado que eles podem ter na revelação divina. É uma via que oferece grandes vantagens, porque é conforme à economia da revelação; corresponde a uma profunda instância do espírito humano, de chegar ao conhecimento das coisas inteligíveis através das coisas visíveis; e é, também, conforme às características do conhecimento da fé, que é conhecimento através dos sinais.
O método indutivo não exclui, antes pelo contrário, exige o método dedutivo, que explica e descreve os fatos, a partir de suas causas. Mas a síntese dedutiva terá pleno valor somente quando tiver sido realizado o processo indutivo. (66)
151. Outro é o sentido a ser dado, quando nos referimos aos percursos operativos: um é chamado também « kerigmático » (ou descendente), quando parte do anúncio da mensagem, expressa nos principais documentos da fé (Bíblia, liturgia, doutrina...), e a aplica à vida; o outro, chamado « existencial » (ou ascendente), quando se move a partir de problemas e situações humanas e os ilumina com a luz da Palavra de Deus. De per si, são processos legítimos, se forem respeitadas todas as regras do jogo, o mistério da graça e o dado humano, a compreensão da fé e o processo de racionalidade.
A experiência humana na catequese (67)
152. A experiência desempenha diversas funções na catequese, razão pela qual deve ser continuamente e devidamente valorizada.
a) Faz nascer no homem interesses, interrogações, esperanças e ansiedade, reflexões e julgamentos que confluem num certo desejo de transformar a existência. A tarefa da catequese é tornar as pessoas atentas às suas mais importantes experiências, ajudá-las a julgar, à luz do Evangelho, as questões e necessidades que nascem dessas experiências, educá-las a uma nova impostação da vida. Desse modo, a pessoa será capaz de comportar-se de modo ativo e responsável diante do dom de Deus.
b) A experiência favorece a inteligibilidade da mensagem cristã. Isso bem corresponde ao modo de agir de Jesus, que se serviu de experiências e situações humanas para mostrar realidades escatológicas e transcendentes e, ao mesmo tempo, ensinar a atitude a ser assumida diante dessas realidades. Sob este aspecto, a experiência é mediação necessária para explorar e assimilar as verdades que constituem o conteúdo objetivo da revelação.
c) As funções agora expostas ensinam que a experiência assumida pela fé torna-se, de certo modo, âmbito de manifestação e de realização da salvação, onde Deus, coerentemente com a pedagogia da encarnação, alcança o homem com a sua graça e o salva. O catequista deve ajudar a pessoa a ler nesta ótica a própria vivência, para descobrir o convite do Espírito Santo à conversão, ao compromisso, à esperança, e assim descobrir sempre mais o projeto de Deus na própria vida.
153. Iluminar e interpretar a experiência com o dado da fé torna-se uma tarefa estável da pedagogia catequética, não isenta de dificuldades, mas que não pode ser transcurada, sob pena de se cair em justaposições artificiais ou em compreensões integristas da verdade.
Isso se torna possível a partir de uma correta aplicação da correlação ou interação entre experiências humanas profundas (68) e a mensagem revelada. É o que amplamente nos testemunham o anúncio dos profetas, a pregação de Cristo e o ensinamento dos Apóstolos que, por isso, constituem o critério que alicerça e regulamenta cada encontro entre fé e experiência humana no tempo da Igreja.
A memorização na catequese (69)
154. A catequese faz parte daquela « Memória » da Igreja, que mantém viva entre nós a presença do Senhor. (70) O exercício da memória constitui, portanto, um aspecto constitutivo da pedagogia da fé, desde os primórdios do cristianismo. Para superar os riscos de uma memorização mecânica, a aprendizagem mnemônica deve inserir-se harmoniosamente entre as diversas funções de aprendizagem, tais como a reação espontânea e a reflexão, o momento do diálogo e do silêncio, a relação oral e o trabalho escrito.(71)
Em particular, como objeto de memorização, devem ser oportunamente consideradas as principais fórmulas da fé, porque asseguram uma mais precisa exposição da mesma e garantem um precioso patrimônio comum doutrinal, cultural e lingüístico. O domínio seguro da linguagem da fé é condição indispensável para viver essa mesma fé.
É preciso, porém, que tais fórmulas sejam propostas como síntese, após um prévio caminho de explicação, que sejam fiéis à mensagem cristã. Aqui se situam algumas fórmulas maiores e textos da Bíblia, do dogma, da liturgia, as orações bem conhecidas pela tradição cristã (Símbolo Apostólico, Pai Nosso, Ave Maria...).(72)
« As flores da fé e da piedade, se assim se pode dizer, não nascem nas zonas desertas de uma catequese sem memória. O essencial é que estes textos memorizados sejam, ao mesmo tempo, interiorizados, e compreendidos pouco a pouco na sua profundidade, para se tornarem fonte de vida cristã pessoal e comunitária ». (73)
155. Ainda mais profundamente, a aprendizagem das fórmulas da fé e a sua profissão crente devem ser compreendidas no curso do tradicional e profícuo exercício da « traditio » e «redditio », pelo qual à entrega da fé na catequese (traditio) corresponde a resposta do destinatário da catequese, ao longo do caminho catequético e, depois, na vida (redditio). (74)
Este processo favorece uma melhor participação na verdade recebida. É correta e madura aquela resposta pessoal que respeita plenamente o sentido genuíno do dado de fé, e mostra compreender a linguagem usada para expressá-lo (bíblica, litúrgica, doutrinal...).
Papel do catequista (75)
156. Nenhuma metodologia, por quanto possa ser experimentada, dispensa a pessoa do catequista em cada uma das fases do processo de catequese.
O carisma que lhe é dado pelo Espírito, uma sólida espiritualidade e um transparente testemunho de vida constituem a alma de todo método, e somente as próprias qualidades humanas e cristãs garantem o bom uso dos textos e de outros instrumentos de trabalho.
O catequista é, intrinsecamente, um mediador que facilita a comunicação entre as pessoas e o mistério de Deus, e dos sujeitos entre si e com a comunidade. Por isso, deve empenhar-se a fim de que a sua visão cultural, condição social e estilo de vida não representem um obstáculo ao caminho da fé, criando sobretudo as condições mais apropriadas para que a mensagem cristã seja buscada, acolhida e aprofundada.
O catequista não esquece que a adesão crente das pessoas é fruto da graça e da liberdade e, portanto, faz com que sua atividade seja sempre amparada pela fé no Espírito Santo e pela oração.
Enfim, de substancial importância é a relação pessoal do catequista com o destinatário da catequese. Tal relação se nutre de paixão educativa, de engenhosa criatividade, de adaptação e, ao mesmo tempo, de máximo respeito pela liberdade e amadurecimento da pessoa.
Em razão do seu sábio acompanhamento, o catequista realiza um dos mais preciosos serviços da ação catequética: ajuda os destinatários da catequese a distinguirem a vocação para a qual Deus os chama.
A atividade e criatividade dos catequizados (76)
157. A participação ativa daqueles que são catequizados, no seu próprio processo formativo, é plenamente conforme, não apenas à genuína comunicação humana, mas especificamente à economia da revelação e da salvação. De fato, no estado ordinário da vida cristã, os crentes são chamados a responder ativamente ao dom de Deus, individualmente e em grupo, através da oração, da participação nos sacramentos e nas demais ações litúrgicas, no empenho eclesial e social, no exercício da caridade, da promoção dos grandes valores humanos, tais como a liberdade, a justiça, a paz e a salvaguarda da criação.
Na catequese, portanto, os destinatários da catequese assumem o empenho de exercitar-se na atividade da fé, da esperança e da caridade, de adquirir a capacidade e retidão de julgamento, de reforçar a decisão pessoal de conversão e de prática cristã da vida.
Os próprios destinatários da catequese, sobretudo quando se trata de adultos, podem contribuir eficazmente para o desenvolvimento da catequese, indicando as vias mais eficazes de compreensão e expressão da mensagem, tais como: « o aprender fazendo », o emprego da pesquisa e do diálogo, o intercâmbio e o confronto de pontos de vista.
Comunidade, pessoa e catequese (77)
158. A pedagogia catequética torna-se eficaz, à medida que a comunidade cristã se torna referência concreta e exemplar para o caminho de fé dos indivíduos. Isso ocorre se a comunidade se propõe como fonte, lugar e meta da catequese. Concretamente, então, a comunidade se torna lugar visível de testemunho de fé, provê à formação de seus membros, acolhe-os como família de Deus, constituindo-se ambiente vital e permanente de crescimento da fé. (78)
Junto ao anúncio do Evangelho de forma pública e coletiva, permanece sempre indispensável o contato de pessoa a pessoa, a exemplo de Jesus e dos Apóstolos. De tal maneira, é mais facilmente envolvida a consciência pessoal, e o dom da fé, como é próprio da ação do Espírito Santo, chega ao sujeito de pessoa a pessoa, e a força de persuasão se faz mais incisiva. (79)
A importância do grupo (80)
159. O grupo tem uma importante função nos processos de desenvolvimento das pessoas. Isto vale também tanto para a catequese das crianças, favorecendo a boa socialização das mesmas, quanto para a catequese dos jovens, para os quais o grupo constitui quase uma necessidade vital na formação da sua personalidade, e até mesmo para os adultos entre os quais se promove um estilo de diálogo, de compartilha e de co-responsabilidade cristã.
O catequista, que participa da vida do grupo e sente e valoriza a sua dinâmica, reconhece e atua, como sua tarefa primária e específica, a de ser, em nome da Igreja, testemunha ativa do Evangelho, capaz de participar aos outros os frutos da sua fé madura e de estimular, com inteligência, a busca comum.
Além de ser um fator didático, o grupo cristão é chamado a ser experiência de comunidade e forma de participação à vida eclesial, encontrando na mais ampla comunidade eucarística, a sua meta e a sua plena manifestação. Jesus disse: « Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali estou eu no meio deles » (Mt 18,20).
A comunicação social (81)
160. « O primeiro areópago dos tempos modernos é o mundo das comunicações que está unificando a humanidade... Os meios de comunicação social alcançaram tamanha importância que são para muitos o principal instrumento de informação e formação, de guia e inspiração dos comportamentos individuais, familiares e sociais ». (82) Por isso, além dos numerosos meios tradicionais em uso, « a utilização dos meios de comunicação social tornou-se essencial à evangelização e à catequese ».(83) De fato, « a Igreja viria a sentir-se culpável diante do seu Senhor, se ela não lançasse mão destes meios potentes que a inteligência humana torna cada dia mais aperfeiçoados. (...) Neles ela encontra uma versão moderna e eficaz do púlpito. Graças a eles, ela consegue falar à multidões ». (84)
São considerados tais, embora a título diferente: televisão, rádio, imprensa, discos, fitas magnéticas, vídeo e audio-cassetes, CDs, enfim, todos os meios audiovisuais. (85) Cada um desses meios desempenha um próprio serviço e cada um deles requer um uso específico; é preciso respeitar as exigências e avaliar a importância de cada um.(86) Numa catequese bem programada, tais subsídios não podem, portanto, ser omitidos. Favorecer uma ajuda recíproca entre as Igrejas, para suprir os custos de aquisição e de gestão de tais meios, custos estes, às vezes muito elevados, é um verdadeiro serviço à causa do Evangelho.
161. O bom uso dos meios de comunicação social requer dos agentes da catequese, um sério empenho de conhecimento, de competência e de qualificado e atualizado emprego. Mas, sobretudo, pela forte incidência sobre a cultura que os meios de comunicação social contribuem a elaborar, não se deve jamais esquecer que « não é suficiente, portanto, usá-los para difundir a mensagem cristã e o Magistério da Igreja, mas é necessário integrar a mensagem nesta « nova cultura », criada pelas modernas comunicações... com novas linguagens, novas técnicas, novas atitudes psicológicas ».(87) Somente assim, com a graça de Deus, a mensagem evangélica tem a capacidade de penetrar na consciência de cada um e de « obter a próprio favor, uma adesão e um compromisso realmente pessoal ». (88)
162. Os operadores e os usuários da comunicação devem poder receber a graça do Evangelho. Isso leva os catequistas a considerarem particulares categorias de pessoas: os próprios profissionais dos meios de comunicação social, aos quais mostrar o Evangelho como grande horizonte de verdade, de responsabilidade, de inspiração; as famílias — tão expostas às influências dos meios de comunicação — para a sua defesa, mas sobretudo em vista de uma maior capacidade crítica e educativa; (89) as jovens gerações, que são as usuárias dos meios de comunicação social, além de serem seus sujeitos criativos. Recorde-se a todos que « no uso e na recepção dos instrumentos decomunicação, tornam-se urgentes tanto uma ação educativa em vista do senso crítico, animado pela paixão à verdade, quanto uma ação de defesa da liberdade, do respeito pela dignidade pessoal, da elevação da autêntica cultura dos povos ». (90)
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