terça-feira, 27 de janeiro de 2009

DIRETÓRIO GERAL DA CATEQUESE

EXPOSIÇÃO INTRODUTIVA
O anúncio do Evangelho no mundo contemporâneo
« Escutai: Eis que o semeador saiu a semear. E ao semear, uma parte da semente caiu à beira do caminho, e vieram as aves e a comeram.Outra parte caiu no solo pedregoso e, não havendo terra bastante, nasceu logo, porque não havia terra profunda, mas, ao surgir do sol, queimou-se e, por não ter raiz, secou.Outra parte caiu entre os espinhos; os espinhos cresceram e a sufocaram, e não deu fruto.Outras caíram em terra boa e produziram fruto, crescendo e se desenvolvendo, e uma produziu trinta, outra sessenta e outra cem por cento » (Mc 4,3-8).
14. Esta exposição introdutiva pretende estimular os pastores e os agentes da catequese a tomarem consciência da necessidade de olhar sempre para o campo semeado, e a fazê-lo a partir de uma perspectiva de fé e de misericórdia. A interpretação do mundo contemporâneo, aqui apresentada, tem, obviamente, um caráter de provisoriedade, próprio da contingência histórica.
« Saiu o semeador a semear » (Mc 4,3)
15. Esta parábola é fonte inspiradora para a evangelização. « A semente é a palavra de Deus » (Lc 8,11). O semeador é Jesus Cristo. Ele anunciou o Evangelho na Palestina há dois mil anos e enviou os seus discípulos a semeá-lo pelo mundo. Jesus Cristo hoje, presente na Igreja por meio do Seu Espírito, continua a divulgar amplamente a palavra do Pai no campo do mundo.
A qualidade do terreno é sempre muito variada. O Evangelho cai « à beira do caminho » (Mc 4,4), quando não é realmente escutado; cai « em solo pedregoso » (Mc 4,5), sem penetrar profundamente na terra; ou « entre os espinhos » (Mc 4,7), e é imediatamente sufocado no coração dos homens, distraídos por muitas preocupações. Mas uma parte cai « em terra boa » (Mc 4,8), isto é, em homens e mulheres abertos à relação pessoal com Deus e solidários com o próximo, e produz frutos abundantes.
Jesus, na parábola, comunica a boa notícia de que o Reino de Deus chega, não obstante as dificuldades do terreno, as tensões, os conflitos e os problemas do mundo. A semente do Evangelho fecunda a história dos homens e preanuncia uma colheita abundante. Jesus faz também uma advertência: somente no coração bem disposto a palavra de Deus germina.
Um olhar ao mundo, a partir da fé
16. A Igreja continua a semear o Evangelho de Jesus no grande campo de Deus. Os cristãos, inseridos nos mais variados contextos sociais, olham o mundo com os mesmos olhos com que Jesus contemplava a sociedade do seu tempo. O discípulo de Jesus Cristo, de fato, participa, de seu interior, « das alegrias e das esperanças, das tristezas e das angústias dos homens de hoje »,(12) olha para a história humana, participa dela, não apenas com a razão, mas também com a fé. À luz desta, o mundo se mostra ao mesmo tempo « criado e conservado pelo amor do Criador, reduzido à servidão do pecado, e libertado por Cristo crucificado e ressuscitado, com a derrota do Maligno... ».(13)
O cristão sabe que a cada realidade e evento humano subjazem ao mesmo tempo:
– a ação criadora de Deus, que comunica a cada ser a sua bondade;
– a força que deriva do pecado, o qual limita e entorpece o homem;
– o dinamismo que nasce da Páscoa de Cristo, qual germe de renovação que confere ao crente a esperança de uma « consumação »(14) definitiva.
Um olhar ao mundo, que prescindisse de um desses três aspectos, não seria autenticamente cristão. É importante, portanto, que a catequese saiba iniciar os catecúmenos e os catequizandos a uma « leitura teológica dos problemas modernos ».(15)
O campo do mundo
17. Mãe dos homens, a Igreja, antes de mais nada, vê, com profunda dor, « uma multidão inumerável de homens e de mu-
lheres, crianças, adultos e anciãos, isto é, de pessoas humanas concretas e irrepetíveis, que sofrem sob o peso intolerável da miséria ».(16) Por meio da catequese, na qual o ensinamento social da Igreja ocupe o seu lugar,(17) ela deseja suscitar no coração dos cristãos « o empenho pela justiça »(18) e a « opção ou amor preferencial pelos pobres »,(19) de modo que a sua presença seja realmente luz que ilumina e sal que transforma.
Os direitos humanos
18. A Igreja, ao analisar o campo do mundo, é muito sensível a tudo aquilo que ofende a dignidade da pessoa humana. Ela sabe que desta dignidade nascem os direitos humanos,(20) objeto constante da preocupação e do empenho dos cristãos. Por isso, o seu olhar não abrange somente os indicadores econômicos e sociais,(21) mas também, sobretudo, os culturais e religiosos. O que ela busca é o progresso integral das pessoas e dos povos.(22)
A Igreja percebe, com alegria, que « uma corrente benéfica já se alastra e permeia todos os povos da terra, tornando-os cada vez mais conscientes da dignidade do homem ».(23) Esta consciência se exprime na viva preocupação pelo respeito dos direitos humanos e no mais decidido rechaço de suas violações. O direito à vida, ao trabalho, à educação, à criação de uma família, à participação na vida pública e à liberdade religiosa são hoje particularmente reivindicados.
19. Em numerosos lugares, todavia, e em aparente contradição com a sensibilidade pela dignidade da pessoa, os direitos humanos são claramente violados.(24) Dessa maneira, alimentam-se outras formas de pobreza, que não se colocam no plano material: trata-se de uma pobreza cultural e religiosa, que preocupa igualmente
a comunidade eclesial. A negação ou a limitação dos direitos humanos, de fato, empobrece a pessoa e os povos, tanto ou mais do que a privação dos bens materiais.(25)
A obra evangelizadora da Igreja, neste vasto campo dos direitos humanos, tem uma tarefa irrenunciável: promover a descoberta da dignidade inviolável de cada pessoa humana. « Em certo sentido, é a tarefa central e unificadora do serviço que a Igreja, e nela os fiéis leigos, são chamados a prestar à família dos homens ».(26) A catequese deve prepará-los para esta tarefa.
A cultura e as culturas
20. O semeador sabe que a semente penetra em terrenos concretos e tem necessidade de absorver todos os elementos necessários para frutificar.(27) Sabe também que, às vezes, alguns desses elementos podem prejudicar a germinação e a colheita.
A Constituição Gaudium et Spes sublinha a grande importância da ciência e da técnica na gestação e no desenvolvimento da cultura moderna. A mentalidade científica que delas emana, « modifica profundamente a cultura e os modos de pensamento », (28) com grandes repercussões humanas e religiosas. A racionalidade científica e experimental é profundamente enraizada no homem de hoje.
Todavia, a consciência de que este tipo de racionalidade não pode explicar todas as coisas, ganha sempre mais terreno. Os próprios homens da ciência constatam que, paralelamente ao rigor da experimentação, é necessário outro tipo de saber, para poder compreender em profundidade o ser humano. A reflexão filosófica sobre a linguagem mostra, por exemplo, que o pensamento simbólico é uma forma de acesso ao mistério da pessoa humana, contrariamente inacessível. Torna-se indispensável assim, uma racionalidade que não cinda o ser humano, que integre a sua afetividade, que o unifique, dando um sentido mais pleno à sua vida.
21. Juntamente com esta « forma mais universal de cultura »,(29) hoje se constata também um desejo crescente de revalorizar as culturas autóctones. A pergunta do Concílio é viva ainda: « Como se deve favorecer o dinamismo e a expansão duma nova cultura, sem que pereça a fidelidade viva para com a herança das tradições? ».(30)
– Em muitos lugares, se toma viva consciência de que as culturas tradicionais são agredidas por influências externas dominantes e por imitações alienantes de formas de vida importadas. Corroem-se assim, gradualmente, a identidade e os valores próprios dos povos.
– Constata-se também a enorme influência dos meios de comunicação, os quais, muitas vezes, em virtude de interesses econômicos ou ideológicos, impõem uma visão da vida que não respeita a fisionomia cultural dos povos aos quais se dirigem.
A evangelização encontra assim, na inculturação, um de seus maiores desafios. A Igreja, à luz do Evangelho, deve assumir todos os valores positivos da cultura e das culturas (31) e rejeitar aqueles elementos que impedem as pessoas e os povos de alcançarem o desenvolvimento de suas autênticas potencialidades.
A situação religiosa e moral
22. Entre os elementos que compõem o patrimônio cultural de um povo, o fator religioso-moral tem, para o semeador, um particular relevo. Na cultura atual existe uma persistente difusão da indiferença religiosa: « Muitos de nossos contemporâneos ... não percebem de modo algum esta união íntima e vital com Deus ou explicitamente a rejeitam ».(32)
O ateísmo, como negação de Deus, « conta entre os gravíssimos problemas de nosso tempo ».(33) Ele adota formas diversas, mas aparece hoje especialmente sob a forma do secularismo, que consiste numa visão autonomista do homem e do mundo « segundo a qual esse mundo se explicaria por si mesmo, sem ser necessário recorrer a Deus ».(34) No âmbito especificamente religioso, existem sinais de um « retorno ao sagrado »,(35) de uma nova sede de realidades transcendentes e divinas. O mundo atual atesta, de modo mais amplo e vital, « o despertar da procura religiosa ».(36) Certamente este fenômeno « não deixa de ser ambíguo ».(37) O amplo desenvolvimento das seitas e de novos movimentos religiosos e o redespertar do « fundamentalismo »(38) são dados que interpelam seriamente a Igreja e que devem ser atentamente analisados.
23. A atual situação moral procede de pari passu com a religiosa. Efetivamente, percebe-se um obscurecimento da verdade ontológica da pessoa humana. E isto acontece como se a rejeição de Deus quisesse significar a ruptura interior das aspirações do ser humano.(39) Assiste-se, assim, em muitos lugares, a um « relativismo ético que tira à convivência civil qualquer ponto seguro de referência moral ».(40)
A evangelização encontra no terreno religioso-moral um ambiente de atuação privilegiado. A missão primordial da Igreja, de fato, é anunciar Deus, testemunhá-Lo diante do mundo. Trata-se de fazer conhecer as verdadeiras feições de Deus e o Seu desígnio de amor e de salvação em favor dos homens, assim como Jesus o revelou.
Para preparar tais testemunhos, é necessário que a Igreja desenvolva uma catequese que propicie o encontro com Deus e fortaleça um vínculo permanente de comunhão com Ele.
A Igreja no campo do mundo
A fé dos cristãos
24. Os discípulos de Jesus estão imersos no mundo como o fermento mas, como em todos os tempos, não estão imunes de sofrer a influência das situações humanas.
É, por isso, necessário, interrogar-se sobre a atual situação da fé dos cristãos.
A renovação catequética, desenvolvida na Igreja durante as últimas décadas, está dando frutos muito positivos.(41) A catequese das crianças, dos jovens e dos adultos, nesses anos, deu origem a uma tipologia de cristão verdadeiramente consciente de sua fé e coerente com esta em sua vida. De fato, favoreceu neles:
– uma nova experiência vital de Deus, como Pai misericordioso;
– uma redescoberta mais profunda de Jesus Cristo, não apenas na sua divindade, mas também na sua verdadeira humanidade;
– o sentir-se, todos, co-responsáveis pela missão da Igreja no mundo;
– a tomada de consciência das exigências sociais da fé.
25. Todavia, diante do atual panorama religioso, os filhos da Igreja devem se examinar: « em que medida são tocados, também eles, pela atmosfera de secularismo e de relativismo ético? ».(42)
Uma primeira categoria configura-se naquela « multidão de homens que receberam o Batismo, mas vivem fora de toda a vida cristã ».(43) Trata-se, de fato, de uma multidão de cristãos « não praticantes », (44) ainda que, no fundo do coração de muitos, o sentimento religioso não tenha desaparecido de todo. Redespertá-los para a fé é um verdadeiro desafio para a Igreja.
Além desses, há ainda as « pessoas simples »,(45) que se exprimem, às vezes, com sentimentos religiosos muito sinceros e com uma « religiosidade popular » (46) muito enraizada. Possuem uma certa fé, mas « conhecem mal os fundamentos dessa mesma fé ».(47) Além disso, existem também numerosos cristãos, muito cultos, mas com uma formação religiosa recebida apenas na infância, e que necessitam reposicionar e amadurecer a sua fé « sob uma luz diversa ».(48)
26. Não falta, além disso, um certo número de cristãos batizados que, infelizmente, escondem a própria identidade cristã, ou por causa de uma errônea forma de diálogo inter-religioso ou por uma certa reticência em testemunhar a própria fé em Jesus Cristo na sociedade contemporânea.
Estas situações da fé dos cristãos reclamam do semeador, com urgência, o desenvolvimento de uma nova evangelização,(49) sobretudo naquelas Igrejas de antiga tradição cristã, onde o secularismo penetrou mais. Nesta nova situação necessitada de evangelização, o anúncio missionário e a catequese, sobretudo aos jovens e aos adultos, constituem uma clara prioridade.
A vida interna da comunidade eclesial
27. É importante considerar também a própria vida da comunidade eclesial, a sua íntima qualidade.
Uma primeira consideração é descobrir como, na Igreja, tenha sido acolhido e tenha dado frutos o Concílio Vaticano II. Os grandes documentos conciliares não permaneceram letra morta: constatam-se os seus efeitos. As quatro constituições — Sacrosanctum Concilium, Lumen Gentium, Dei Verbum e Gaudium et Spes — fecundaram a Igreja. De fato:
– A vida litúrgica é compreendida mais profundamente como fonte e vértice da vida eclesial;
– O povo de Deus adquiriu uma consciência mais viva do « sacerdócio comum », (50) radicado no Batismo. Ao mesmo tempo, redescobre sempre mais a vocação universal à santidade e um sentido mais profundo do serviço à caridade.
– A comunidade eclesial adquiriu um sentido mais vivo da Palavra de Deus. A Sagrada Escritura, por exemplo, é lida, saboreada e meditada de modo mais intenso.
– A missão da Igreja no mundo é sentida de maneira nova. Com base numa renovação interior, o Concílio abriu os católicos à exigência de uma evangelização ligada necessariamente com a promoção humana, à necessidade do diálogo com o mundo, com as diversas culturas e religiões e à urgente busca da união entre os cristãos.
28. Mas em meio a esta fecundidade, devem-se reconhecer também os « defeitos e dificuldades no acolhimento do Concílio ».(51) Malgrado uma doutrina eclesiológica tão ampla e profunda, enfraqueceu-se o sentido da pertença eclesial; constata-se freqüentemente uma « desafeição para com a Igreja »; (52) ela é contemplada, muitas vezes, de modo unilateral, como mera instituição, despojada do seu mistério.
Em algumas ocasiões, foram tomadas posições parciais e opostas na interpretação e na aplicação da renovação solicitada à Igreja pelo Concílio Vaticano II. Tais ideologias e comportamentos conduziram a fragmentações e a prejudicar o testemunho de comunhão, indispensável para a evangelização.
A ação evangelizadora da Igreja, e nesta a catequese, deve buscar mais decididamente uma sólida coesão eclesial. Para isso, é urgente promover e aprofundar uma autêntica eclesiologia de comunhão, (53) para gerar nos cristãos, uma profunda espiritualidade eclesial.
Situação da catequese: a sua vitalidade e os seus problemas
29. Muitos são os aspectos positivos da catequese nestes últimos anos, que mostram a sua vitalidade. Entre outros, devem ser destacados:
– O grande número de sacerdotes, religiosos e leigos que se consagram à catequese com grande entusiasmo e perseverança. É uma das ações eclesiais mais relevantes.
– Deve ser sublinhado também o caráter missionário da atual catequese e a sua propensão em assegurar a adesão à fé, dos catecúmenos e dos catequizandos, num mundo no qual o sentido religioso se obscura. Nesta dinâmica, tem-se uma clara consciência de que a catequese deve adquirir o estilo de formação integral e não reduzir-se a simples ensinamento: deverá esforçar-se, de fato, para suscitar uma verdadeira conversão. (54)
– Em sintonia com tudo o que já foi dito, assume extraordinária importância o incremento que vai adquirindo a catequese dos adultos (55) no projeto de catequese de muitas Igrejas particulares. Esta opção aparece como prioritária nos planos pastorais de muitas dioceses. Também em alguns movimentos e grupos eclesiais ela ocupa um lugar central.
– Favorecido, sem dúvida, pelas recentes orientações do Magistério, o pensamento catequético ganhou, nos nossos dias, uma maior densidade e profundidade. Neste sentido, muitas Igrejas locais já dispõem de idôneas e oportunas orientações pastorais.
30. Todavia, é necessário examinar, com particular atenção, alguns problemas, buscando encontrar uma solução para os mesmos:
– O primeiro diz respeito ao próprio conceito de catequese como escola da fé, como aprendizado e tirocínio de toda a vida cristã, que ainda não penetrou plenamente na consciência dos catequistas.
– No que concerne à orientação de fundo, o conceito de « Revelação » impregna ordinariamente a atividade catequética; todavia, o conceito conciliar de « Tradição » tem uma menor influência como elemento realmente inspirador. De fato, em muitas catequeses, a referência à Sagrada Escritura é quase que exclusiva, sem que a reflexão e a vida bimilenar da Igreja (56) acompanhem tal referência, de modo suficiente. A natureza eclesial da catequese se mostra, neste caso, menos clara. A inter-relação entre Sagrada Escritura, Tradição e Magistério, « cada qual segundo seu próprio modo »,(57) ainda não fecunda harmoniosamente a transmissão catequética da fé.
– No que diz respeito à finalidade da catequese, que visa promover a comunhão com Jesus Cristo, é necessária uma apresentação mais equilibrada de toda a verdade do mistério de Cristo. Às vezes, se insiste somente na sua humanidade, sem fazer explícita referência à sua divindade; em outras ocasiões, menos freqüentes nos nossos dias, a sua divindade é tão acentuada, que não se percebe mais a realidade do mistério da Encarnação do Verbo. (58)
– Em relação ao conteúdo da catequese, subsistem vários problemas. Há algumas lacunas doutrinais no que concerne à verdade sobre Deus e sobre o homem, sobre o pecado e a graça e sobre os Novíssimos. Há a necessidade de uma formação moral mais sólida; constata-se uma apresentação inadequada da história da Igreja e um escassa importância dada à sua Doutrina Social. Em algumas regiões, proliferam catecismos e textos de iniciativa particular, com tendências seletivas e acentuações tão diferentes, que prejudicam a necessária convergência na unidade da fé.(59)
– « A catequese é intrinsecamente ligada com toda a ação litúrgica e sacramental ».(60) Muitas vezes, porém, a praxe catequética apresenta uma ligação fraca e fragmentária com a liturgia: atenção limitada aos sinais e ritos litúrgicos, pouca valorização das fontes litúrgicas, percursos catequéticos que pouco ou nada têm a ver com o ano litúrgico, presença marginal de celebrações nos itinerários da catequese.
– No que concerne à pedagogia, após uma excessiva acentuação do valor do método e das técnicas, por parte de alguns, ainda não se presta a devida atenção às exigências e à originalidade da pedagogia própria da fé.(61) Cai-se facilmente no dualismo « conteúdo-método », com reducionismos num sentido ou no outro. No que diz respeito à dimensão pedagógica, não se exercitou sempre o necessário discernimento teológico.
– No que concerne à diferença das culturas em relação ao serviço da fé, constitui um problema saber transmitir o Evangelho no limite do horizonte cultural dos povos aos quais se dirige, de modo que ele possa ser apreendido realmente como uma grande notícia para a vida das pessoas e da sociedade. (62)
– A formação para o apostolado e para a missão é uma das tarefas principais da catequese. No entanto, enquanto na atividade catequética cresce uma nova sensibilidade em formar os fiéis leigos para o testemunho cristão, para o diálogo inter-religioso e para o compromisso secular, a educação para a dimensão missionária ad gentes mostra-se ainda fraca e inadequada. Com freqüência, a catequese ordinária reserva às missões uma atenção marginal e não constante.
A semeadura do Evangelho
31. Depois de ter analisado o terreno, o semeador envia os seus operários para anunciar o Evangelho por todo o mundo, comunicando-lhes a força do seu Espírito. Ao mesmo tempo, mostra-lhes como ler os sinais dos tempos e lhes pede uma preparação muito acurada para realizar a semeadura.
Como ler os sinais dos tempos
32. A voz do Espírito que Jesus, por parte do Pai, enviou a Seus discípulos ressoa também nos acontecimentos da história. (63) Por trás dos dados mutáveis da situação atual e nas profundas motivações dos desafios que se apresentam à evangelização, é necessário descobrir « os sinais da presença e do desígnio de Deus ». (64) Trata-se de uma análise que se deve fazer à luz da fé, com uma atitude de compaixão. Valendo-se das ciências humanas, (65) sempre necessárias, a Igreja busca descobrir o sentido da situação atual, no âmbito da história da salvação. Os seus juízos sobre a realidade são sempre diagnósticos para a missão.
Alguns desafios para a catequese
33. Para poder exprimir a sua vitalidade e a sua eficácia, a catequese, hoje, deveria assumir os seguintes desafios e orientações:
– antes de tudo, ela deve se apresentar como um válido serviço à evangelização da Igreja, com uma acentuada característica missionária;
– ela deve se dirigir aos seus destinatários privilegiados, como foram e continuam a ser as crianças, os adolescentes, os jovens e os adultos a partir, sobretudo, dos primeiros;
– seguindo o exemplo da catequese patrística, ela deve plasmar a personalidade daquele que crê e, portanto, deve ser uma verdadeira e própria escola de pedagogia cristã;
– deve anunciar os mistérios essenciais do cristianismo, promovendo a experiência trinitária da vida em Cristo como centro da vida de fé;
– deve considerar como tarefa prioritária a preparação e a formação de catequistas de fé profunda.

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