Capítulo III
Pistas de ação para a missão evangelizadora
102. Consciente de sua missão evangelizadora e tendo contemplado a realidade brasileira, com o olhar e o coração do discípulo missionário, a Igreja percebe numerosos e complexos desafios. Visando evitar a dispersão na ação evangelizadora, mantém para os próximos anos os três âmbitos de ação: pessoa, comunidade e sociedade.227 Estas não são realidades a serem consideradas separadamente, mas três realidades interligadas e complementares. Para cada âmbito,são indicados (1) o desafio principal, (2) o cerne da mensagem cristã como fundamento e critério do agire (3) algumas pistas de ação. Cabem às Igrejas Particulares e às comunidades locais a concretização e aaplicação. No que diz respeito às quatro exigências(serviço, diálogo, anúncio e testemunho de comunhão),estas Diretrizes as assumem e as enriquecem com as grandes proposições de Aparecida, principalmenteas que se referem à conversão pessoal, pastorale à missionariedade.227 Essa perspectiva foi adotada a partir das Diretrizes Gerais da Ação Pastoral em1991-1994, especialmente nos capítulos III e IV, do referido documento.86Promover a dignidade da pessoaO desafioA construção da identidade pessoal e da liberdadeautêntica na atual sociedade.A fé cristã“Filhos de Deus, nós o somos!” (1Jo 3,2).103. A fé cristã ensina que a dignidade do ser humano temsua raiz mais profunda no próprio Deus. O ser humanoé dom de Deus. Não apenas seu ser, mas tambémsua vontade, sua liberdade e sua autonomia. Deus,por amor, criou o ser humano. Criou-o à sua imageme semelhança.228 Criou-o por amor e para o amor.Criou-o para a reciprocidade e para a comunhão. Emtudo isso, percebemos que o ser humano está fecundae positivamente aberto ao diálogo e à comunhão comDeus, com o próximo e consigo mesmo.104. O olhar cristão sobre o ser humano permite, de início,perceber seu valor, que transcende todo o universo. Àdiferença do restante da criação, o ser humano é pessoa,dotada de razão, vontade, autonomia, liberdadee capacidade de amar. É sujeito em relação a toda a228 Cf. Gn 1,24.87realidade, descobrindo seu sentido e governando-a.229Por isso, não podemos deixar de reconhecer e valorizarcada pessoa, em sua liberdade, autonomia, responsabilidadee dignidade. Por isso, não podemos deixar derespeitar a dignidade de todas as pessoas.105. Respeitar a dignidade da pessoa humana apresentainúmeras conseqüências. Entre as principais, destacam-se:a) defender e promover a dignidade da vida humanaem todas as etapas da existência, desde a fecundaçãoaté a morte natural;b) tratar o ser humano como fim e não como meio, nãoo manipulando como se fosse um objeto; respeitá-loem tudo que lhe é próprio: corpo, espírito e liberdade;c) tratar todo ser humano sem preconceito nem discriminação,acolhendo, perdoando, recuperando avida e a liberdade de cada pessoa, denunciando osdesrespeitos à dignidade humana e considerando ascondições materiais, históricas, sociais e culturaisem que cada pessoa vive.106. A fé cristã nos ensina que o referencial para compreendera dignidade da pessoa é Jesus Cristo, VerboEncarnado, rosto humano de Deus e rosto divino do229 Cf. Gn 2,20.88homem.230 A encarnação revela a dignidade sagradada pessoa e seu valor inquestionável. “Se o pecadodeteriorou a imagem de Deus no homem e feriu suacondição, a Boa-Nova, que é Cristo, o redimiu e orestabeleceu na graça.”231 Essa graça atua no coraçãode toda pessoa, sendo fonte de esperança, liberdadeautêntica, comunhão e paz. Diante de um clima culturalrelativista, que a todos envolve, Jesus se apresentacomo Caminho, Verdade e Vida.232• Diante de uma vida sem sentido, Jesus nos revela avida íntima de Deus em seu mistério mais elevado:a comunhão trinitária. É tal o amor de Deus, quefaz do ser humano, peregrino neste mundo, suamorada;233• Diante do desespero de um mundo sem Deus, quevê na morte só o final definitivo da existência, Jesusnos oferece a ressurreição e a vida eterna na qualDeus será tudo em todos;234• Diante da idolatria dos bens terrenos, Jesus apresentaa vida em Deus como valor supremo;235230 Cf. João Paulo II. EAm, n. 67.231 Cf. DA, n. 109.232 Cf. DA, n. 22.233 Cf. Jo 14,23.234 Cf. 1Cor 15,28.235 Cf. Mc 8,36.89• Diante do subjetivismo hedonista, Jesus propõeentregar a vida para ganhá-la, porque “quem salvaguardasua vida terrena perdê-la-á”;236• Diante do individualismo, Jesus convoca a viver ecaminhar juntos. A vida cristã só se aprofunda e sedesenvolve na comunhão fraterna;237• Diante da despersonalização, Jesus ajuda a construiridentidades integradas. A vocação, a liberdade e aoriginalidade são dons de Deus para buscar a plenitudenuma atitude de serviço a Deus e ao próximo;• Diante da exclusão, Jesus defende os direitos dosfracos e o direito a uma vida digna para todo serhumano. O ser humano, imagem vivente de Deus, ésempre sagrado, desde sua concepção até sua mortenatural, em todas as circunstâncias e condições desua vida. Por isso a Igreja assume a promoção dadignidade da pessoa diante das várias formas dedesrespeito à vida: manipulação genética, aborto,eutanásia, esterilização, comercialização do sexo, docorpo, bem como às diversas formas de violência;• Diante das estruturas de morte, Jesus faz presente avida plena. Por isso, ele cura os enfermos, expulsaos demônios e compromete os discípulos na promoçãoda dignidade humana e de relacionamentossociais fundados na justiça e na misericórdia;236 Jo 12,25.237 Cf. Mt 23,8.90• Diante da natureza ameaçada, Jesus nos convocaa cuidar da integridade da criação, defendendo-a epreservando-a, para abrigo e sustento de todas aspessoas, dos animais e de todo o ecossistema,238 emrespeito às gerações futuras.107. É através de atitudes claramente solidárias que o discípulomissionário de Jesus Cristo será capaz de dizeruma palavra específica a respeito do sofrimento. Asdores de muitos de nossos irmãos e irmãs são imensas enão podem passar despercebidas. Elas desafiam a açãoevangelizadora a não seguir alguns caminhos:a) Os caminhos da indiferença ou do ativismo, quenão deixam tempo para se colocar ao lado dos queestão sofrendo;b) O caminho das promessas fáceis e enganadoras,com oferta de prodígios, milagres, curas e sucessos,como se Jesus Cristo estivesse preso nas mãosde alguns privilegiados ou de quem cumpre certasobrigações.108. Esses caminhos não levam ao encontro com JesusCristo. Geram cristãos e cristãs marcados pelo egoísmoe não pelo amadurecimento na fé. É necessárioum discipulado que conduza a uma clara e proféticaatitude diante de uma sociedade que coloca a felicidadeno lucro, no prazer imediato e na solução dosproblemas pessoais.238 Cf. Lc 12,28; Gn 1,29; 2,15.91109. Embora envolto numa nuvem de mistério, o sofrimentohumano deve ser vivido, à semelhança de todas asdemais instâncias da vida: como uma etapa particularno caminho em direção a Cristo. Do mesmo modo queo discípulo missionário de todos os tempos, o cristãode hoje é também chamado a saber viver na fartura ouna penúria. Quer vivendo, quer morrendo, seu coraçãodeve sempre se voltar para Cristo, porque, para o discípulomissionário, o viver é Cristo e cada dia destaexistência consiste na certeza, como nos diz o ApóstoloSão Paulo, de que já não somos nós que vivemos, masé Cristo que vive em nós. É verdade que a resposta aosofrimento não é completa, acabada, imediata. Mas,no caminho dos discípulos missionários, vai se fortalecendoaquela esperança que não decepciona, umaesperança forte o suficiente para nos conduzir até odia em que aquele que começou em nós essa boa obrahaverá de levá-la à plenitude.239110. “Deus é amor. Quem ama permanece em Deus e Deuspermanece nele.”240 A resposta ao sofrimento só poderáser a resposta do amor, do amor-solidário, que ajuda acarregar a cruz, que não teme ser fraco com os fracos,que não teme sofrer com os que sofrem.241 Um amorsamaritano, que impele “ao encontro das necessida-239 Cf. Fl 4,12; Rm 14,8; Fl 1,21; Gl 2,20; Rm 5,5; Fl 1,6.240 Jo 4,8.241 Cf. 1Jo 4,8-16; Mt 27,32; 1Cor 9,19-23.92des dos pobres e dos que sofrem, atuando para criarestruturas justas, condição sem a qual não é possíveluma ordem justa na sociedade”.242 Um amor que fazassumir o sofrimento para “completar na própria carneo que falta à paixão de Cristo, por seu corpo, que é aIgreja”.243111. “Podemos procurar limitar o sofrimento e lutar contraele, mas não podemos eliminá-lo. Uma sociedade quenão consegue aceitar os que sofrem e não é capaz decontribuir, mediante a com-paixão, para fazer com queo sofrimento seja compartilhado e assumido mesmointeriormente, é uma sociedade cruel e desumana.Não é o evitar o sofrimento, a fuga diante da dor, quecura o homem, mas sim a capacidade de aceitar a tribulaçãoe nela amadurecer, de encontrar seu sentidoatravés da união com Cristo, que sofreu com infinitoamor. E, por fim, também o ‘sim’ ao amor é fonte desofrimento, porque o amor exige sempre expropriaçõesde meu eu, nas quais me deixo podar e ferir. O amornão pode, de modo algum, existir sem essa renúnciamesmo dolorosa a mim mesmo, senão torna-se puroegoísmo, anulando-se desse modo a si próprio enquantotal.”244 Seremos, portanto, felizes à medida que nosaproximarmos, cada vez mais, de Deus, acolhendo-o242 DA, nn. 419 e 537.243 Cl 1,24.244 Bento XVI. SpS, n. 37s.93na oração, seguindo os mandamentos, vivendo emcomunidade e trabalhando por um mundo onde afelicidade vise não ao proveito pessoal, mas sim aoserviço do Reino de Deus.112. Importa reconhecer que toda busca de felicidade,nesta vida, é sempre limitada, incompleta, apontandopara a eternidade. Não podemos, todavia, confundiro indispensável sonho pela vida eterna feliz com odescompromisso pelas questões ligadas a esta vida.Caminhamos para a eternidade, construindo felicidadejá nesta vida. Essa é a razão pela qual o discípulomissionário é alguém inquieto e indignado diante detodas as formas de sofrimento. Porque mergulhado nomistério do Deus de toda paz, o discípulo missionárionão se desespera nem se acomoda diante da dor e damorte. Ele sabe que, tendo os olhos fitos no futuro, nãodeixa, porém, de tirar seus pés do chão desta existência.Por isso, assume a luta pela vida e pela felicidade. Oanseio pela vida eterna feliz, longe, portanto, de descomprometercom a ação profética nesta vida, colocaa felicidade em seu verdadeiro lugar.113. A eternidade em Deus ilumina todas as buscas humanas.Liberta o discípulo missionário dos apegosexcessivos ao que é imediato. Evita a manipulaçãode Deus em nome de interesses pessoais ou grupais,na maioria das vezes, tão contrários ao Reino desse94mesmo Deus.245 Quer nas vitórias quer nas derrotas,o discípulo missionário vai se apaixonando pelo Senhorda história, da felicidade e da paz, na certeza,cada vez maior de, um dia, na eternidade, contemplaraquele que é, ao mesmo tempo, fonte e meta de todaa felicidade.Pistas de ação114. Considerando a experiência vivida nos diversos recantosde nosso país, em especial nas últimas décadas,bem como à luz da Conferência de Aparecida, algumaspistas de ação se destacam, tornando-se urgentes.A pessoa: testemunho, busca, acolhimento eacompanhamento115. Firma-se, cada vez mais, a consciência missionáriade que é preciso ir a todas as pessoas, a cada pessoa,às pessoas integralmente. A busca e o acolhimentode todos, em especial dos que experimentam algumaforma de exclusão, é sinal do Reino de Deus.246 Porisso, atenção especial haverá de ser dispensada aocontato com aquelas pessoas que não fazem parteda vida da comunidade, algumas vezes nem mesmoseguindo Jesus Cristo, nem se deixando pautar pelosvalores do Reino.245 Cf. Lc 12,13-15; Lc 18,18-27.246 Cf. Mc 10,46-52; DA, n. 353.95116. Acolher no respeito implica atenção personalizada,através da capacitação de quem possa “acompanharespiritual e pastoralmente a outros”.247 Trata-se de umadimensão importantíssima do ministério ordenado, àqual ele é chamado a se dedicar ainda mais intensamente.Trata-se, além disso, de exercer a criatividadepastoral, incentivando o surgimento e o fortalecimento,entre os cristãos leigos e cristãs leigas, de ministériosda escuta e do aconselhamento.117. Importa valorizar o encontro pessoal, como caminhode evangelização. Nele se aprofundam laços deconfiança e experiências de vida são partilhadas. Porcerto, muitas são as formas de realizar esse encontro.Os discípulos missionários precisam estar preparadospara o encontro e a escuta no momento em que sefizerem necessários. A novidade é que tais momentosde encontro pessoal não podem mais ser deixados àespontaneidade e à eventualidade. É preciso buscar ecriar momentos específicos de visita, escuta, aconselhamentoe oração. No Brasil, tem crescido bastantea experiência da visitação, com serviços e ministériospróprios. Através da visitação, do contato pessoal,contínuo e organizado, manifesta-se a iniciativa dodiscípulo missionário, que não espera a chegada doirmão ou irmã, mas vai ao encontro de cada um, decada uma e de todos.247 DA, n. 282.96118. Tendo consciência de que não há um único modeloválido para todos, é preciso oferecer às pessoas diversificadasoportunidades de encontro, de contato e deconhecimento entre si. Promovam-se oportunidades depráticas solidárias ou participação em projetos comuns,experiências de amizade e reciprocidade, experiênciasde doação gratuita a serviço dos irmãos.119. Tais visitas se dirigem não apenas às famílias e às residências,mas também a todos os demais ambientes.É preciso visitar, entre outros, os locais de trabalho, asmoradias de estudantes, as favelas e os cortiços, os alojamentosde trabalhadores, as prisões e os albergues.É preciso visitar os moradores de rua lá onde vivem:na própria rua. Todos esses locais se constituem emnúcleos de convivência, onde se experimentam valoreshumanos profundos, que devem ser reconhecidos eapoiados.248A pessoa e as diversas situações de vida120. Falar da pessoa humana, nas diversas etapas da vida,implica lembrar a criança, sinal vivo dos que acolhemo Reino de Deus.249 Infelizmente, várias são as sombrasque, em nossos dias, atingem a criança. Muitas sofremas conseqüências das grandes mudanças no contexto248 Cf. DA, n. 442.249 Cf. Mt 19,14.97familiar. Outras experimentam a pobreza, a exclusãosocial, tendo, nas situações mais agudas, apenas a rua,com suas mazelas, por abrigo. Nos ambientes onde odistanciamento em relação às comunidades cristãs émaior, encontramos crianças a quem, sob a alegação daliberdade de escolha, se nega o direito a ouvir falar deJesus. Essas são algumas das inúmeras interpelaçõespara que a comunidade missionária de nossos dias permaneçafiel à ação evangelizadora, que sempre olhouas crianças com especial carinho e atenção.250121. A infância, mais do que em épocas anteriores, é terrenode urgente missão. Essa missão se concretiza já nafirme defesa do direito ao nascimento. Permanece noacompanhamento dos primeiros anos de vida, onde,graças a trabalhos como o da Pastoral da Criança, avida ameaçada manifesta todo o seu vigor. Acolhe,nos grupos de iniciação eucarística, as crianças e seusfamiliares, faz-se presente nas escolas confessionais,no ensino religioso e nas diversas ações, onde a criançavai gradativamente se sentindo sujeito da própriacaminhada de fé. Nestes tempos em que a consciênciamissionária emerge com maior vigor, haveremos dedestacar ações como a Infância Missionária e tantas outras,que, desde a infância, ajudam o coração humanoa descobrir a riqueza do anúncio do Evangelho.251250 Cf. DA, n. 439.251 Cf. DA, n. 441.98122. Os adolescentes e os jovens, dada a situação em quese encontram, na sociedade de hoje, merecem melhoracolhida e sincero amor nas comunidades eclesiaise maior espaço para a ação. Estão entre os mais expostosaos efeitos da pobreza, vítimas de toda sortede alienações, que afetam sua identidade pessoal esocial. São fortemente influenciados por falsas ilusõesde felicidade e pelo paraíso enganoso das drogas, doprazer, do álcool e de todas as formas de violência.252São presas fáceis das novas propostas religiosas epseudo-religiosas.253 Estão afetados por uma educaçãode baixa qualidade. Muitos nem encontram possibilidadede estudar ou trabalhar. Outros são obrigados adeixar seu lugar de origem. Buscam possibilidades ealternativas de estudo, acesso à instrução, qualificaçãoe emprego nos grandes centros urbanos ou até mesmoem outros países. Longe da família e das estruturas deapoio do tecido de origem, endossam o contingentedos migrantes.254123. Torna-se urgente renovar a “opção afetiva e efetivade toda a Igreja pela juventude na busca conjunta depropostas concretas”255 capazes de acolher a pluralidadede pastorais, grupos, movimentos e serviços,252 DA, nn. 443 e 422-426.253 Cf. DA, n. 444.254 Cf. DA, n. 445.255 CNBB. Doc. Evangelização da Juventude: Desafios e perspectivas pastorais,n. 4. Brasília, Edições CNBB, 2007.99na busca de um trabalho em conjunto, incentivandoos jovens a, fraterna e solidariamente, evangelizar ospróprios jovens,256 comprometendo-se, junto aos maisdiversos ambientes, com a construção de um mundocada vez mais próximo do Reino de Deus. Em todo otrabalho evangelizador com a juventude, haverá de seconsiderar as ricas indicações do Documento Evangelizaçãoda Juventude. Desafios e perspectivas pastorais,aprovado pela 45a Assembléia Geral. Entre outros, odocumento refere-se aos seguintes aspectos:a) Garantir a formação integral no planejamento e noprocesso de evangelização em todos os segmentoseclesiais que trabalham com a juventude;b) Promover e valorizar projetos e processos de educaçãoaos valores, principalmente a educação parao amor;c) Garantir o acompanhamento de programas quecontribuam com a construção do projeto pessoalde vida, com o devido discernimento e amadurecimentovocacional;d) Valorizar a dimensão missionária dos jovens paraque sejam verdadeiros protagonistas na evangelização;e) Privilegiar processos de educação e amadurecimentona fé, com atenção à espiritualidade, formando,256 Cf. DA, n. 336; CNBB. Doc. Evangelização da Juventude: Desafios eperspectivas pastorais, n. 5. Brasília, Edições CNBB, 2007.100de maneira gradual, os jovens para a missão, a açãopolítica e a transformação do mundo;f) Ajudar os jovens a assumir a opção preferencialpelos pobres;g) Propiciar capacitação profissional, apoio humanoe comunitário, ajudando os jovens a não caírem nomundo das drogas, na violência e na criminalidade;h) Estimular a pastoral do mundo universitário, emsuas mais diversas formas, visando à formação deprofissionais éticos e de futuras lideranças sociaise políticas;i) Criar, também nas dioceses, o Setor Juventude;j) Garantir assessores que acompanhem, nas dioceses,a Pastoral da Juventude e o Setor Juventude.257124. No que diz respeito às crianças e jovens, é necessáriosubsidiar famílias, escolas, paróquias, pastorais e outrasentidades com propostas de educação na área daafetividade e da sexualidade, para a vivência do amorno caminho da autêntica felicidade.125. Contemplando ainda a pessoa nos diversos momentosde sua vida, torna-se necessário respeitar e valorizaros idosos, acompanhá-los em sua condição especial e257 Cf. CNBB. Doc. Evangelização da Juventude: Desafios e perspectivaspastorais. Brasília, Edições CNBB, 2007101deles aprender a sabedoria da vida.258 A família, a comunidadee a sociedade não podem considerá-los pesoou carga. Fazem-se necessárias atitudes e políticassociais justas e solidárias, que atendam às necessidadesdos idosos.259 A Igreja se sente comprometida a darlhesatenção humana integral, incorporando-os aindamais na missão evangelizadora.260 A Pastoral da PessoaIdosa é hábil instrumento para que isso aconteça.126. Sejam valorizadas as mulheres, de toda condiçãosocial, em seu cuidado e educação dos filhos, na construçãode uma vida social mais humana e na busca desempre melhor servir à vida eclesial e familiar. É necessáriosuperar a mentalidade machista, que ignora anovidade do cristianismo acerca da “igual dignidade eresponsabilidade da mulher em relação ao homem”.261Urge que as mulheres possam participar plenamente davida familiar, eclesial, cultural, social, política e econômica,criando espaços e estruturas que favoreçamsua inclusão.262 Entre as ações pastorais cabe:a) Impulsionar uma organização pastoral que promovaainda mais o protagonismo das mulheres;258 Cf. DA, n. 448.259 Cf. DA, n. 449.260 Cf. DA, n. 450.261 DA, n. 453.262 Cf. DA, n. 454.102b) Garantir a efetiva presença da mulher nos ministériosque a Igreja confia aos leigos, assim como nasesferas de planejamento e decisão;c) Acompanhar as associações que lutam para superarsituações difíceis pelas quais as mulheres passamem seu dia-a-dia;d) Apoiar programas, leis e políticas públicas quepermitam harmonizar a vida laboral da mulher comseus deveres de mãe de família,263 com atençãoespecial às empregadas domésticas, às operárias esimilares.127. Preocupa ainda o fato de que muitos homens se têmmantido à margem da Igreja. Isso questiona fortementeo estilo de nossa pastoral convencional.264 Parasuperar esses limites, cabe incluir nos conteúdos deformação na Igreja a reflexão em torno da vocação aque o homem está chamado a viver no Matrimônio,na família, na Igreja e na sociedade,265 bem comoutilizar de criatividade para acolhê-los e auxiliá-losno engajamento comunitário.263 Cf. DA, n. 458.264 Cf. DA, n. 461.265 Cf. DA, n. 463f.103A pessoa e a família128. Um olhar atento haverá de ser dirigido à família, patrimônioda humanidade, lugar e escola de comunhão,pequena Igreja doméstica e primeiro local para a iniciaçãocristã das crianças.266 Tamanha é sua importânciaque deve ser considerada “um dos eixos transversaisde toda a ação evangelizadora”.267129. A família é reconhecida como o maior valor por nossopovo. Por isso deve ser ajudada por uma pastoralfamiliar intensa e vigorosa.268 A reconhecer a belezado amor humano quando é vivido como dom sincerode si para o bem do outro. A pastoral familiar poderácontribuir para que a família seja reconhecida e vividacomo lugar não somente de sacrifício, mas também derealização humana, a mais intensa possível na experiênciade paternidade, de maternidade, de filiação, comoestrutura de um pertencer que desperte crescimento,maturidade, e proporcione satisfação.130. Por isso, os pais têm o dever de transmitir a fé e dartestemunho do amor por Jesus Cristo e pela Igreja, paraseus filhos, na qualidade de primeiros catequistas. A espiritualidadeconjugal e familiar se expressa na oração266 Cf. DA, nn. 118 e 302.267 DA, n. 435.268 Cf. Bento XVI. DA: Discurso Inaugural, n. 5.104em família, na participação na Eucaristia dominical ena dedicação aos serviços pastorais da comunidade. Ospilares da vida e espiritualidade familiar são o diálogo,o afeto, o perdão e a oração, que são expressões doamor conjugal e familiar. Pela graça do Batismo e dosacramento do Matrimônio, pais e filhos se santificamno cotidiano.131. Nas últimas décadas, assistimos a transformaçõesprofundas no jeito de ser família, transformações queafetaram até mesmo sua compreensão e valorização.269Sofremos a imposição de uma mentalidade antivida,com graves conseqüências pessoais, comunitárias esociais. Na família nuclear, diminuem os nascimentose também as vocações. A sociedade envelhece rapidamente.Em meio a tantos desafios importa auxiliar,com a luz do Evangelho, as famílias a viverem suasalegrias e dores, bem como buscar a prática efetiva dosvalores cristãos essenciais à família,270 com estímuloexplícito à recepção responsável, consciente e coerentedo sacramento do Matrimônio.132. Faz-se necessária uma profunda e séria preparaçãoao Matrimônio, com evangelização de namorados e269 Cf. João Paulo II, NMI, n. 47, onde aparece a expressão “crise generalizadae radical”.270 Cf. CNBB. Estudo. Pastoral Familiar no Brasil, nn. 71-82. São Paulo, Paulus,2004; Pontifíci o Conselho para a Família. Lexicon: Termos ambíguose discutidos sobre família, vida e questões éticas. Brasília, Edições CNBB,2007, pp. 317-442.105noivos e acompanhamentos de novos casais. Sejamcelebradas datas importantes ligadas à vida e à família,como a Semana Nacional da Vida e o Dia doNascituro.133. Os casais em segunda união e seus filhos sejam acolhidos,acompanhados e incentivados, conforme suasituação, a participarem da vida da Igreja, segundo asorientações do Magistério.271134. Na atuação em prol da família, é preciso cobrarpolíticas públicas, efetivas e duradouras que, paraalém de meras propostas eleitoreiras, efetivamenteproporcionem condições necessárias ao bem-estar dasfamílias, evitando tudo que as prejudique. Sempre queas políticas públicas se manifestarem insuficientes ouineficazes, a própria comunidade local deve tomariniciativas de solidariedade em relação a pessoas,famílias e grupos atingidos pela miséria, pela fome epor outras tantas formas de sofrimento.272135. Carinho especial haverão de receber as famíliasmarcadas pela violência e outros males em suas maisdiversas formas, como o alcoolismo, o machismo,o desemprego e principalmente as drogas, as balasperdidas, os assassinatos e os grupos de extermínio. É271 Cf. João Paulo II. FC, n. 84.272 Cf. CNBB. Doc. Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja noBrasil: 2003-2006, n. 123c. São Paulo, Paulinas, 2003.106indispensável que se continue e mesmo se intensifiqueo trabalho de prevenção contra as drogas e o combateà sua difusão. Criem-se e se desenvolvam pastorais einstituições que lidem com toxicodependentes e seusfamiliares. Sejam estimulados grupos de apoio às famíliasque perderam seus entes queridos em situaçõesde aguda violência.136. A Conferência de Aparecida enfatizou a importância dapresença do homem, do pai, e sua missão na família,como também o direito que os filhos possuem de tera presença do pai em casa.A pessoa, o trabalho e a moradia137. É preciso acompanhar as alegrias e preocupações dostrabalhadores e das trabalhadoras, fazendo-se evangelicamentepresente nos locais de trabalho, nos sindicatos,nas associações de classe e lazer, entre outros. Emnossos dias, não há como deixar de lado a luta contrao desemprego, buscando caminhos alternativos paraa geração de renda e a economia solidária. Contamosnessa tarefa, entre outros, com as diversas pastorais emovimentos ligados ao mundo do trabalho.138. Atenção especial seja dada aos migrantes forçadospela busca de trabalho e moradia:a) Os migrantes brasileiros no exterior, vivendo nomeio de outras culturas e tradições, e que precisamde amparo, apoio e assistência religiosa;107b) Os migrantes sazonais, que constituem mão-de-obrabarata e superexplorada pelo agronegócio em suasformas variadas;c) As vítimas do tráfico de pessoas seduzidas por propostasde trabalho que levam à exploração tambémsexual;d) Os trabalhadores explorados pelos métodos deterceirização, vítimas de atravessadores de mãode-obra;e) Os novos migrantes estrangeiros em busca de sobrevivênciaem nossa pátria, muitos se encontrandoem situação de não-cidadania e discriminação.139. É urgente o estabelecimento de estruturas nacionaise diocesanas destinadas não apenas a acompanhar osmigrantes e refugiados, como também a empenhar-sejunto aos organismos da sociedade civil, para que osgovernos tenham uma política migratória que leve emconta os direitos das pessoas em mobilidade.140. Junto com os migrantes, observe-se especial atençãoaos que são marcados pela itinerância. Entre estes,podemos destacar os marítimos, os pescadores e oscaminhoneiros, os ciganos, os circenses e os parquistas.Quer ao longo do litoral e dos rios, especialmentenos portos, quer ao longo da grande malha rodoviáriabrasileira, é preciso estar junto com aqueles que fazemda itinerância seu ganha-pão.108141. Considerando, ainda, que, em nossos dias, o lazer e oturismo também se constituem em motivo de mobilidade,é necessário pensar formas de atendimento pastoralaos que, em temporada de finais de semana, deixamsuas residências, dirigindo-se a regiões de descanso,férias, ecoturismo e turismo religioso, bem como aostrabalhadores e agentes promotores do turismo. Étempo de desenvolver e incrementar uma criativa earticulada Pastoral do Turismo.273A pessoa, a pobreza, a exclusão e as ameaças à vida142. A Igreja faz a opção pela vida, mergulhando nas profundezasda existência humana: o nascer e o morrer, acriança e o idoso, o adolescente e o jovem, o sadio e oenfermo, o recém-nascido e o envelhecido, o excluído,o renegado e o jogado à margem da dignidade humana.274 Opção pelos pobres e opção pela vida não sãoduas realidades distintas. Ao contrário, estamos diantede um período fecundo, no qual se fortalece ainda maiso compromisso solidário que brota do Evangelho.143. Em nossos dias, assistimos ao surgimento de novosrostos sofredores. “A Igreja, em todos os seus grupos,movimentos e associações, animados pela Pastoral273 Cf. CNBB. Doc. Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja noBrasil: 2003-2006, n. 123k. São Paulo, Paulinas, 2003; DA, n. 243.274 Cf. Hb 2,11-12; DA, n. 392; João Paulo II. NMI, n. 50.109Social, deve dar acolhida e acompanhar essas pessoasexcluídas nas esferas respectivas.”275 É preciso assumiratitudes,276 não apenas em nível de anúncio do imprescindívelvalor da vida, mas também através de práticasque ajudem a vida a florescer e se manter.144. Entre essas atitudes, destacam-se as pastorais dasobriedade e de prevenção ao HIV e assistência àspessoas que vivem e convivem com HIV/Aids.277 Aassistência precisa ser marcada pelo acolhimento sempreconceito e discriminação, bem como pela defesados direitos das pessoas infectadas. A pastoral da Aidsse realiza em cinco direções: prevenção, intervenção,recuperação, ressocialização, acompanhamento eapoio das políticas governamentais para combater essapandemia. A prevenção, baseada em critérios éticos ecristãos, deve implementar a informação, promovera educação e levar a assumir atitudes responsáveisdiante da epidemia.145. “Preocupam-nos também as pessoas com limitaçõesfísicas e os portadores e vítimas de enfermidadesgraves, que sofrem a solidão e se vêem excluídos daconvivência familiar e social.”278 Favorecer o acolhimentodas pessoas com deficiência, assegurando-lhes275 DA, n. 402; ver nestas Diretrizes, n. 83.276 Cf. DA, n. 436.277 Cf. DA, n. 421.278 DA, n. 65.110o direito à evangelização e à acessibilidade, é serviçodo discípulo missionário de Jesus Cristo, não apenas nacatequese especial, mas na formação de fóruns permanentesde pessoas portadoras de deficiência. No ensinoreligioso nas escolas, deve-se ter especial atenção paracom os alunos com deficiências. A integração dessesalunos em sala de aula e na comunidade escolar é fonteeducativa também para as outras crianças.146. Por tudo isso, torna-se imprescindível aprofundar, emtodos os âmbitos, a formação dos ministros ordenadosem vista do conhecimento profundo da realidadecomo ponto importante de sua espiritualidade e de suamissão, pois que serão ordenados para seguir JesusCristo, que, “sendo rico, se fez pobre, para a todosenriquecer”.279A pessoa, a oração e a celebração147. Outro destaque se refere à vida de oração. Sabemos que“a oração diária é o sinal do primado da graça no caminhodo discípulo missionário”.280 Com alegria, vemoscrescer, em muitas regiões, o contato com a Palavrade Deus através do Ofício Divino, da leitura orante daBíblia, dos círculos bíblicos e grupos de reflexão, daoração em família e outras formas de oração.279 2Cor 8,9.280 DA, n. 255.111148. Torna-se, pois, importante que se eduque para aoração pessoal, familiar, comunitária e litúrgica. Afamiliaridade com a oração pessoal permite ao discípulomissionário colocar-se diante da pessoa de JesusCristo em qualquer ambiente, a qualquer hora. Essamaturidade na vida de oração é ainda mais importantenaqueles lugares e naquelas situações em que a vidase torna mais agitada e socialmente conflitiva. Nessesambientes, os cristãos e cristãs devem ser ajudados amergulhar na atitude de oração, mesmo que o contextonão lhes seja propício.149. Por outro lado, a maior proximidade com a vida deoração comunitária e litúrgica haverá de atuar comoponto de equilíbrio, diante da forte tentação do individualismoaté mesmo ao se colocar diante de Deus.Nesse equilíbrio, o discípulo missionário aprende que,quanto mais ele reza sozinho, mais sente vontade derezar com seus irmãos e vice-versa. Para isso, torna-senecessário facilitar o direito dos fiéis à participação nossacramentos, sacramentais e demais atos de piedadecristã, com horários e locais adequados aos ritmos devida das pessoas e maior disponibilidade dos ministrosordenados.
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