terça-feira, 27 de janeiro de 2009

III CAPÍTULO
Natureza, finalidade e tarefas da catequese
« Para a glória de Deus, o Pai, toda língua confesse: Jesus Cristo é o Senhor » (Fl 2,11).
77. Depois de ter delineado o lugar da catequese no âmbito da missão evangelizadora da Igreja, as suas relações com os vários elementos da evangelização e com as outras formas do ministério da Palavra, neste capítulo se pretende refletir de modo específico sobre:
– a natureza eclesial da catequese, ou seja, o sujeito agente da catequese, a Igreja animada pelo Espírito;
– a finalidade que ela busca fundamentalmente, ao catequizar;
– as tarefas com as quais realiza esta finalidade, e que constituem os seus objetivos mais imediatos;
– as fases internas do processo catequético e a inspiração catecumenal que o anima.
Além disso, neste capítulo, aprofundar-se-á mais o caráter próprio da catequese, já descrito no capítulo precedente, onde foram especificadas as relações que ela estabelece com as demais ações eclesiais.
A catequese: ação de natureza eclesial
78. A catequese é um ato essencialmente eclesial. (229) O verdadeiro sujeito da catequese é a Igreja que, continuadora da missão de Jesus Mestre, e animada pelo Espírito, foi enviada para ser mestra da fé. Portanto, a Igreja, imitando a Mãe do Senhor, conserva fielmente o Evangelho no seu coração, (230) anuncia-o, celebra-o, vive-o e o transmite na catequese, a todos aqueles que decidiram seguir Jesus Cristo.
Esta transmissão do Evangelho é um ato vivo de tradição eclesial: (231)
– A Igreja, de fato, transmite a fé que ela mesma vive: a sua compreensão do mistério de Deus e do seu desígnio salvífico; a sua visão da altíssima vocação do homem; o estilo de vida evangélico que comunica a alegria do Reino; a esperança que a invade; o amor que sente pelos homens.
– A Igreja transmite a fé de modo ativo, semeia-a nos corações dos catecúmenos e catequizandos, para fecundar as suas experiências mais profundas. (232) A profissão de fé recebida da Igreja (traditio), germinando e crescendo durante o processo catequético, é restituída (redditio), enriquecida com os valores das diferentes culturas. (233) O catecumenato se transforma, assim, num centro fundamental de incremento da catolicidade, e fermento de renovação eclesial.
79. A Igreja, ao transmitir a fé e a vida nova — através da iniciação cristã — age como mãe dos homens, que gera filhos concebidos por obra do Espírito Santo e nascidos de Deus. (234) Precisamente, « por ser nossa mãe, a Igreja é também a educadora da nossa fé »; (235) é mãe e mestra ao mesmo tempo. Através da catequese, alimenta os seus filhos com a sua própria fé e os incorpora, como membros, na família eclesial. Como boa mãe, oferece-lhes o Evangelho em toda a sua autenticidade e pureza, o qual, ao mesmo tempo, lhes é dado como alimento adaptado, culturalmente enriquecido e como resposta às aspirações mais profundas do coração humano.
Finalidade da catequese: a comunhão com Jesus Cristo
80. « A finalidade definitiva da catequese é a de fazer com que alguém se ponha, não apenas em contato, mas em comunhão, em intimidade com Jesus Cristo ». (236)
Toda a ação evangelizadora tem o objetivo de favorecer a comunhão com Jesus Cristo. A partir da conversão « inicial » (237) de uma pessoa ao Senhor, suscitada pelo Espírito Santo, mediante o primeiro anúncio, a catequese se propõe dar um fundamento e fazer amadurecer esta primeira adesão. Trata-se, então, de ajudar aquele que acaba de ser converter a « ...melhor conhecer o mesmo Jesus Cristo ao qual se entregou: conhecer o seu « mistério », o Reino de Deus que Ele anunciou, as exigências e as promessas contidas na Sua mensagem evangélica e os caminhos que Ele traçou para todos aqueles que O querem seguir ». (238) O Batismo, sacramento mediante o qual « configuramo-nos com Cristo », (239) sustenta, com a sua graça, esta obra da catequese.
81. A comunhão com Jesus Cristo, por sua própria dinâmica, impulsiona o discípulo a se unir com tudo aquilo com que o próprio Jesus Cristo sentiu-se profundamente unido: com Deus, seu Pai, que o enviara ao mundo, e com o Espírito Santo, que lhe dava impulso para a missão; com a Igreja, seu corpo, pela qual se doou, e com os homens, seus irmãos, cuja sorte quis compartilhar.
A finalidade da catequese se exprime na profissão de fé no único Deus: Pai, Filho e Espírito Santo
82. A catequese é aquela forma particular do ministério da Palavra, que faz amadurecer a conversão inicial, até fazer dela uma viva, explícita e operativa confissão de fé: « A catequese tem a sua origem na confissão de fé e leva à confissão de fé ». (240)
A profissão de fé, intrínseca ao Batismo, (241) é eminentemente trinitária. A Igreja batiza « em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo » (Mt 28,19), (242) Deus uno e trino, ao qual o cristão confia a sua vida. A catequese de iniciação prepara — antes ou após o recebimento do Batismo — para este decisivo empenho. A catequese permanente ajudará a amadurecer continuamente esta profissão de fé, a proclamá-la na Eucaristia e a renovar os compromissos que ela implica. É importante que a catequese saiba unir bem a confissão de fé cristológica, « Jesus é o Senhor », com a confissão trinitária, « Creio no Pai, no Filho e no Espírito Santo », uma vez que são tão somente duas modalidades para se exprimir a mesma fé cristã. Aquele que, pelo primeiro anúncio, se converte a Jesus Cristo e O reconhece como Senhor, inicia um processo, ajudado pela catequese, que desemboca necessariamente na confissão explícita da Trindade.
Com a confissão de fé no único Deus, o cristão renuncia a servir qualquer absoluto humano: poder, prazer, raça, antepassados, Estado, dinheiro..., (243) libertando-se de qualquer ídolo que o escravize. É a proclamação da sua vontade de servir a Deus e aos homens, sem nenhum laço. Proclamando a fé na Trindade, comunhão de pessoas, o discípulo de Jesus Cristo manifesta contemporaneamente que o amor a Deus e ao próximo é o princípio que informa o seu ser e o seu agir.
83. A confissão de fé é completa somente se é em referência à Igreja. Cada batizado proclama individualmente o Credo, uma vez que não há ação mais pessoal do que esta. Mas o recita na Igreja e através dela, já que o faz como seu membro. O « creio » e o « cremos » se implicam mutuamente. (244) Ao fundir a sua confissão com a confissão da Igreja, o cristão é incorporado à sua missão: ser « sacramento de salvação » para a vida do mundo. Quem proclama a profissão de fé, assume compromissos que, não poucas vezes, atrairão a perseguição. Na história cristã, os mártires são os anunciadores e as testemunhas por excelência. (245)
As tarefas da catequese realizam a sua finalidade
84. A finalidade da catequese realiza-se através de diversas tarefas, mutuamente relacionadas. (246) Para realizá-las, a catequese se inspirará certamente no modo mediante o qual Jesus formava os Seus discípulos: fazia-os conhecer as diversas dimensões do Reino de Deus (« a vós é dado compreender os mistérios do Reino dos céus », Mt 13,11), (247) ensinava-os a rezar (« Quando orardes, dizei: Pai... », Lc 11,2), (248) inculcava-lhes atitudes evangélicas (« ...aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração », Mt 11,29) e os iniciava na missão (« ...e os enviou dois a dois... », Lc 10,1). (249)
As tarefas da catequese correspondem à educação das diversas dimensões da fé, uma vez que a catequese é uma formação cristã integral, « aberta a todas as outras componentes da vida cristã ». (250) Em virtude da sua própria dinâmica interna, a fé exige ser conhecida, celebrada, vivida e traduzida em oração. A catequese deve cultivar cada uma dessas dimensões. A fé, porém, se vive na comunidade cristã e se anuncia na missão: é uma fé compartilhada e anunciada. Também estas dimensões devem ser favorecidas pela catequese.
O Concílio Vaticano II assim se expressou sobre essas tarefas: « A formação catequética, que ilumina e fortifica a fé, nutre a vida segundo o espírito de Cristo, leva a uma participação consciente e ativa no mistério litúrgico e desperta para a atividade apostólica ». (251)
As tarefas fundamentais da catequese: ajudar a conhecer, celebrar, viver e contemplar o mistério de Cristo
85. As tarefas fundamentais da catequese são:
– Favorecer o conhecimento da fé
Aquele que encontrou Cristo deseja conhecê-Lo o mais possível, assim como deseja conhecer o desígnio do Pai, que Ele revelou. O conhecimento da fé (fides quae) é exigência da adesão à fé (fides qua). (252) Já na ordem humana, o amor por uma pessoa leva a desejar conhecê-la sempre mais. A catequese deve levar, portanto, a « compreender progressivamente toda a verdade do projeto divino », (253) introduzindo os discípulos de Jesus Cristo no conhecimento da Tradição e da Escritura, a qual é a « eminente ciência de Jesus Cristo » (Fil 3,8). (254)
O aprofundamento no conhecimento da fé ilumina cristãmente a existência humana, alimenta a vida de fé e habilita também a prestar razão dela no mundo. A entrega do símbolo, compêndio da Escritura e da fé da Igreja, exprime a realização desta tarefa.
– A educação litúrgica
De fato, « Cristo está sempre presente em Sua Igreja, sobretudo nas ações litúrgicas ». (255) A comunhão com Jesus Cristo leva a celebrar a sua presença salvífica nos sacramentos e, particularmente, na Eucaristia. A Igreja deseja ardentemente que todos os fiéis cristãos sejam levados àquela participação plena, consciente e ativa, que exigem a própria natureza da Liturgia e a dignidade do seu sacerdócio batismal. (256) Por isso, a catequese, além de favorecer o conhecimento do significado da liturgia e dos sacramentos, deve educar os discípulos de Jesus Cristo « à oração, à gratidão, à penitência, à solicitação confiante, ao sentido comunitário, à linguagem simbólica... », (257) uma vez que tudo isso é necessário, a fim de que exista uma verdadeira vida litúrgica.
– A formação moral
A conversão a Jesus Cristo implica o caminhar na sua seqüela. A catequese deve, portanto, transmitir aos discípulos as atitudes próprias do Mestre. Eles empreendem assim, um caminho de transformação interior, no qual, participando do mistério pascal do Senhor, « passam do velho para o novo homem aperfeiçoado em Cristo ». (258) O Sermão da Montanha, no qual Jesus retoma o decálogo e o imprime com o espírito das bem-aventuranças, (259) é uma referência indispensável na formação moral, hoje tão necessária. A evangelização, « que comporta também o anúncio e a proposta moral », (260) difunde toda a sua força interpeladora quando, juntamente com a palavra anunciada, sabe oferecer também a palavra vivida. Este testemunho moral, para o qual a catequese prepara, deve saber mostrar as conseqüências sociais das exigências evangélicas. (261)
– Ensinar a rezar
A comunhão com Jesus Cristo conduz os discípulos a assumirem a atitude orante e contemplativa que adotou o Mestre. Aprender a rezar com Jesus é rezar com os mesmos sentimentos com os quais Ele se dirigia ao Pai: a adoração, o louvor, o agradecimento, a confiança filial, a súplica e a contemplação da sua glória. Estes sentimentos se refletem no Pai Nosso, a oração que Jesus ensinou aos discípulos e que é modelo de toda oração cristã. A «entrega do Pai Nosso », (262) resumo de todo o Evangelho, (263) é, portanto, verdadeira expressão da realização desta tarefa. Quando a catequese é permeada por um clima de oração, o aprendizado de toda a vida cristã alcança a sua profundidade. Este clima se faz particularmente necessário quando o catecúmeno e os catequizandos encontram-se diante dos aspectos mais exigentes do Evangelho e se sentem fracos, ou quando descobrem, admirados, a ação de Deus na sua vida.
Outras tarefas fundamentais da catequese: iniciação e educação à vida comunitária e à missão
86. A catequese torna o cristão idôneo a viver em comunidade e a participar ativamente da vida e da missão da Igreja. O Concílio Vaticano II aponta a necessidade, para os pastores, de « desenvolver devidamente o espírito de comunidade » (264) e para os catecúmenos, de « aprender a cooperar ativamente na evangelização e na edificação da Igreja ». (265)
– A educação para a vida comunitária
a) A vida cristã em comunidade não se improvisa e é preciso educar para ela, com cuidado. Para esta aprendizagem, o ensinamento de Jesus sobre a vida comunitária, narrado pelo Evangelho de Mateus, requer algumas atitudes que a catequese deverá inculcar: o espírito de simplicidade e de humildade (« se não vos converterdes e não vos tornardes como as crianças... », Mt 18,3); a solicitude pelos pequeninos (« Caso alguém escandalize um desses pequeninos que crêem em mim... », Mt 18,6); a atenção especial para com aqueles que se afastaram (« vai à procura da ovelha extraviada... », Mt 18,12); a correção fraterna (« ... vai corrigi-lo a sós », Mt 18,12); a oração em comum (« se dois de vós estiverem de acordo na terra sobre qualquer coisa que queiram pedir... », Mt 18,19); o perdão mútuo (« até setenta e sete vezes... », Mt 18,22). O amor fraterno unifica todas estas atitudes: « Amai-vos uns aos outros como eu vos amei » (Jo 13,34).
b) Ao educar para este sentido comunitário, a catequese dará uma especial atenção à dimensão ecumênica, e encorajará atitudes fraternas para com os membros de outras Igrejas cristãs e comunidades eclesiais. Por isso, a catequese, ao procurar atingir esta meta, exporá com clareza toda a doutrina da Igreja Católica, evitando expressões que possam induzir ao erro. Favorecerá, além disso, « um bom conhecimento das outras confissões », (266) com as quais existem bens comuns, tais como: « a Palavra escrita de Deus, a vida da graça, a fé, a esperança, a caridade e outros dons interiores do Espírito Santo ». (267) A catequese terá uma dimensão ecumênica, na medida em que saberá suscitar e alimentar « um verdadeiro desejo de unidade », (268) feito não em vista de um fácil irenismo, mas em vista da unidade perfeita, quando o Senhor assim o desejar e através das vias que Ele escolher.
– A iniciação à missão
a) A catequese é igualmente aberta ao dinamismo missionário. (269) Ela se esforça por habilitar os discípulos de Jesus a se fazerem presentes, como cristãos, na sociedade e na vida profissional, cultural e social. Prepara-os também a prestarem a sua cooperação nos diferentes serviços eclesiais, segundo a vocação de cada um. Este empenho evangelizador origina-se, para os fiéis leigos, dos sacramentos da iniciação cristã e do caráter secular de sua vocação. (270) É também importante usar todos os meios disponíveis para suscitar vocações sacerdotais e de particular consagração a Deus, nas diversas formas de vida religiosa e apostólica e para acender no coração de cada um a vocação especial missionária.
As atitudes evangélicas que Jesus sugeriu aos seus discípulos, quando os iniciou na missão, são aquelas que a catequese deve alimentar: ir em busca da ovelha perdida; anunciar e curar ao mesmo tempo; apresentar-se pobres, sem posses nem mochila; saber assumir a rejeição e a perseguição; pôr a própria confiança no Pai e no amparo do Espírito Santo; não esperar outra recompensa senão a alegria de trabalhar pelo Reino. (271)
b) Ao educar para este sentido missionário, a catequese formará ao diálogo inter-religioso, que pode tornar os fiéis idôneos a uma comunicação fecunda com os homens e mulheres de outras religiões. (272) A catequese mostrará que os laços entre a Igreja e as outras religiões não cristãs são, em primeiro lugar, aqueles da origem comum e do fim comum do gênero humano, assim como também aqueles das múltiplas « sementes da Palavra », que Deus depôs naquelas religiões. A catequese ajudará também a saber conciliar e, ao mesmo tempo, a saber distinguir o « anúncio de Cristo » do « diálogo inter-religioso ». Estes dois elementos, embora conservem a sua íntima relação, não devem ser confundidos nem considerados equivalentes. (273) Com efeito,« o diálogo não dispensa da evangelização ». (274)
Algumas considerações sobre o conjunto destas tarefas
87. As tarefas da catequese constituem, conseqüentemente, um rico e variado conjunto de aspectos. Sobre este conjunto, é oportuno tecer algumas considerações:
– Todas as tarefas são necessárias. Assim como para a vitalidade de um organismo humano, é necessário que funcionem todos os seus órgãos, também para o amadurecimento da vida cristã, é preciso que sejam cultivadas todas as suas dimensões: o conhecimento da fé, a vida litúrgica, a formação moral, a oração, a pertença comunitária, o espírito missionário. Se a catequese transcurar uma dessas dimensões, a fé cristã não alcançará todo o seu desenvolvimento.
– Cada tarefa, à sua maneira, realiza a finalidade da catequese. A formação moral, por exemplo, é essencialmente cristológica e trinitária, plena de senso eclesial e aberta à dimensão social. O mesmo acontece com a educação litúrgica, essencialmente religiosa e eclesial, mas também muito exigente no seu empenho evangelizador em favor do mundo.
– As tarefas se implicam mutuamente e se desenvolvem conjuntamente. Cada grande tema catequético, por exemplo, a catequese sobre Deus Pai, tem uma dimensão cognoscitiva e implicações morais; interioriza-se na oração e se assume no testemunho. Uma tarefa chama outra: o conhecimento da fé torna idôneos à missão; a vida sacramental dá força para a transformação moral.
– Para realizar as suas tarefas, a catequese se vale de dois grandes meios: a transmissão da mensagem evangélica e a experiência da vida cristã. (275) A educação litúrgica, por exemplo, necessita explicar o que é a liturgia cristã e o que são os sacramentos; porém deve também fazer experimentar os diversos tipos de celebração, fazer descobrir e amar os símbolos, o sentido dos gestos corporais, etc... A formação moral não apenas transmite o conteúdo da moral cristã, mas cultiva também, ativamente, as atitudes evangélicas e os valores cristãos.
– As diferentes dimensões da fé são objeto de educação, tanto no seu aspecto de « dom » quanto no seu aspecto de « compromisso ». O conhecimento da fé, a vida litúrgica e a seqüela de Cristo são, cada uma, um dom do Espírito, que se recebe na oração e, ao mesmo tempo, um compromisso de estudo, espiritual, moral e testemunhal. Ambos os aspectos devem ser cultivados. (276)
– Cada dimensão da fé, assim como a fé no seu conjunto, deve enraizar-se na experiência humana, sem permanecer na pessoa como algo de postiço ou de isolado. O conhecimento da fé é significativo, ilumina toda a existência e dialoga com a cultura; na liturgia, toda a vida pessoal é uma oferta espiritual; a moral evangélica assume e eleva os valores humanos; a oração é aberta a todos os problemas pessoais e sociais. (277)
Como indicava o Diretório de 1971, « é muito importante que a catequese conserve esta riqueza de diversidade de aspectos, de forma que nenhum aspecto seja isolado, em detrimento dos demais ».
O catecumenato batismal: estrutura e fases
88. A fé, impulsionada pela graça divina e cultivada pela ação da Igreja, experimenta um processo de amadurecimento. A catequese, a serviço desse crescimento, é uma ação gradual. Uma oportuna catequese é disposta por graus. (278)
No catecumenato batismal, a formação se desenvolve em quatro etapas:
– o pré-catecumenato, (279) caracterizado pelo fato que nele se realiza a primeira evangelização, em vista da conversão, e se explicita o « kerigma » do primeiro anúncio;
– o catecumenato (280) propriamente dito, destinado à catequese integral e em cujo início tem lugar a « entrega dos Evangelhos »; (281)
– o tempo da purificação e iluminação, (282) que fornece uma preparação mais intensa aos sacramentos da iniciação, e no qual tem lugar a « entrega do Símbolo » (283) e a « entrega da Oração do Senhor »; (284)
– o tempo da mistagogia, (285) caracterizado pela experiência dos sacramentos e pelo ingresso na comunidade.
89. Estas etapas da grande tradição catecumenal, repletas de sabedoria, inspiram as fases da catequese. (286) Na época dos Padres da Igreja, de fato, a formação propriamente catecumenal se realizava mediante a catequese bíblica, centrada na narração de História da salvação; a preparação imediata ao Batismo, por meio da catequese doutrinal, que explicava o Símbolo e o Pai Nosso, recém entregues, com suas implicações morais; e a etapa que sucedia os sacramentos de iniciação, mediante a catequese mistagógica, que ajudava a interiorizar tais sacramentos e a incorporar-se na comunidade. Esta concepção patrística continua a ser uma fonte de luz para o Catecumenato atual e para a própria catequese de iniciação.
Esta, uma vez que é acompanhamento do processo de conversão, é essencialmente gradual; e uma vez que está a serviço daquele que decidiu seguir Cristo, é eminentemente cristocêntrica.
O Catecumenato batismal, inspirador da catequese na Igreja
90. Dado que a missão ad gentes é o paradigma de toda a missão evangelizadora da Igreja, o Catecumenato batismal, que lhe é inerente, é o modelo inspirador da sua ação catequizadora. (287) Por isso, é oportuno sublinhar os elementos do Catecumenato que devem inspirar a catequese atual e o significado metodológico dos mesmos. É preciso, todavia, colocar a premissa que entre os catequizandos e os catecúmenos, (288) e entre catequese pós-batismal e catequese pré-batismal, que lhes é respectivamente administrada, existe uma diferença fundamental. Ela provém dos sacramentos de iniciação recebido pelos primeiros, os quais « já foram introduzidos na Igreja e já foram feitos filhos de Deus por meio do Batismo. Portanto, o fundamento da sua conversão é o Batismo já recebido, cuja força devem desenvolver ». (289)
91. Diante desta substancial diferença, consideram-se a seguir alguns elementos do Catecumenato batismal, que devem ser fonte de inspiração para a catequese pós-batismal:
– O Catecumenato batismal recorda constantemente a toda a Igreja, a importância fundamental da função da iniciação, com os basilares fatores que a constituem: a catequese e os sacramentos do Batismo, da Confirmação e da Eucaristia. A pastoral de iniciação cristã é vital para toda Igreja particular.
– O Catecumenato batismal é responsabilidade de toda a comunidade cristã. De fato, « tal iniciação cristã não deve ser apenas obra dos catequistas e dos sacerdotes, mas de toda a comunidade de fiéis, e sobretudo dos padrinhos ». (290) A instituição catecumenal incrementa assim, na Igreja, a consciência da maternidade espiritual que ela exerce em toda forma de educação na fé. (291)
– O Catecumenato batismal é todo impregnado pelo mistério da Páscoa de Cristo. Por isso, « toda iniciação deve relevar claramente o seu caráter pascal ». (292) A Vigília pascal, centro da liturgia cristã, e a sua espiritualidade batismal, são inspiração para toda a catequese.
– O Catecumenato batismal é também, lugar privilegiado de inculturação. Seguindo o exemplo da Encarnação do Filho de Deus, feito homem num momento histórico concreto, a Igreja acolhe os catecúmenos integralmente, com os seus vínculos culturais. Toda a ação catequizadora participa desta função de incorporar na catolicidade da Igreja, as autênticas « sementes da Palavra » disseminadas nos indivíduos e nos povos. (293)
– Finalmente, a concepção do Catecumenato batismal, como processo formativo e verdadeira escola de fé, oferece à catequese pós-batismal uma dinâmica e algumas notas qualificativas: a intensidade e a integridade da formação; o seu caráter gradual, com etapas definidas; a sua vinculação com ritos, símbolos e sinais, especialmente bíblicos e litúrgicos; a sua constante referência à comunidade cristã...
A catequese pós-batismal, sem dever reproduzir mimeticamente a configuração do Catecumenato batismal, e reconhecendo aos catequizandos a sua realidade de batizados, deverá inspirar-se nesta « escola preparatória à vida cristã », (294) deixando-se fecundar pelos seus principais elementos caracterizadores.

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