Texto aprovado no dia 10/04/200846a
Assembléia Geral
Itaici – Indaiatuba, SP,
de 2 a 11 de abril de 2008
Objetivo geral
Evangelizar,a partir do encontro com Jesus Cristo,como discípulos missionários,à luz da evangélica opção preferencial pelos pobres,promovendo a dignidade da pessoa,renovando a comunidade,participando da construção de uma sociedade justa e solidária,“para que todos tenham Vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10).
9 Apresentação Esperadas há um ano, enraizadas na realidade, nutridas com a memória da caminhada, banhadas no acontecimento de Aparecida, elaboradas em espírito de comunhão fraterna por pessoas que, na força do Espírito e a partir do chamado a um encontro pessoal com Jesus Cristo, querem ser seus(as) discípulos(as) missionários(as) para que, nele,nossos povos tenham vida: eis as novas Diretrizes da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil.Sucessivos encontros nos mais diversos níveis foram dando forma, conteúdo e vida a este decisivo instrumento da pastoral orgânica da Igreja em nosso país.Foi na 46a Assembléia Geral dos Bispos do Brasil,em Itaici, de 2 a 11 de abril de 2008, que as Diretrizes Gerais ocuparam o lugar do tema central, o mais importante.O texto preparatório, já remodelado por muitas emendas e sugestões, foi distribuído, estudado pessoalmente e em grupo; revisto, discutido, votado e aprovado.É bom esclarecer que, pela seqüência do calendário,a elaboração das Diretrizes já deveria ter sido efetuada na Assembléia de 2007. Tendo em vista, porém, a realização da V Conferência Geral dos Bispos da América Latina e do Caribe, em maio de 2007, a definição das Diretrizes foi protelada por um ano, exatamente para incorporar as contribuições de Aparecida.10 Desse modo, uniram-se em harmonia duas vertentes.De um lado, a tradição da pastoral orgânica no Brasil,suscitada desde o Plano de Emergência, passando pelos Planos da Pastoral de Conjunto, chegando até as Diretrizes Gerais. Do outro lado, o Documento e o Acontecimento de Aparecida, com suas intuições, com suas luzes e com sua inestimável experiência. Este último, por sua vez, indicava:“As Conferências Episcopais ou outros organismos locais avancem em considerações mais amplas, concretas e adaptadas às necessidades do próprio território” (Documento de Aparecida, n. 431).De fato, a graça de ser discípulo-missionário pelo encontro pessoal com Cristo, o sentido da vida encontradona comunhão da comunidade, o despertar da alegria da missão permanente para a vida, vêm infundir novo ânimo ao serviço da caridade, ao anúncio da Palavra e à celebração na liturgia. É assim que a missão se revigora na acolhida da pessoa, na renovação da comunidade e na construção de uma sociedade mais justa e solidária.Talvez muitos hão de perguntar: por que, desta vez,o período da vigência das novas Diretrizes é só de três anos(2008-2010)? É que, na organização da CNBB, a Assembléia elabora primeiro as Diretrizes. Depois, escolhe aqueles que deverão colaborar mais diretamente para colocá-la sem prática, ou seja, a Presidência e os membros do CONSEP– Conselho Episcopal Pastoral. Dada a espera pela V Conferência de Aparecida, estas Diretrizes durarão um ano 11a menos, podendo, porém, ser prorrogadas no momento oportuno, por mais quatro anos, se a Assembléia Geral dos Bispos assim o decidir.É importante notar que as Diretrizes não são um documento a mais. São o Documento-Chave para a leitura e aplicação de todos os demais. Em meio a tantos artigos,textos, documentos e estudos de diversas pessoas, organismos,movimentos e pastorais, elas são imprescindíveis para todos os que se alegram em assumir a Missão Evangelizadora:Comissões Episcopais, Dioceses, redes de comunidades,organismos, movimentos, congregações, em suma todos os agentes de pastoral. Assim, se constrói a unidade respeitando e valorizando as diferenças, bem como evitando a dispersão de esforços e iniciativas. Com isso, não se desvaloriza nenhuma atividade pessoal nem se desmerece nenhum carisma especial. Antes, eles são reforçados, partilhados,comunicados, e a Igreja, Povo de Deus e Corpo de Cristo, é edificada e apresentada como testemunho digno de credibilidade do Plano de Amor do Pai.Ao apresentarmos estas Diretrizes da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil agradecemos a todos os que participaram na sua elaboração e conclamamos a todos adarmo-nos as mãos para traduzir as palavras em vida, os desafios em entusiasmo e os propósitos em concretização.Em toda a Ação Evangelizadora esteja presente agraça da Trindade Santa em nome de quem iniciamos toda a prece e de quem recebemos toda a inspiração para viver como discípulos missionários.12 Maria, Mãe da Igreja, em cujo Santuário em Aparecida fomos retemperados para a missão permanente, nos ajude com seu exemplo e sua materna proteção.Brasília, 25 de abril de 2008.Festa de São Marcos Evangelista Dom Dimas Lara Barbosa Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro - RJSecretário Geral da CNBB13 Introdução1. No espírito do grande evento de graça da Conferênciade Aparecida, apresentamos estas Diretrizes, a fim deque a Igreja no Brasil viva uma forte comoção e experimente a alegria de ser discípula missionária, para que nossos povos em Cristo tenham Vida.2. Ao Pai de todos os dons, agradecemos a graça da fée a missão que ele confia à sua Igreja no Brasil. A fénos permite contemplar a realidade com os olhos de Jesus Cristo e nos ilumina em nosso peregrinar por este mundo, tão carente de referências sólidas e dominadopor um relativismo envolvente. Essa fé nos permite descobrir que nunca atravessamos a aventura da vida humana sozinhos, mas sempre acompanhados, inspiradose fortalecidos pelo Espírito que o Pai, por Cristo,nos envia. Essa fé nos capacita a assumir a missão de Jesus Cristo de realizar, na história, o Reino de Deus,proclamando-o com nossas palavras e testemunhando o em nossa vida.3. Agradecemos a Deus a comunidade eclesial que nos acolheu e que nos alimenta com a Palavra de Deus ecom os sacramentos, com o exemplo de seus membros,com a presença de Maria Santíssima e dos santos e santas. Agradecemos a dedicação de tantos presbíteros,diáconos, religiosos e religiosas, cristãos leigos e leigas que, com generosidade, se consagraram ao serviço do 14 Reino de Deus. Reconhecemos e agradecemos a fé simples e firme dos pobres, seu amor à Mãe de Deus, à Igreja Católica, seu exemplo de partilha e solidariedade numa cultura individualista voltada para os bens materiais.Agradecemos a todos aqueles que, no exercício de sua profissão, no mundo da política e da cultura,têm lutado pela promoção humana e pela defesa da vida. Reconhecemos a cooperação, participação e abnegada dedicação das mulheres na Igreja e na sociedade,em sua busca de participação efetiva “na vida eclesial, familiar, cultural, social e econômica, criando espaços e estruturas que favoreçam maior inclusão”.1 Agradecemos por podermos contribuir, como Igreja,para a promoção dos excluídos da sociedade tornando a humanidade mais solidária, justa e fraterna, seguindo a mensagem evangélica.4. Essa é a razão de ser da alegria que experimentamos por sermos discípulos missionários de Jesus Cristo,chamados e abençoados por Deus desde toda a eternidade.2 Alegria de sermos cristãos, movidos pela esperança que não decepciona, instrumentos de Deus para levar essa alegria da fé a nossos contemporâneos,muitos deles desorientados na atual sociedade pluralista.Temos a convicção de que “conhecer a Jesus é o melhor presente que qualquer pessoa pode receber;tê-lo encontrado foi o melhor que ocorreu em nossas 1 DA, n. 454.2 Ef 1,3.15 vidas; e fazê-lo conhecido com nossa palavra e obras é nossa alegria”.35. Numa época de profundas e sucessivas mudanças socioculturais que afetam nosso mundo, trazendo novos e sérios desafios, a Igreja é chamada a proclamar com coragem, entusiasmo e criatividade a mensagem perene do Evangelho, para que nossos povos “tenham vida e a tenham em abundância”,4 a qual consiste em acolhermos a oferta que Deus nos oferece em Jesus Cristo, para assim participarmos de sua própria vida trinitária.5 “Essa vida nova de Jesus Cristo atinge oser humano por inteiro e desenvolve em plenitude a existência humana em sua dimensão pessoal, familiar,social e cultural.”6 Toda a missão de Jesus Cristo consistiu em levar à humanidade essa vida divina manifestada em suas palavras 7 e concretizada em suas ações. O Reino que ele proclamava era de fato um Reino de Vida.6. O conteúdo central da missão é levar vida plena a todos, e toda a atividade missionária é compromisso e empenho por uma vida mais digna em Cristo.8 “Porém,as condições de vida de muitos abandonados, excluídos 3 DA, n. 29.4 Jo 10,10.5 Cf. 2Pd 1,4.6 DA, n. 356.7 Cf. Jo 6,68.8 Cf. DA, n. 361.16 e ignorados em sua miséria e dor contradizem esse projeto do Pai e desafiam os cristãos a maior compromisso a favor da cultura da vida.”9 Pois o amor a Deusse mostra autêntico no amor ao próximo e, sobretudo,ao próximo em necessidade.10 Daí, ser “o serviço de caridade entre os pobres um campo de atividade que caracteriza de maneira decisiva a vida cristã, o estilo eclesial e a programação pastoral”.117. Essa evangelização é tarefa de todos os fiéis, chamado sem virtude de seu Batismo a serem discípulos missionários de Jesus Cristo.12 De modo especial o laicato,devidamente formado, deve “atuar como verdadeiro sujeito eclesial”.13 Todo cristão só faz jus a esse nome enquanto acolhe a pessoa de Jesus Cristo e assume sua missão pelo Reino.14 Só assim ele transforma sua vida,orientando-a pelo estilo de vida do próprio Jesus.15 “Amissão não é tarefa opcional, mas parte integrante da identidade cristã.”16 “Ela não se limita a um programa ou projeto, mas é compartilhar a experiência do acontecimento do encontro com Cristo, testemunhá-lo e 9 DA, n. 358.10 Cf. Mt 25,40.11 DA, n. 394.12 Cf. Bento XVI. DA: Discurso Inaugural, n. 3.13 DA, n. 497.14 DA, n. 144.15 DA, n. 131; 139.16 DA, n. 144.17 anunciá-lo de pessoa a pessoa”,17 tornando “visível o amor misericordioso do Pai, especialmente para com os pobres e pecadores”.188. O desempenho da missão evangelizadora pede, de cada um de nós, uma profunda vivência de fé, fruto de uma experiência pessoal de encontro com a pessoa de Jesus Cristo, em seu seguimento. Nossa conversão pessoal nos possibilita impregnar com uma “firme decisão missionária todas as estruturas eclesiais e todos os planos pastorais […] de qualquer instituição da Igreja”,19 exigindo nossa conversão pastoral, que implica escuta e fidelidade ao Espírito,20 impelindo-nos à missão e sensibilidade às mudanças socioculturais,animada por “uma espiritualidade de comunhão e participação”.219. Cada diocese será uma “comunidade missionária”22 à medida que não fortalecer apenas sua consciência missionária,com gestos concretos de ida ao encontro dos outros, mas também responder aos grandes problemas da sociedade onde se encontra.23 Esses desafios exigem 17 DA, n. 145.18 DA, n. 147.19 DA, n. 365.20 DA, n. 366.21 DA, n. 368.22 João Paulo II. ChL, n. 32.23 DA, n. 168.18“imaginação e criatividade para chegar às multidões”.24 Em se considerando a cultura urbana, é preciso um estilo pastoral adequado que atinja as pessoas através de práticas pastorais e estruturas evangelizadoras.25 De modo especial, pois que os pobres são a maioria da população, a Igreja deverá assumir mais efetivamente o desafio missionário com o espírito evangélico que a anima, sendo realmente a “casa dos pobres”.2610. Estamos conscientes de nossos limitados recursos materiais, bem como da insuficiência de agentes de pastoral para respondermos devidamente a esses apelos do Espírito. Mas não esmorecemos nem desanimamos,pois somos animados pelo mesmo Espírito que impeliu os apóstolos, em circunstâncias mais adversas que as nossas, a proclamarem corajosamente o Evangelho de Deus, o Cristo Ressuscitado, nossa Páscoa. Imploramos também a ajuda da Mãe de Deus, Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, tão querida por nosso povo, para que nos acompanhe na missão evangelizadora que seu Filho nos confia.11. Nos capítulos seguintes examinaremos, primeiramente,em seus aspectos fundamentais, a realidade quenos interpela e à qual vai mais concretamente dirigida nossa missão. Trata-se de uma exposição descritiva que pretende apenas mencionar os elementos de cunho cul-24 DA, n. 173.25 DA, n. 518a.26 DA, n. 8.19tural, social, econômico, político, ético e religioso mais marcantes na atual sociedade brasileira. Em seguida, a iluminação teológica apontará e explicitará as quatro exigências intrínsecas da evangelização: o serviço, o diálogo, o anúncio e o testemunho de comunhão. A ação evangelizadora acolhe essas exigências e se realiza através do tríplice múnus: ministério da Palavra,ministério da liturgia e ministério da caridade. Também nesse mesmo capítulo, se apresentará a vocação do discípulo missionário, sua formação, bem como a Igreja como comunidade missionária. No terceiro capítulo veremos as pistas de ação pastoral que nortearão a Igreja no Brasil para os próximos anos. Finalmente,na conclusão, abordaremos a Missão Continental em nosso país.
21 Capítulo I A realidade que nos interpela 12. Nosso olhar sobre a realidade brasileira, como discípulos missionários de Jesus Cristo, se dá em meio aluzes e sombras de nosso tempo. As grandes mudanças“nos afligem, mas não nos confundem”.27 Antes,desafiam-nos “a discernir os ‘sinais dos tempos’ à luzdo Espírito Santo, para nos colocar a serviço do Reino,anunciado por Jesus, que veio para que todos tenham vida e a tenham em abundância”.28 A principal luz anos iluminar no discernimento dos sinais dos tempos é a do Espírito de Deus. Aproveitamos a contribuição das ciências sociais e humanas, na medida em que nos fazem conhecer melhor a realidade em que vivemos e clareiam suas causas.13. A novidade das profundas transformações, que acontecem também em nosso país, diferentemente do ocorrido em outras épocas, têm alcance global que,com diferenças e matizes, afetam o mundo inteiro,atingindo todas as dimensões da vida humana. “Um fator determinante dessas mudanças é a ciência e a tecnologia, com sua capacidade de manipular geneticamente a própria vida dos seres vivos, e com sua 27 DA, n. 20.28 DA, n. 33.22 capacidade de criar uma rede de comunicações de alcance mundial, tanto pública como privada, para interagirem tempo real, ou seja, com simultaneidade, não obstante as distâncias geográficas. Como se costuma dizer, a história se acelerou e as próprias mudanças se tornam vertiginosas, visto que se comunicam com grande velocidade a todos os cantos do planeta”,29 configurando uma mudança de época, mais que uma época de mudanças.3014. Como discípulos missionários não vamos, aqui, fazer uma análise meramente científica do contexto de nossa missão evangelizadora. Interessa-nos como discípulos missionários de Jesus Cristo em sua Igreja “saber como esse fenômeno afeta a vida de nossos povos e o sentido religioso e ético de nossos irmãos que buscam infatigavelmente o rosto de Deus e, que, no entanto,devem fazê-lo agora desafiados por novas linguagens do domínio técnico, que nem sempre revelam, mas que também ocultam o sentido divino da vida humana redimida em Cristo”.31 Neste novo contexto sociocultural,“a realidade para o ser humano tornou-se cada vez mais sem brilho e complexa”, ensinando-nos a olhá-la “com mais humildade, sabendo que ela é maior e mais complexa que as simplificações com que costumávamos vê-la em passado ainda não muito distante”.3229 DA, n. 34.30 Cf. DA, n. 44.31 DA, n. 35.32 DA, n. 36.23 Situação sociocultural 15. É o sentido que unifica toda a experiência humana.O contexto sociocultural contemporâneo comprovao fenômeno de uma crescente fragmentação dos referenciais de sentido e relativização dos valores,gerando critérios parciais e múltiplos na consideração das realidades da vida, nas opções religiosas e nos relacionamentos pessoais. Tornou-se difícil percebera unidade de todos os fragmentos dispersos que nos chegam. No entanto, na medida em que nenhum desses critérios parciais consegue nos oferecer um significado adequado a toda a realidade, gera-se uma crise de sentido, levando as pessoas a sentirem-se frustradas,ansiosas e angustiadas pela dificuldade de poder influir nos acontecimentos.3316. Habitualmente esse sentido global, capaz de unificar os diferentes fragmentos, vem das tradições culturais,principalmente religiosas. No entanto, essas tradições estão-se diluindo, sobretudo em seu núcleo mais profundo, constituído pela experiência religiosa devida no interior da família. Os meios de comunicação invadiram todos os espaços e todas as conversas,introduzindo-se na intimidade do lar. Competindo com a sabedoria das tradições, deparamo-nos com a informação de último minuto, a distração, o entretenimento,as imagens dos vencedores que souberam 33 Cf. DA, n. 36.24 usar das ferramentas tecnológicas e das expectativas de prestígio e estima social. A falta de verdadeira informação,que se busca suprir com novas informações,intensifica a ansiedade de quem percebe que está em um mundo opaco, que não compreende.3417. No campo cultural, apesar de aspectos positivos da globalização – maior produção e circulação de bens,facilidade de comunicação, progressos tecnológicos–, a impressão que prevalece na opinião pública,inclusive nos países mais ricos, os mais beneficiados pela globalização, é de desencanto.35 Ela provoca crescimento econômico muito desigual, favorável para alguns países, fraco ou até negativo para outros.Particularmente prejudicial aos países em desenvolvimento tem sido a circulação de capitais especulativos sempre em busca de maior lucro, que repentinamente abandonam esses países e os condenam a crises profundas.Não se percebe com clareza um Projeto de Nação, com substancial diminuição das desigualdades;antes, elas parecem ter aumentado tanto no interior de um mesmo país como entre as diversas nações. Em nossa sociedade, em lugar da segurança e do progresso prometidos, a globalização provocou um aumento sensível de riscos. Temem-se as catástrofes climáticas e ecológicas, conseqüência da intervenção humana 34 Cf. DA, n. 42.35 Cf. CNBB. Doc. Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil: 2003-2006, n. 46. São Paulo, Paulinas, 2003; João Paulo II. Em n. 20.25 sem limites, agressiva ao meio ambiente. Temem-se também possíveis desastres químicos e atômicos. A violência e o terrorismo crescentes são sentidos por todos. Mesmo quem não se preocupa com esses fenômenos mundiais teme pela violência cotidiana e por seu posto de trabalho, vivendo na insegurança de seu futuro e de sua família.18. Diante das incertezas e do risco, as pessoas buscam uma satisfação imediata. E a atual sociedade mantémaceso o desejo de consumo, criando artificialmente novas necessidades, e dando a impressão enganosa de que cada um pode escolher e comprar o que quiser. “A avidez do mercado descontrola o desejo de crianças,jovens e adultos. A publicidade conduz ilusoriamente a mundos distantes e maravilhosos, onde todo o desejo pode ser satisfeito pelos produtos que têm caráter eficaz, efêmero e até messiânico. Legitima-se que os desejos se tornem felicidade. Como só se necessita do imediato, pretende-se alcançar a felicidade através dobem-estar econômico e da satisfação hedonista.”3619. Na esfera da vida privada, com graves conseqüências para a vivência cristã, predomina a mentalidade segundo a qual cada um se julga absolutamente dono de suas decisões, aceitando cada vez menos as orientações da sociedade, mesmo os imperativos éticos mais elementares, gerando um clima de permissividade e de sensualidade. Encontra-se entre nós 36 DA, n. 50.26a generalizada convicção que nega o nexo intrínseco e indivisível entre fé e moral. “As novas gerações são as mais afetadas por essa cultura do consumo em suas aspirações pessoais profundas. Crescem na lógica do individualismo pragmático e narcisista que desperta nelas mundos imaginários especiais de liberdade e igualdade. Afirmam o presente porque o passado perdeu relevância diante de tantas exclusões sociais, políticas e econômicas. Para elas o futuro é incerto. Mesmo assim, participam da lógica da vida como espetáculo considerando o corpo como fonte de referência de sua realidade presente. Têm nova atração pelas sensações e crescem na grande maioria sem referência aos valores e instâncias religiosas.”37 A buscada felicidade, da realização pessoal, da satisfação doindivíduo, que em si são aspirações legítimas e cristãs,tomadas, porém, como absolutas, têm conseqüências negativas sobre as relações sociais, as instituições,os compromissos duradouros, que se tornam frágeis e facilmente descartáveis. A cultura individualista,dissociada dos valores e da ética, está gerando uma cultura de morte.20. Por outro lado, nosso olhar de fé e de esperança também constata aspectos positivos dessa mudança cultural. Entre outros, aparece o valor fundamental da pessoa, de sua liberdade, consciência e experiência,bem como a busca do sentido da vida. Nesse particular,37 DA, n. 51.27 a superação das ideologias permite que a simplicidade e o reconhecimento do fraco e do pequeno surjam como valor. Essa ênfase na apreciação da pessoa abre para nós, discípulos missionários de Jesus Cristo,novos horizontes, nos quais a tradição cristã pode ser retomada.38 A necessidade de construir o próprio destino e o desejo de encontrar razões para a existência podem levar ao encontro com outros para partilhar o vivido, como maneira de dar a si uma resposta. Mas não podemos perder de vista que a ênfase na liberdade e na responsabilidade individual, numa sociedade que promete o acesso a qualquer tipo de bem, convive paradoxalmente com a negação, para às grandes maiorias,dos bens básicos e essenciais para a vida.21. Enquanto discípulos missionários, chamados a encarnar o Evangelho no coração do mundo, percebemos também que a sociedade contemporânea enfraqueceu,e às vezes até eliminou, as comunidades tradicionais. A passagem da agricultura para a indústria provocou uma rápida urbanização e concentrou nas cidades a população,antes dispersa nos campos. Mais recentemente,essa concentração produziu as chamadas megalópoles.O crescimento dos meios de comunicação de massa levou a cidade a exercer uma influência ainda maior,difundindo seus padrões culturais também nas regiões rurais. A grande cidade moderna favorece o contato com uma pluralidade de experiências e de expressões 38 Cf. DA, n. 52.28 culturais, multiplicando as possibilidades de escolha do indivíduo. Este tende a construir, a seu gosto, sua própria identidade. Esta não goza da estabilidade e da nitidez das identidades do passado, carece da solidariedade e do controle próprios de comunidades menores.A aceleração das mudanças contribui também para deixar as pessoas estressadas ou desnorteadas.22. Diante do perigo da massificação, o indivíduo tem,ainda, na família um apoio fundamental, embora ela também esteja menor, reduzida a seu núcleo, mais frágil e exposta a rupturas. Contribuem para fragilizara família: a longa jornada de trabalho fora de casa por parte do pai ou da mãe, a entrega da educação dos filhos a outros, a influência da televisão e da internet na vida das crianças e adolescentes. Além da família,o indivíduo procura sempre mais relações, a partir de sua escolha, por afinidade de interesses. Entre as novas experiências comunitárias, marcadas fortemente por afinidades emocionais, estão também experiências de comunidades e movimentos religiosos, unidos ao redor de uma causa, de um carisma, de um líder e sobretudo de uma acolhida recíproca, cheia de calor humano, que atrai e une os membros do grupo.23. Apesar de circunstâncias adversas, não estamos abandonados à nossa própria sorte. O Senhor da história caminha conosco e nos acompanha com seu Espírito de Vida. Com olhos de fé, ainda que em meio a ambiguidades podemos vê-lo nos movimentos sociais que 29 se articulam em favor de causas mais amplas que as da classe ou do interesse local. Assim, a luta contra as discriminações, a promoção dos direitos da mulher, a preservação do meio ambiente, a defesa dos direitos de culturas e etnias específicas, como a indígena e a afro-brasileira, têm-se revelado como causas capazes de mobilizar grande número de pessoas, muitas delas motivadas pelo próprio Evangelho. A busca da justiça social e de um outro mundo possível, a caminho do Reino definitivo, reúne uma extraordinária e variada a de são de grupos e movimentos. Esse fenômeno manifesta uma consciência planetária e a percepção de que fazemos parte de uma única família universal.Situação econômica 24. A face mais difundida da globalização e tida comode maior êxito é sua dimensão econômica, que se sobrepõe às outras dimensões da vida humana e as condiciona. A dinâmica do mercado absolutiza com facilidade a eficácia e a produtividade como valores reguladores de todas as relações humanas dentro do capitalismo neoliberal. Conduzida por uma ideologia que privilegia o lucro e estimula a concorrência, a globalização segue uma dinâmica de concentração de poder e de riqueza em mãos de poucos. Leva à concentração de recursos físicos, monetários e de informação, produzindo a exclusão de todos aqueles não suficientemente capacitados e informados, aumentando 30 as desigualdades e mantendo na pobreza uma multidão de pessoas.3925. Nessa multidão de pobres e miseráveis, como cristãos inseridos no coração do mundo, somos convidados a localizar rostos concretos,40 de antigas e novas pobrezas,tais como moradores de rua, migrantes, enfermos,dependentes de substâncias químicas e detidos em prisões,41 mulheres excluídas por questões de gênero,etnia e situação socioeconômica; crianças e adolescentes em situação de risco pessoal e social. Não se trata simplesmente de pobreza, mas de algo novo: da exclusão social. Os novos pobres, hoje, não são somente“explorados”, mas “supérfluos” e “descartáveis”.4226. Outra mudança socioeconômica é o desemprego estrutural,que se caracteriza pela diminuição da mão de-obra empregada na indústria, pela fragmentação do processo produtivo e pela flexibilização das relações de trabalho. Nesse contexto de luta pela sobrevivência,o “salve-se quem puder” ameaça a união dos trabalhadores e seu empenho nas lutas coletivas. O fenômeno do desemprego estrutural é particularmente grave,pela amplitude que alcançou e porque atinge muito diretamente a vida e a dignidade de milhões de pessoas,a começar pelos jovens. Ele destrói a dignidade 39 Cf. DA, n. 61s. 40 Cf. DA, n. 65.41 Cf. DA, n. 184-190.42 Cf. DA, n. 65.31 pessoal, a visão de futuro e o sentido de lealdade e solidariedade. 27. O predomínio dessa tendência concentradora da economia capitalista neoliberal, que privilegia o lucro e limita as possibilidades das pequenas e médias empresas obriga-as a se associarem para garantir sua viabilidade. Sua debilidade, porém, traz consigo a precariedade de emprego que podem oferecer. Sem uma política de proteção específica do Estado face a elas, inspirada no princípio de subsidiariedade, corre se o risco de que as economias de escala dos grandes consórcios terminem por se impor como única forma de terminante de dinamismo econômico.4328. As instituições financeiras e as grandes empresas nacionais e multinacionais se fortalecem a ponto de subordinar as economias locais, debilitando os Estado sem sua capacidade de levar adiante projetos de desenvolvimento a serviço de suas populações. As grandes indústrias extrativistas e a agroindústria, com freqüência, não respeitam os direitos das populações locais e não agem responsavelmente face às exigências da ecologia e da preservação dos recursos naturais.4429. As populações rurais, em sua maioria, sofrem as conseqüências da pobreza, agravada pela falta de acesso à terra própria, de financiamento adequado, de condições 43 Cf. DA, n. 63.44 Cf. DA, n. 66.32 gerais de vida digna e de apoio à agricultura familiar. A reforma agrária continua sendo uma exigência diante da escandalosa concentração de terra nas mãos de poucas pessoas e grupos econômicos e da violência no campo.30. São altamente alarmantes os níveis de corrupção na economia, envolvendo tanto o setor público quanto o setor privado. Mais grave é a constatação de que essa corrupção está vinculada ao tráfico de drogas, de armas e de pessoas.31. Fenômeno preocupante é, também, o processo da mobilidade humana, sobretudo causado pela busca de trabalho e de condições melhores de vida. A exploração do trabalho, inclusive infantil, chega, em alguns casos,a gerar condições de verdadeira escravidão. Gera também a vergonhosa exploração sexual, especialmente de crianças e adolescentes. Em nível internacional, o país se priva de mão-de-obra especializada, o que retarda sua independência socioeconômica.4532. Apesar de todas as dificuldades econômicas da grande maioria da população, e da ainda escandalosa disparidade de renda, os últimos anos vêm apontando para melhorias significativas que já estão se configurando como tendências. O desemprego vem caindo e o número de empregos formais crescendo. A renda e o 45 Cf. DA, n. 73.33 consumo da população têm crescido, impulsionando o crescimento da economia. 46 Situação sociopolítica 33. É inquestionável o enfraquecimento da política decorrente das mudanças culturais como a difusão do individualismo e, principalmente, o crescimento do poder dos grandes grupos econômicos, impondo suas decisões e substituindo as instâncias políticas, com riscos para a democracia. Certamente, houve desencantoe diminuição da confiança do povo nos políticos, nas instituições públicas e nos três poderes do Estado; em contrapartida, surgiram novos sinais de esperança e de empenho político, como muitas organizações alternativas,não-governamentais. Também muitas pessoas,inclusive jovens, se reúnem em movimentos sociais,sem vinculação partidária, para defender, com energia,os direitos individuais e para expressar a esperança de um outro mundo possível.34. Constatamos que atualmente na América Latina,depois de uma época de enfraquecimento do Estado devido à aplicação de ajustes estruturais na economia 46 Cf. Pesquisa da financeira Cetel em, financeira do grupo francês PNB Paribas com a Ips os, publicado no jornal O Estado de Minas, dia 02.08.2007:Na clássica distribuição da população em classes, A – B – C – D – E, pela primeira vez na história, o número dos que pertencem à classe C (renda média mensal de R$ 1.100) superou o das classes D e E, constituindo a maioria no Brasil (46% da população contra 39% das classes D e E).34 por recomendação de organismos financeiros internacionais,há uma crescente consciência da sociedade em exigir políticas públicas nos campos da saúde,educação, segurança alimentar, previdência social,acesso à terra e à moradia, criação de empregos e apoio a organizações solidárias.4735. Preocupa-nos, como construtores da paz, que a vida social em convivência harmônica e pacífica está se deteriorando gravemente em nosso país pelo crescimento da violência, que banaliza a vida, manifestada em roubos, assaltos, sequestros e assassinatos. A violência se reveste de várias formas e tem diversos agentes: o crime organizado e o narcotráfico, grupos paramilitares,violência generalizada, tanto na periferia das grandes cidades como no campo, violência de grupos juvenis e crescente violência intra familiar Suas causas são múltiplas e interdependentes, expressões diversas da ausência de Deus no coração de muitas pessoas: a exclusão, a idolatria do dinheiro, o avanço da ideologia individualista e utilitarista, a falta de respeito pela dignidade de cada pessoa, a deterioração do tecido social, a corrupção na esfera pública nos três podere se também no setor privado, as ramificações com organizações internacionais do tráfico de drogas, armas,pessoas, paraísos fiscais e lavagem de dinheiro.48 Particularmente alarmante é a banalização da vida, ferindo 47 Cf. DA, n. 76.48 Cf. DA, n. 78.35 a bioética, que vai desde a manipulação de embriões até a freqüência de homicídios por motivos banais,passando pela difusão do aborto, a insensibilidade ante a saúde dos pobres, a debilitação pela fome e o desamparo dos idosos e crianças. Fator agravante é a falência do sistema penal e da saúde. Diante de tudo isso, nós, cristãos, não podemos calar.Situação ecológica 36. A rica biodiversidade do Brasil, com seus diversos biomas – Amazônia, pantanal, caatinga, cerrado, mata atlântica, pampas –, tem suscitado especial cobiça internacional e tem sido aceleradamente destruída, até mesmo com a ameaça de extinção de suas espécies.A devastação ambiental da Amazônia e agressões à dignidade, à cultura dos povos indígenas, por parte de fortes interesses e grupos econômicos se intensificam.O acervo de conhecimentos tradicionais sobre a utilização dos recursos naturais tem sido objeto de apropriação intelectual ilícita, sendo patenteados por indústrias farmacêuticas e de biogenética.4937. A isso se soma a agressão à natureza, à terra e às águas tratadas como mercadoria negociável, disputada pelas grandes potências.50 A situação é agravada, em contexto mais amplo, pelo aquecimento global, pelo 49 Cf. DA, n. 83.50 Cf. DA, n. 84.36 exaurimento dos recursos naturais e pela exploração predatória do bem comum, que é a natureza, por grupos ávidos de benefícios próprios. Trata-se de conseqüências de um modelo de desenvolvimento econômico capitalista-consumista, que privilegia o mercado financeiro e prioriza o agronegócio. Isso leva à expansão da pecuária extensiva e das monoculturas de soja, eucalipto, cana-de-açúcar, assim como a projetos como o do biocombustível, em detrimento da agricultura familiar, da reforma agrária e de projetos populares como a construção de cisternas, por exemplo,no semi-árido do país.Situação religiosa 38. Chamados a tecer laços de fraternidade, enquanto filhos de um mesmo Pai, vemos que a mentalidade individualista alastrou-se também no campo religioso.O indivíduo, sempre mais, escolhe sua religião num contexto pluralista. Mesmo aderindo a uma tradição ou a uma instituição religiosa, tende a escolher crenças,ritos e normas que lhe agradam subjetivamente ou se refugia numa adesão parcial, com fraco sentido de pertença institucional. Ou, ainda, procura construir,numa espécie de mosaico – sua religião pessoal com fragmentos de doutrinas e práticas de várias religiões.Finalmente, aumenta o número dos que recusam a adesão a qualquer instituição religiosa e consideram suas convicções uma “religião invisível”, com pouca 37ou nenhuma prática exterior. Cresce também a atração por práticas esotéricas, baseadas em falsas doutrinas,afetando a fé cristã.39. Constatamos também a tendência à inversão de sentido da experiência religiosa. Nesse caso, a religião deixa de ser pensada e vivida como uma forma de reconhecimento, adoração e entrega ao Criador, obediência na fé, serviço a Deus e vivência comunitária.É vista numa ótica utilitarista, por oferecer bem-estar interior, terapia ou cura de males, sucesso na vida e nos negócios, como aparece na chamada “teologia da prosperidade”. Nessa modalidade, a religião se torna muito procurada, inclusive pela mídia. Esta acaba por banalizar a religião, reduzi-la a mais um espetáculo para entreter o público. Faz-se presente uma crescente tendência, em alguns setores da sociedade, em admitira prática religiosa apenas na esfera privada, em base a uma sociedade laicista, criticando as manifestações da Igreja em matéria de moral e presença na vida pública.40. Há igualmente, em novas expressões religiosas, uma tendência generalizada, inclusive por influência decertos psicólogos, a afirmar sem mais a inocência dos indivíduos, de modo que ninguém deve se sentir pecador ou culpado. Outros grupos religiosos atribuem toda a culpa aos demônios ou aos espíritos malignos.Há, todavia, movimentos religiosos autônomos que,através de proselitismo, enganam com a chamada “te38 ologia da prosperidade”. Conseqüentemente, ninguém se sente responsável por corrigir o que está errado na sociedade, na qual convivem, estranhamente, muita religiosidade e muita criminalidade, busca de Deus e injustiça.41. Essas tendências, no Brasil, apareceram nos dados do Censo 2000, que evidenciam também a diversidade das situações regionais: metrópoles e mundo rural,litoral e interior, Nordeste e outras grandes áreas. 51 Pesquisas mais recentes do IBGE e da Fundação Getúlio Vargas trazem novos dados à reflexão,52 mas que precisam ser avaliados com prudência. Por exemplo, o Censo pergunta pela religião do entrevistado. Ora, um bom número de brasileiros frequenta atos religiosos 51 “Os principais dados relativos à questão ‘religião’ são três: a) A diminuição da porcentagem dos cristãos católicos, de 83,3% (1991) para 73,9% (2000);essa diminuição, de quase dez pontos percentuais em nove anos, foi muito rápida, se considerarmos que uma diminuição semelhante aconteceu, anteriormente,num prazo de noventa anos (de 98,9% em 1890 para 89,0% em 1980); b) O aumento da porcentagem dos cristãos evangélicos, de 9,0%(1991) para 15,6% (2000); c) O aumento dos que se declararam ‘sem religião’, que passaram de 4,7% da população (1991) para 7,4% (2000),ou de 7 milhões para 12,5 milhões” (Cf. CNBB. Doc. Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil: 2003-2006, n. 56. São Paulo,Paulinas, 2003).52 Pela primeira vez desde 1872, a diminuição do número de católicos teve um estancamento entre 2000 e 2003 (73,89% – 73,79%). Os que se declaravam sem religião caem de 7,4% para 5,1%. Os evangélicos (conjuntamente tradicionais e pentecostais) seguem seu crescimento, passando de 16,2%para 17,9%. O crescimento dos evangélicos tradicionais está se dando a taxas mais aceleradas que os evangélicos pentecostais, sendo essa outra novidade a ser ressaltada.39 de várias denominações.53 Além disso, uma pesquisa qualitativa mostraria que há muitos modos de crer e de praticar dentro do próprio catolicismo, no mundo evangélico ou em outras religiões.42. Outra observação importante é que os dados sobre religião podem ser comparados com outros dados do Censo, como diminuição da natalidade, aumento das uniões consensuais sem legalização, aumento da escolaridade etc. Todos esses dados apontam para uma modernização dos hábitos da população brasileira e para um crescimento do individualismo e do subjetivismo.43. Também não parece exato dizer que o país se tornou menos religioso. As pesquisas recentes mostram que a religiosidade continua alta entre os brasileiros. A declaração “sem religião” parece indicar mais uma“des-institucionalização” da religião e a emergência da chamada “religião invisível”. O indivíduo não adere mais a uma religião institucionalizada, mas não deixa de acreditar em Deus e de rezar, ocasionalmente. Não obstante, não podemos desconhecer a existência de pessoas que se dizem ateias 44. No catolicismo contemporâneo existe um bom número elevado de fiéis que, como batizados e crismados, se 53 A pesquisa do CERIS, em 2002, nas seis maiores regiões metropolitanas brasileiras, encontrou cerca de 25% dos entrevistados que frequentam atos de mais de uma religião e cerca de metade deles (12,5% do total) o fazem sempre. 40 dedicam muitas horas por semana ao trabalho pastoral ou à evangelização. Certamente tem influenciado nessa realidade a crescente consciência da missão evangelizadora da Igreja no Brasil, impulsionada por diretrizes,documentos do episcopado brasileiro e constante trabalho nos serviços e organismos de pastoral, nas CEBs, nas associações e nos movimentos eclesiais enovas comunidades. Igualmente, sucessivos Projetos Nacionais de Evangelização da CNBB 54 têm ajuda do missionariamente os esforços de renovação de nossas paróquias, pastorais, comunidades e movimentos.Deve-se lembrar ainda a crescente presença da Igreja na mídia.45. No campo religioso, constatamos ainda que muitas Igrejas, que se denominam evangélicas, mostram-se dinâmicas na procura de novos fiéis, chegando até ao proselitismo. Cabe, porém, uma avaliação da qualidade de nossa presença junto ao povo, como exigência da própria missão de evangelizar. A organização da Igreja Católica está muito dependente do padre e da paróquia.Ora, o número dos padres não tem crescido no mesmo ritmo que o da população.55 Por isso, podemos nos perguntar se, diante das mudanças socioculturais, as estruturas pastorais e o atendimento da Igreja Católica 54 Como, por exemplo, os projetos “Rumo ao Novo Milênio”, “Ser Igreja no Novo Milênio”, “Queremos Ver Jesus”.55 Em 1970 havia um padre para 7.100 habitantes; em 1990, um padre para 10.100 habitantes. Desde então, essa proporção deficitária de padres/habitantes se mantém estável. 41 conseguiram alcançar adequadamente, por exemplo,as populações nas periferias metropolitanas, nas fronteiras agrícolas e na região Amazônica.46. Diante disso, acolhendo a conclamação da Conferência de Aparecida, nossas comunidades eclesiais são chamadas a uma verdadeira conversão pastoral. Essa conversão exige que se vá para além de uma pastoral de mera conservação para uma pastoral decididamente missionária.56 Uma verdadeira conversão pastoral deve estimular-nos e inspirar-nos atitudes e iniciativas de auto-avaliação e coragem de mudar várias estruturas pastorais em todos os níveis, serviços, organismos,movimentos e associações. Temos necessidade urgente de viver na Igreja a paixão que norteia a vida de Jesus Cristo: o Reino de Deus, fonte de graça, justiça, paz e amor. Por esse Reino, o Senhor deu a vida.56 Cf. DA, n. 370.
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