terça-feira, 27 de janeiro de 2009

ANO CATEQUÉTICO NACIONAL***'Catequese, caminho para o Discipulado'









POR QUE UM ANO CATEQUÉTICO:
A Igreja ao celebrar 50 anos do primeiro Ano Catequético, quer dar continuidade e dinamismo ao movimento catequético e fazer com que todas as Dioceses, Paróquias e comunidades sejam de fato comunidades catequizadoras, cuja centralidade é a formação para o discipulado. Neste sentido, a 44ª Assembléia Geral dos Bispos (2006) aprovou por unanimidade a realização de um Ano Catequético. A iniciativa é resultado da importância e valorização que a Igreja vem dando à CATEQUESE, como ficou expresso no processo de elaboração do Diretório Nacional de Catequese (DNC – 2002 a 2005); e também na V Conferência de Aparecida. Sem o impulso da catequese não há como formar discípulos missionários.
O documento Catequese Renovada publicado em 1983 foi um grande impulso para uma catequese bíblica centrada no princípio fé/vida. Foi muito bem operacionalizado pela linha 3 da CNBB, através de uma coordenação nacional. Nessa onda de renovação surgiram as semanas brasileiras de Catequese, a primeira em 1986, com o tema “Fé e Vida em Comunidade” e a segunda, em 2001, com o tema “Com Adultos, Catequese Adulta”.
O Ano Catequético Nacional em 2009, com a realização da 3ª Semana Brasileira de Catequese de 6 a 11 de outubro em Itaici-SP, cujo tema é “Iniciação à Vida Cristã”, vem consolidar esta caminhada e apontar luzes e pistas para os novos desafios da realidade.

ANO CATEQUÉTICO É PARA TODA A IGREJA:
O Ano Catequético é para toda a Igreja, não quer ser um evento isolado, se insere no processo de recepção do Documento de Aparecida, nas novas Diretrizes da Igreja no Brasil DGAE (2008-2011); no Sínodo sobre a Palavra; no 12° Intereclesial de Cebs e Campanha da Fraternidade. Enfim, quer impulsionar e dinamizar toda a caminhada pastoral da Igreja: Dioceses, Prelazias, Paróquias, comunidades, pastorais e movimentos. Diante disso, os Bispos, os Párocos, primeiros responsáveis pela catequese, juntamente com os agentes de pastorais leigos, de modo especial, os catequistas, são conclamados a dinamizar as atividades propostas para este evento, ao longo do ano e que terá seu ponto alto com a realização da 3ª Semana Brasileira de Catequese.

COMO A IGREJA ESTÁ SE PREPARANDO PARA O ANO CATEQUÉTICO:
O objetivo do ano catequético se expressa da seguinte forma: Dar novo impulso à catequese como serviço eclesial e como caminho para o discipulado. A busca de novo impulso à catequese, levando à consciência de que a catequese é uma dimensão de toda ação evangelizadora. Uma ação eclesial só é evangelizadora se também catequiza. Catequese não é portanto uma ação restrita aos ministros da catequese, mas é de todo cristão. Com isso há necessidade de recuperar a concepção de catequese como processo permanente de educação da fé e não somente preparação aos sacramentos ou destinada somente às crianças.
Catequese como caminho para o discipulado traz presente a necessidade do encontro pessoal com Jesus Cristo e conseqüentemente o seguimento e a missão: todo discípulo é missionário. São as duas faces de uma mesma realidade, conforme afirma o Documento de Aparecida . O discípulo missionário será atuante e desenvolverá a missão nos vários âmbitos da sociedade: família, comunidade, escola, trabalho. Portanto, o discipulado acontece no mundo e está aberto às necessidades e desafios da realidade.
Na continuidade dos objetivos reflete-se a formação permanente dos catequistas. A formação dos seminaristas, com a implementação da disciplina catequética nos cursos de teologia. A dimensão bíblico-litúrgica-vivencial da catequese apresenta o itinerário de inspiração catecumenal, tendo como centralidade a Palavra de Deus, a pessoa de Jesus Cristo e a comunidade. A catequese diferenciada destinada às diversas realidades e situações em que vive a maioria das pessoas, é inclusiva, acolhe as pessoas com deficiência, migrantes, crianças, adolescentes, jovens, adultos. E, finalmente, a instituição do ministério da catequese no sentido de valorizar a catequese e catequistas na missão de formar e educar para a vida cristã.
A CNBB, através da Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética, convoca a Igreja do Brasil para o Ano Catequético Nacional de 2009 e apresenta como instrumento de trabalho o TEXTO-BASE.
Este subsídio para o grande mutirão catequético está centrado na iniciação à vida cristã, no discipulado missionário, à luz do itinerário dos discípulos de Emaús (Lc 24,13-35). Está organizado em três partes, seguindo o método ver-julgar-agir, resgatado e valorizado no Documento de Aparecida (DAp 19) e presente também no Diretório Nacional de Catequese (DNC 157). A primeira parte, traz presente o ENCONTRO com o ressuscitado: “Aprender, caminhando com o Mestre”; a segunda parte tem como fundamento a PALAVRA DO RESSUSCITADO: “Aprender ouvindo o Mestre”; e a terceira parte enfatiza a MISSÃO: “Aprender, agindo com o Mestre”.
O texto base vem sendo refletido pelos 17 regionais da CNBB de várias formas e conforme as necessidades locais. O importante é o envolvimento de todos os segmentos da Igreja nesta reflexão. Urge ultrapassar os limites da catequese e refletir a formação de uma forma integral e permanente, envolvendo as forças vivas existentes na vida da Igreja e que se expressam de diversas formas. Isso aponta para um novo paradigma da catequese, a renovação da atual estrutura paroquial, a conversão pastoral. São as interpelações que emergem da reflexão do documento de Aparecida e que necessitam ser concretizadas.

Nos encontros realizados nos regionais pode-se destacar o seguinte:
No regional leste 1 (Rio de Janeiro), a formação de inspiração catecumenal presente em quase todas as Dioceses, a elaboração do Diretório de Iniciação Cristã para a Arquidiocese, são ações desenvolvidas no regional e que apontam para um novo paradigma da catequese. No regional norte 2 (PARÁ E AMAPÁ) . Um dos destaques do II Seminário Bíblico-Catequético foi a organização da escola catequética do regional e a formação de inspiração catecumenal, para que haja uma efetiva iniciação cristã. O evento aconteceu nos dias 15 a 20 de julho em Macapá-AP, com o tema: "Catequese, fazendo discípulos missionários". Participaram 70 catequistas, representantes das coordenações de 05 dioceses e 04 prelazias.
No Regional Sul I (São Paulo), destacaram-se algumas propostas para o Ano Catequético: a implementação da disciplina Catequética nos seminários, o evento no Santuário Nacional de Aparecida, no dia do Catequista – 30 de agosto.
Aqui relatamos de forma parcial, pois outras iniciativas já surgiram nesta etapa preparatória. As comunidades, paróquias, dioceses e regionais estão mobilizados e em 2009 será a coroação de todo este mutirão com a realização da 3ª Semana Brasileira de Catequese.
Além dessas atividades será lançado pela CNBB e Paulinas/Comep, em fevereiro 2009, o CD com as composições referentes ao tema e lema do Ano Catequético, inspirados em Lucas 13,13-35, “Os discípulos de Emáus”. O lançamento oficial será no 2° Domingo da Páscoa (19 de abril), provavelmente em São Paulo.

PROGRAMAÇÃO

Abertura Oficial - 2º Domingo de Páscoa (19 de abril) nas Dioceses, Prelazias, Paróquias, Comunidades, com criatividade e de forma celebrativa.

Celebração do episcopado pelo Ano Catequético na 47ª Assembléia Geral dos Bispos. (22 a 30 de abril)

3ª Semana Brasileira de Catequese – 6 a 11 de outubro – Indaiatuba(SP), com o Tema: Iniciação à Vida Cristã.

Celebração Dia do/a CATEQUISTA – 30 de agosto, nas paróquias, dioceses e regionais. O regional Sul 1 celebrará este dia no Santuário Nacional de Aparecida.

Encerramento: Domingo de Cristo-Rei (22 de novembro). Em sintonia com o Dia Nacional do Leigo/a.


ATENÇÃO

As datas chaves serão divulgadas nos folhetos dominicais.

Serão elaborados subsídios celebrativos para animação desses momentos. (Abertura, Dia do catequista, Tríduo 3ª Semana e Encerramento).

Oração para o Ano Catequético

Senhor,
como os discípulos de Emaús, somos peregrinos.
Vem caminhar conosco!
Dá-nos teu Espírito, para que façamos da catequese
caminho para o discipulado.
Transforma nossa Igreja em comunidades orantes e acolhedoras,
testemunhas de fé, de esperança e caridade.
Abre nossos olhos para reconhecer-te
nas situações em que a vida está ameaçada.
Aquece nosso coração, para que sintamos sempre a tua presença.
Abre nossos ouvidos para escutar a tua Palavra,
fonte de vida e missão.
Ensina-nos a partilhar e comungar do Pão,
alimento para a caminhada.
Permanece conosco!
Faz de nós discípulos missionários,
a exemplo de Maria, a discípula fiel,
sendo testemunhas da tua Ressurreição.
Tu que és o Caminho para o Pai. Amém!
Conclusão
“Ai de mim se eu nãoevangelizar”
379210. A Conferência de Aparecida convocou a Igreja na América Latina e no Caribe a colocar-se em “estado permanente de missão”.380 Retomar o elã missionárioé para a Igreja condição essencial de fidelidade aJesus Cristo, que, sendo enviado pelo Pai, envia seusdiscípulos em missão.381 “Só uma Igreja missionáriae evangelizadora experimenta a fecundidade e a alegriade quem realmente realiza sua vocação. Assumirpermanentemente a missão evangelizadora é, paratodas as comunidades e para cada cristão, a condiçãofundamental para preservar e reviver o clima pascal dealegria no Espírito, que animou a Igreja em seu nascimentoe a sustentou em todos os grandes momentos desua história. Por isso, o apóstolo Paulo podia afirmarcom vigor: ‘Anunciar o Evangelho não é título deglória para mim. É, antes, uma necessidade que se meimpõe. Ai de mim se eu não evangelizar’.”382379 1Cor 9,16.380 DA, n. 551.381 Cf. Jo 20,21.382 Cf. 1Cor 9,16; CNBB. Doc. Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora daIgreja no Brasil: 1991-1994, n. 7. São Paulo, Paulinas, 1991.158211. Nós, Igreja no Brasil, assumimos o compromissocom a Missão Continental, conforme a inspiração deAparecida,383 compromisso que exigirá aprofundar eenriquecer todas as razões e motivações que convertemcada cristão em discípulo missionário enviado aedificar o mundo na perspectiva do Reino de Deus.“A Igreja necessita de forte comoção que a impeçade se instalar na comodidade, no estancamento e naindiferença, à margem do sofrimento dos pobres doContinente.”384 A graça de Deus está agindo. Somosconvidados a acolher essa graça assumindo o espíritomissionário em sua plenitude. É a condição para o revigoramentoda Igreja no testemunho e no compromissode fé. Com alegria, vamos a todas as pessoas para compartilharo dom do encontro com Cristo, que preenchenossas vidas de sentido e de esperança,385 e nos colocano caminho da realização do Reino de Deus.212. A Igreja no Brasil sempre foi missionária. No entanto,essa consciência têm-se intensificado sobretudonos últimos tempos, como atestam o novo estilo dasDiretrizes (DGAE) e os projetos quadrienais: “Rumoao Novo Milênio”, “Ser Igreja no Novo Milênio” e“Queremos Ver Jesus”. Chegou a hora de intensificaresse espírito missionário, participando da MissãoContinental,386 assumindo-a com rosto brasileiro,383 DA, nn. 550 e 551.384 DA, n. 362.385 Cf. CELAM – Missão Continental, introdução. 2008.386 Cf. DA, nn. 13, 14, 18, 362 e 551; DA: Carta de aprovação do Papa BentoXVI, p. 7.159conforme a realidade e a caminhada de nossas IgrejasParticulares. Nós o fazemos à luz das atuais Diretrizes(DGAE), entre outros, tomando em conta as quatroexigências intrínsecas da evangelização – serviço,diálogo, anúncio e testemunho de comunhão; e os trêsâmbitos de ação: pessoa, comunidade e sociedade.213. A Igreja presente em nosso país tem, a partir da convocaçãode Aparecida, a grande chance de convidartodos que se unem na mesma fé em Cristo para contribuírem,de maneira única e insubstituível, para aunidade, a fraternidade e a paz entre os povos e paísesdo Continente. A paixão pelo Reino de Deus nos leva adesejá-lo cada vez mais presente entre nós. Para isso,torna-se inevitável assumir a convocação que Aparecidanos faz para uma efetiva conversão pastoral. Estaexige que se vá além de uma pastoral de mera conservaçãopara uma pastoral decididamente missionária eservidora. “Assim será possível que o único programado Evangelho continue introduzindo-se na história decada comunidade eclesial”.387 A necessidade dessa conversãotorna-se ainda mais intensa considerando quea “nossa maior ameaça é o medíocre pragmatismo davida cotidiana da Igreja, no qual, aparentemente, tudoprocede com normalidade, mas na verdade a fé vai sedesgastando e degenerando em mesquinhez”.388387 DA, n. 370; João Paulo II. NMI, n. 29.388 DA, n. 12; Ratzinger, J. Situação atual da fé e da teologia. Conferênciapronunciada no Encontro de Presidentes de Comissões Episcopais da AméricaLatina para a doutrina da fé, celebrado em Guadalajara, México, 1996.Publicado em L’Osservatore Romano, em 1o de novembro de 1996.160214. Alicerçado nas Diretrizes (DGAE), nosso projetomissionário se realiza em sintonia com o CAM 3 eCOMLA 8 (2008), o Sínodo dos Bispos sobre a Palavrade Deus na vida e na missão da Igreja (2008), o AnoPaulino (28.6.2008 – 29.6.2009), o 12o Intereclesialdas CEBs (2009), o Ano Catequético Nacional (2009)e o Congresso Eucarístico Nacional (2010).215. Buscando ajudar as Igrejas Locais no desencadeamentode um processo de Igreja em estado permanentede missão, a CNBB elaborará um Projeto Nacional,sem com isso dispensar a imprescindível necessidadede inculturá-lo, segundo as particularidades de cadacontexto. Os sujeitos privilegiados dessa missão sãocada comunidade eclesial e, dentro dela, cada fiel. Assim,cada comunidade poderá ser um poderoso centrode “irradiação da vida em Cristo”,389 trabalhando pelaevangelização no Brasil e pela unidade, reconciliaçãoe integração da América Latina e Caribe.390216. Maria, Mãe do Senhor, primeira evangelizada eprimeira evangelizadora, invocada no Brasil com otítulo de Nossa Senhora Aparecida, ícone da Igreja emmissão, nos inspire com seu exemplo de fidelidade edisponibilidade incondicional ao Reino de Deus e nosacompanhe com sua materna intercessão.389 DA,
Renovar a comunidade
O desafio
A fragmentação da vida e a busca de relações maishumanas.A fé cristã“Onde dois ou três estiverem reunidos, eu estarei nomeio deles!” (Mt 18,20).150. Criada à imagem e semelhança do Deus-Trindade, do Deus que é amor e comunhão, a pessoa só se realizaplenamente à medida que vai-se descobrindo irmã detodos e de tudo. A vida fraterna em comunidade gerae alimenta atitudes de apoio mútuo, reconciliação,solidariedade e compromisso.281 Pela partilha dos donse dos bens, vivida em comunidade e posta a serviçona missão, é possível experimentar e testemunhar oevangélico desapego de tudo o que nos impede deseguir Jesus Cristo.282151. “A fecundidade da comunhão que vem de Deusnos impulsiona para a vida em comunidade e para a281 Cf. CNBB. Doc. Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja noBrasil: 2003-2006, n. 116. São Paulo, Paulinas, 2003.282 Cf. Lc 9,23-26; Fl 3,8-11.113transformação da sociedade.”283 Essa vocação deve seconcretizar tanto na firme e constante busca de vidacomunitária, quanto no empenho por incessantementetrabalhar pela superação de todas as formas de individualismoe exclusão. A fraternidade cristã é abertae quer acolher todos os seres humanos, sem fazerdiscriminação. Aponta para a fraternidade universalcomo vocação de toda a humanidade e meta a ser perseverantee constantemente buscada. É por isso que,nas situações de individualismo, a fé cristã identificaa mesma resposta que, apresentada nas primeiraspáginas da Bíblia, continua a gritar com voz forte eincisiva: Por acaso, sou responsável por meu irmão?284A responsabilidade pela união não se aplica somenteaos cristãos. Todas as pessoas, indistintamente, sãoconvocadas à vida de fraternidade e comunhão.152. Em nossos dias, é, portanto, indispensável proclamarque “Jesus convoca a viver e caminhar juntos. A vidacristã só se aprofunda e se desenvolve na comunhãofraterna”.285 É preciso estar pronto para mostrar o caminhoque o próprio Mestre indicou: a comunidade dosdiscípulos, por ele reunida.286 É preciso estar preparadopara gerar o fascínio pela vida de irmãos, acolher os283 P., n. 327.284 Cf. Gn 4,9.285 DA, n. 110.286 Cf. Mt 18,20.114que chegam, permitir-lhes o amadurecimento na fée sair em missão.287 Os modos de concretizar essacomunhão variam de acordo com o jeito de ser daspessoas, dos grupos e dos povos. A meta, porém, devesempre permanecer.Pistas de açãoDiálogo dentro das comunidades153. A experiência comunitária, quando efetivamentevivida à luz da Boa-Nova do Reino de Deus, conduzao empenho para que a fraternidade e a união sejamassumidas em todas as instâncias da vida. No interiorda comunidade eclesial, o diálogo deve ser regra permanentepara a boa convivência e o aprofundamento dacomunhão. A variedade de vocações, espiritualidadese movimentos deve ser vista como riqueza e não comomotivo para competição, rejeição ou discriminação. Acomunidade eclesial deve efetivamente mostrar suaestima pelo princípio de que todos são irmãos e iguaisem dignidade.288 Quanto maior for sua união, tantomais a comunidade será eficaz em seu testemunho.287 Cf. DA, n. 159.288 Cf. Gl 3,28: “Não há mais judeu ou grego, escravo ou livre, homem oumulher, pois todos vós sois um só, em Cristo Jesus”; Cf. CNBB. Doc. Vidae ministério dos presbíteros, nn. 142-144. São Paulo, Paulinas, 1981.115154. Concretamente, para a maioria de nossos fiéis, a relaçãocom a Igreja se restringe aos chamados serviçosparoquiais. É aí que a maioria das pessoas, atualmente,se relaciona com a Igreja. Por isso as paróquias têmum papel fundamental na evangelização e precisamtornar-se sempre mais comunidades vivas e dinâmicasde discípulos missionários de Jesus Cristo.155. Sabemos, no entanto que, pelo número de fiéis quedeve atender, pelo estilo com que é, às vezes, administrada,por hábitos de rotina pastoral, a paróquiade nossos dias acaba por deixar insatisfeitas aquelaspessoas que buscam formas mais comunitárias deviver sua fé. Essa positiva busca acaba por valorizarainda mais as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs)e outras formas associativas. Esse fato indica a necessidadede outras estruturas comunitárias além daparóquia tradicional.156. Nascidas muitos séculos atrás, em ambiente distinto doatual, as paróquias sempre prestaram grande serviçoevangelizador, sendo consideradas “células vivas daIgreja e lugar privilegiado no qual a maioria dos fiéistem uma experiência concreta de Cristo e a comunhãoeclesial”.289 Com o passar do tempo e ainda mais comas grandes mudanças ocorridas nas últimas décadas,de modo especial com a urbanização acelerada e a289 DA, n. 170.116comunicação planetária, as paróquias clamam porrenovação e “reformulação de suas estruturas, paraque sejam rede de comunidades e grupos, capazes dese articular, conseguindo que seus membros se sintamrealmente discípulos e missionários de Jesus Cristo,em comunhão”.290 Por certo, rede de comunidades nãosignifica desorganização nos aspectos administrativos.A boa organização da secretaria paroquial e demaisserviços hábeis na articulação entre as diversas comunidadesé suporte para uma eficiente evangelização.157. O caminho é, portanto, “a setorização [das paróquias]em unidades territoriais menores, com equipes própriasde animação e de coordenação que permitam maiorproximidade com as pessoas e grupos que vivem naregião”.291 Essa setorização supõe diálogo, intercâmbio,em vista do êxito em uma pastoral orgânica e deconjunto. Sabemos que nem sempre é fácil passar deuma paróquia centralizada num único prédio, ondeacontecem todas as atividades, para a paróquia comocomunidade de comunidades espalhadas por todo oterritório. Precisamos, entretanto, reconhecer que setorna cada vez mais urgente e interpelador o fato deque “nenhuma comunidade deve se isentar de entrardecididamente, com todas as suas forças, nos processosconstantes de renovação missionária e de abandonar290 DA, nn. 172-173.291 DA, n. 372; SD, n. 58.117as ultrapassadas estruturas que já não favoreçam atransmissão da fé”.292158. Em vista disso, torna-se indispensável valorizar asdiversas formas associativas e comunitárias, nas quaisseja possível experimentar a gratuidade dos relacionamentose o compromisso missionário.293 Fruto delonga experiência em muitas regiões do Brasil, asCEBs “permitiram ao povo chegar a um conhecimentomaior da Palavra de Deus, ao compromisso social emnome do Evangelho, ao surgimento de novos serviçosleigos e à educação da fé dos adultos”.294 “Junto comas CEBs, existem outras formas válidas de pequenascomunidades, e inclusive redes de comunidades, demovimentos, de grupos de vida, de oração e de reflexãoda Palavra de Deus.”295 Em cada uma dessas formas devida comunitária, “podemos ver a multiforme presençae ação santificadora do Espírito”.296159. O Magistério da Igreja indica critérios para que umgrupo, uma pequena comunidade ou um movimentode fiéis leigos possa se considerar autenticamenteeclesial:292 DA, n. 365.293 Cf. DA, n. 307.294 DA, n. 178.295 DA, n. 180.296 DA, n. 312, citando o Papa Bento XVI. DA: Discurso Inaugural, n. 5.118a) A primazia dada à vocação de cada cristão à santidade,favorecendo e encorajando uma unidadeíntima entre a vida prática e a própria fé;b) A responsabilidade em professar a fé católica emseu conteúdo integral, acolhendo e professando averdade sobre Cristo, sobre a Igreja e sobre a pessoahumana;c) O testemunho de uma comunhão sólida com oPapa e com o bispo na estima recíproca de todasas formas de apostolado da Igreja. Essa estima seconcretiza ainda mais com o pároco e a equipe desacerdotes no caso da paróquia em rede de comunidades;d) A conformidade e a participação na finalidade apostólicada Igreja, que é a evangelização e santificaçãodas pessoas;e) O empenho de uma presença na sociedade a serviçoda dignidade integral da pessoa humana, mediantea participação e solidariedade, para construir condiçõesmais justas e fraternas.297160. Nesse caminhar sempre mais acolhedor, dialogal erespeitoso, não podemos nos esquecer da riquezaevangelizadora presente na religiosidade popular. Éum catolicismo profundamente inculturado na vida de297 Cf. João Paulo II. ChL, n. 30.119nosso povo,298 maneira legítima de viver a fé, modo desentir-se Igreja e forma de ser missionário.299 Importaassumir a mesma atitude de discernimento e orientaçãoevangelizadora, a qual, sem desprezar os caminhosde Deus em meio ao povo, ajuda esse mesmo povo acaminhar cada vez mais rumo a seu Deus.161. Nesse processo de acolhimento e discernimento doscaminhos para o discipulado e a missão, firma-se aurgência de uma forte e incisiva animação bíblica detoda a pastoral, por meio da qual as comunidades setornam ainda mais escolas tanto de conhecimento einterpretação da Sagrada Escritura, quanto de oraçãoe vivência. Assumem, pois, grande importância, e porisso mesmo devem ser estimuladas, as diversas formasde Pastoral Bíblica, através de cursos, escolas e outrosmodos de contato com a Palavra de Deus, ressaltandoseque, para isso, será necessário investir com afincona instituição e na formação continuada dos ministrose ministras da Palavra.300Comunidade, dons, serviços e ministérios162. Haja um grande empenho por uma efetiva participaçãode todos nos destinos das comunidades, pela298 Cf. DA, n. 258.299 Cf. DA, n. 264.300 Cf. Paulo VI. EN, n. 22; DA, nn. 211 e 248.120diversidade de carismas, serviços e ministérios paraassegurar maior vitalidade missionária à Igreja.301 APalavra de Deus, anunciada com força querigmática,seja a fonte cotidiana para a formação e alimentaçãode pequenas comunidades em rede, garantindo umasólida espiritualidade.302163. Importa testemunhar a efetiva participação de todosnos destinos da comunidade. A comunhão de amor semanifesta na diversidade de carismas, serviços e ministérios.Toda pessoa é portadora de dons, que devedesenvolver em unidade e complementaridade comos dons dos outros, a fim de formar o único Corpo deCristo, a Igreja.303 Cada comunidade “é chamada a descobrire integrar os talentos escondidos e silenciosos,com os quais o Espírito presenteia os fiéis”.304 Dadaa riqueza de grupos, movimentos e associações, comcarismas, projetos e metodologias diferentes, urge queas comunidades paroquiais façam planejamento desuas ações evangelizadoras, criando assim um esteiode unidade.164. Nesse sentido, três aspectos se destacam:a) A diversidade ministerial, na qual todos, trabalhandoem comunhão, manifestam a única Igreja301 Cf. DA, n. 162.302 Cf. DA, nn. 304-310.303 Cf. 1Cor 12,4-12.304 DA, n. 162.121de Cristo.305 “Os cristãos leigos também são chamadosa participar na ação pastoral da Igreja […]com ações no campo da evangelização, da vidalitúrgica e outras formas de apostolado segundoas necessidades locais, sob a orientação de seuspastores. Estes estarão dispostos a abrir para aquelesespaços de participação e a confiar ministériose responsabilidades em uma Igreja na qual todosvivam de maneira responsável seu compromissocristão.”;306b) A formação dos conselhos e seu funcionamentonos âmbitos pastoral e administrativo-financeiro.Co-responsáveis com o ministério ordenado, osleigos, atuando nesses conselhos, tornam-se cadavez mais envolvidos no planejamento, na execuçãoe na avaliação de tudo que a comunidade vive efaz. Colaboram intensa e indispensavelmente paraa transparência administrativa e financeira dascomunidades. Junto com o ministros ordenados,são chamados a organizar a Pastoral do Dízimo eoutros meios de sustento das comunidades, discerniros destinos dos recursos comunitários, zelandopor eles, buscando a melhor forma de os preservare utilizar em ações evangélicas e evangelizadoras.Somente a força de comunidades que valorizam aparticipação e a transparência é capaz de respaldar305 Cf. CNBB. Doc. Missão e ministérios dos cristãos leigos e leigas, nn.77-79. São Paulo, Paulinas, 1999; DA, n. 211.306 DA, n. 211.122os fortes questionamentos que temos a respeito decerto tipo de administração dos bens comuns. “Entrevós, disse Jesus, não haverá de ser assim!”;307c) A articulação das ações evangelizadoras, que evitenão apenas o contratestemunho da divisão e, maisainda, da competição entre grupos. Somente umaPastoral de Conjunto ou Orgânica, uma pastoralque articula a diversidade de carismas e métodosevangelizadores, é capaz de testemunhar a unidade.Não se trata de uniformizar ou mesmo engessartoda a riqueza da ação eclesial num único modeloou jeito de agir. É preciso evitar a fragmentação, odesperdício de forças e recursos. Isso exige que seencontrem metas em comum, as quais se concretizamde acordo com os diversos dons e carismas,que, por isso mesmo, não deixam de ser respeitadosnem abandonam a perspectiva de comunhão.Comunidades que dialogam165. O mesmo diálogo que, cada vez mais, deve existirno interior da comunidade cristã, precisa igualmentetransbordar rumo a quem não pertence à comunidade.Contradiz profundamente a dinâmica do Reino deDeus, que é sal, luz e fermento, a existência de comunidadescristãs fechadas em torno de si mesmas, na busca307 Mc 10,42-43.123contraditória de uma santidade que não transborda parao relacionamento com a sociedade em geral, com asculturas, com os demais irmãos que também crêemem Jesus Cristo e com as outras religiões. Em cadaum desses contextos, o missionário, discípulo ou discípula,haverá de ter clareza sempre maior dos valoresevangélicos, que marcam sua identidade cristã, bemcomo sensibilidade à presença e atuação do Espíritonos diversos ambientes, horizontes, religiões e culturas.Abertas ao Espírito, as comunidades se abrem aodiálogo com as forças vivas da sociedade, construindoparcerias e enriquecendo-se mutuamente.166. Diálogo ecumênico – A comunhão na fé professadano Credo e na graça batismal une os católicos com aspessoas batizadas em outras Igrejas e comunidadeseclesiais. Um dos primeiros desafios consiste no diálogocom os irmãos e irmãs que crêem em Jesus Cristo.Nesse campo, somos chamados a evitar a indiferençana busca da unidade e, mais ainda, a posição preconcebidaou o derrotismo que tendem a ver tudo comonegativo. É preciso evitar a mera aparência de paz.“Não bastam as manifestações de bons sentimentos.Fazem falta gestos concretos que penetrem nos espíritose sacudam as consciências, impulsionando cadaum à conversão interior, que é o fundamento de todoprogresso no caminho do ecumenismo.”308 Mesmo308 DA, n. 234.124diante de dificuldades surgidas, em especial de setoresque não aceitam o ecumenismo,309 é preciso perseverarno caminho do diálogo, pois a divisão entre aquelesque crêem no Cristo permanece como escândalo a nosinterpelar.310 Nestes tempos de forte individualismo,com a busca da felicidade apenas para si, até mesmoo uso do nome de Jesus corre o risco de acabar sendoenvolvido por esse tipo de compreensão. Os cristãossão, portanto, convocados a dar uma palavra de unidadee esperança. E muitos são os caminhos para isso.167. Internamente, algumas iniciativas podem ser feitaspelas próprias comunidades e outras em nível setorialou diocesano:a) O tema ecumenismo necessita ser mais abordado,estudado. As dúvidas precisam ser esclarecidas.A cada dia se torna mais urgente desenvolver acapacidade de dizer, de forma clara e convicta, oque está em nossos corações;311 não, todavia, paraingressar em combates religiosos, alimentando adivisão. Ao contrário, quanto mais estivermos preparadospara “dar as razões de nossa esperança”,312mais estaremos contribuindo para a superação do309 Cf. DA, nn. 99g e 232.310 Cf. UR; João Paulo II, Homilia na abertura da porta santa da basílica deSão Paulo Fora dos Muros, 18 de janeiro de 2000, n. 2.311 Cf. DA, n. 229.312 1Pd 3,15.125proselitismo, para o conhecimento mútuo e para otestemunho comum;313b) Cresce a importância de cursos e escolas de ecumenismo,onde se reflita sobre questões específicas arespeito do diálogo ecumênico e se recupere a forçado Batismo como fonte de união e fraternidade.Precisamos descobrir e investir em ministériosespecíficos para o diálogo ecumênico.314168. Diálogo inter-religioso – A verdadeira atitude de diálogose estende para além dos cristãos. Convoca-nosao encontro fraterno e respeitoso com os seguidores dereligiões não-cristãs e a todas as pessoas empenhadasna busca da justiça e na construção da fraternidade universal.Entre eles, especial atenção haverá de ser dadaao diálogo com os judeus e os muçulmanos, irmãosna fé monoteísta. O encontro fraterno com seguidoresde religiões não-cristãs constituem parte importanteda cooperação ecumênica.315 Esse mesmo diálogohaverá de se estender aos mundos afro-descendente eindígena. Por fim, cresce a necessidade de aprofundaro diálogo com os ateus.313 Cf. DA, n. 233.314 Cf. DA, nn. 99g, 228 e 231. Para o trabalho ecumênico; Cf. PontifícioConselho para a Unidade dos Cristãos, Diretório para a aplicação dosprincípios e normas sobre o ecumenismo. 1993.315 Cf. Pontifício Conselho para a Unidade dos Cristãos, Diretório para aaplicação dos princípios e normas sobre o ecumenismo, n. 210. 1993.126169. Alicerçados claramente na fé em Jesus Cristo316 eabertos ao diálogo na esperança e na caridade, buscaremospromover a liberdade e a dignidade dos povos,colaborar para o bem comum e o senso de cidadania,superar a violência, inclusive a que é motivada religiosamente,e, em tudo isso, trabalhar pela paz e pela vida.Abrem-se, desse modo, “caminhos inéditos de testemunhocristão”.317 A aproximação e o diálogo podemprevenir o nascimento e o crescimento de fanatismose fundamentalismos de diferentes matizes.170. No diálogo e no convívio tanto ecumênico quantointer-religioso, somos convidados a, juntos, desenvolverbem mais a oração em comum. Somente através docontato fraterno, orante e dialogal, compartilhando osentido mais profundo da experiência religiosa vivida,é possível crescer na estima recíproca e na colaboraçãoecumênica e inter-religiosa em tudo que diz respeitoao bem comum e à promoção da vida.318171. Para o convívio fraterno e a missão, torna-se indispensávelestudar as novas tendências religiosas, asdemais Igrejas cristãs e as tradições não-cristãs, mesmoquando o diálogo não é imediatamente possível. É316 Cf. DA, nn. 95 e 101-103; João Paulo II. EAm, n. 3.317 DA, n. 239; João Paulo II. CA, n. 46; Pontifício Conselho para a Unidadedos Cristãos, Diretório para a aplicação dos princípios e normas sobre oecumenismo, n. 23. 1993.318 Cf. DA, nn. 99g e 222.127imperioso conhecer para discernir os valores a seremacolhidos e elaborar respostas autenticamente cristãs ànova realidade plural.Comunidade essencialmente missionária172. “Discipulado e missão são como duas faces da mesmamoeda. Quando o discípulo está apaixonado porCristo, não pode deixar de anunciar ao mundo que sóele nos salva.”319 Num tempo em que se tenta ligarreligião com intimismo, consumismo e individualismo,o discípulo de Jesus Cristo é convocado a sair de si,tornando-se cada vez mais missionário. É um desafioque se apresenta não apenas aos cristãos individualmente,mas também às próprias comunidades. Essedesafio nos conduz à urgência de uma ação missionáriaplanejada, organizada e sistemática. Para isso,é necessário “abandonar as ultrapassadas estruturasque já não favoreçam mais a transmissão da fé”.320Trata-se de verdadeira conversão pastoral de nossascomunidades, fato que exige ir “além de uma pastoralde mera conservação para uma pastoral decididamentemissionária”.321319 DA, n. 146; Bento XVI. DA: Discurso Inaugural, n. 3.320 DA, n. 172.321 Cf. DA, nn. 43, 46, 172 e 213.128173. Os primeiros destinatários são os católicos afastadose indiferentes diante da beleza e da riqueza que seexperimenta na vida comunitária.322 Em tempos demobilidade religiosa e conseqüente dificuldade paravínculos mais sólidos, é necessário ir ao encontro dosque aceitam Jesus Cristo e a Igreja, mas, por inúmerasrazões, sentem-se desestimulados e se afastam dacomunidade. Um dos melhores caminhos para ajudarna redescoberta da dimensão comunitária da fé seencontra no contato pessoal, no diálogo e na presençaamiga, fraterna e solidária. Por isso, adquiremimportância os ministérios mais diretamente ligadosà missão, tais como os de visita, animação de grupos,pequenas comunidades ou mesmo setores. Atuando emparóquias que se vão tornando cada vez mais comunidadesde comunidades, esses diversos ministérios,em comunhão com a Igreja Particular na qual estãoinseridos, tornam-se instrumentos indispensáveis paraa atuação missionária. Assim como não basta setorizaras grandes paróquias, sem a correspondente atuaçãodesses ministérios de cunho missionário, também nãobasta estimular o surgimento desses ministérios se nãose assume efetivamente a conversão pastoral que aIgreja hoje nos solicita.322 Cf. DA, nn. 179, 201, 204 e 226d; Já as Diretrizes (DGAE: 2003-2006)indicavam alguns grupos que merecem especial atenção missionária:“Jovens, pessoas vivendo nas periferias de nossas cidades, intelectuais,artistas, formadores de opinião, trabalhadores com grande mobilidade,nômades”, n. 136.129174. Precisamos, no entanto, alargar ainda mais nossohorizonte missionário, comprometendo-nos com amissão além-fronteiras, em outras regiões e ambientes.323 Cada comunidade é convocada a formar pelomenos uma equipe missionária, com a específicaresponsabilidade de assumir a missão em local ouambiente onde o anúncio de Jesus Cristo se torne maisurgente. Comunidades juntas podem formar e ampararcom orações e recursos, grupos de missionários quegenerosamente aceitem passar algum tempo em áreasde missão. Nos dois casos, o de quem envia e o dequem recebe, vive-se intensamente a experiência dascomunidades irmãs.324 Num tempo em que tanto nosqueixamos da burocratização e do descompromisso,num tempo em que nos tornamos desejosos de contatomais direto com pessoas, grupos e povos, essa experiênciadas Igrejas irmãs torna-se fecundo campo para ocrescimento da consciência missionária. Nesse sentido,soma-se aqui a força missionária e, ao mesmo tempo,o apelo ao acompanhamento pastoral das comunidadesde brasileiros no exterior.175. A conversão pastoral pedida pela Conferência deAparecida325 impele-nos a considerar de tal modo a323 Cf. DA, nn. 375 e 376.324 Cf. CNBB. Doc. Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja noBrasil: 2003-2006, n. 150. São Paulo, Paulinas, 2003.325 Cf. DA, nn. 366, 368 e 370.130formação dos futuros presbíteros, que possam, comconvicção, acolher, no coração, na reflexão e na vida,o profundo sentido de uma Igreja, toda ela, ministeriale missionária. Como convicção, isso não se tornapossível sem uma experiência missionária concreta.No processo formativo é indispensável assumir umapedagogia que valorize e ponha em destaque essenovo modo de coordenar e de viver, a fim de que hajaefetiva participação dos cristãos leigos e leigas na vidada comunidade e em sua missão evangelizadora.Construir uma sociedade solidáriaO desafioO escândalo da exclusão e da violência na sociedadeconsumista nos interpela à realização da solidariedade.A fé cristã“Não havia necessitados entre eles!” (At 4,34).176. À luz da fé, percebemos que as condições de vida demilhões de abandonados, excluídos e ignorados emsua miséria e dor, contradizem o projeto de Deus edesafiam os cristãos a um compromisso ainda maisefetivo em prol da vida.326 Nos pobres e excluídos,326 Cf. DA, n. 358.131a dignidade humana está profanada. É a consciênciadessa realidade que tem feito da opção pelos pobresum dos traços marcantes da fisionomia da Igreja nocontinente latino-americano e caribenho.327 A opçãopelos pobres “está implícita na fé cristológica, naqueleDeus que se fez pobre por nós, para nos enriquecercom sua pobreza”.328 Por isso, somos incessantementechamados a contemplar, nos rostos sofredores denossos irmãos, o rosto de Cristo que nos convoca aservi-lo neles.329177. A opção pelos pobres não pode ficar restrita a um planoteórico e emotivo. Precisa solidamente manifestar-seem gestos visíveis, principalmente na defesa da vida,desde a concepção até a morte natural, e dos direitosdos mais vulneráveis e excluídos, bem como no permanenteacompanhamento em seus esforços de seremsujeitos de mudança e de transformação social.330 AIgreja precisa continuar sendo, com afinco ainda maior,companheira de caminho de nossos irmãos mais pobres,inclusive até o martírio. A Igreja latino-americanaé chamada a ser sacramento de amor, de solidariedadee de justiça entre nossos povos.331 A figura do bom327 Cf. DA, n. 391.328 DA, n. 392.329 Cf. DA, n. 393.330 Cf. DA, n. 394.331 Cf. DA, nn. 395 e 396.132samaritano, aquele que, movido de compaixão, correuimediatamente em socorro do ferido, é modelo paratoda a Igreja, convocada por Cristo a ser cada vez maisuma Igreja Samaritana.332178. O compromisso social tem sua raiz na própria fé. Ointeresse autêntico e sincero pelos problemas da sociedadenasce da solidariedade para com as pessoas333e do encontro pessoal e comunitário com Jesus Cristo.É sinal privilegiado do seguimento daquele que veiopara servir e não para ser servido,334 devendo ser manifestadopor toda a comunidade cristã, e não apenaspor algum grupo ou alguma pastoral social. Umacomunidade insensível às necessidades dos irmãos eà luta para vencer a injustiça é um contratestemunhoe celebra indignamente a própria liturgia.335 Não écomunidade missionária, empenhada na promoção davida em plenitude que Jesus veio trazer.179. Consciente de sua inevitável contribuição para o bemcomum e para uma sociedade cada vez mais democrática,a Igreja reconhece, no cerne de sua identidade,o caráter indispensável do empenho por uma democraciaplena, inclusiva e participativa. Ao assumir o332 Cf. DA, nn. 135, 176, 198 e 396.333 Cf. GS, n. 1.334 Cf. Mc 10,45.335 Cf. 1Cor 11,17-34; CNBB. Doc. Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadorada Igreja no Brasil: 1999-2002, n. 195. São Paulo, Paulinas, 1999.133compromisso político, a postura católica se caracterizapela radicalidade evangélica, sem identificação partidária,todavia. De um lado, evita o extremo de banir areligião da vida pública em geral e de sua incidênciapolítica. De outro, não aceita submeter a ação políticaa orientações confessionais nem a interesses própriosde uma ou outra instituição religiosa.180. A cooperação ecumênica em vista do bem comum éparte essencial da missão da Igreja, atingindo tambémo diálogo ecumênico e inter-religioso. “As relaçõesentre os cristãos não tendem somente ao recíprococonhecimento, à oração comum e ao diálogo. Prevêeme exigem toda a colaboração prática possível nosdiversos níveis: pastoral, cultural, social e ainda notestemunho da mensagem do Evangelho.”336Pistas de ação181. Na complexidade da vida atual, a Igreja se depara cominúmeras e importantes frentes de trabalho, com asquais ela pode colaborar. Para cada uma delas, brotamdiversificados caminhos e estilos de atuação.a) Trabalhar, em todos os ambientes da sociedade, poruma cultura da vida e do respeito incondicional pela336 Cf. João Paulo II. UUS, n. 40; Cf. Pontifício Conselho para a Unidadedos Cristãos, Diretório para a aplicação dos princípios e normas sobreo ecumenismo, nn. 211-218.134pessoa humana, bem como por uma nova culturade austeridade, em lugar do consumismo doentiodestruidor de valores e gerador de violência;b) Estimular condições mínimas de subsistência, centrandoa atenção em aspectos básicos, cujo acessoé indispensável e urgente para todos: alimentação,trabalho, saúde, moradia e terra, entre outros;c) Firmar ainda mais o compromisso com políticaspúblicas que facilitem a criação de novos empregos,o acesso ao trabalho e renda, a redistribuição daterra e o desenvolvimento da agricultura familiar ede cooperativas,337 além do crédito subsidiado aospobres, por meio de instituições que emprestamcom juros baixos;d) Apoiar meios eficazes para evitar que verbas destinadasaos programas sociais sejam desviadas deseu destino;e) Estimular a segurança alimentar e nutricional,direito humano básico que deve chegar a todo opovo brasileiro. Permanece urgente a implantaçãodo Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional,que contribuirá, também, decisivamente para asaúde da população;f) Promover a justa distribuição de renda, com agarantia de renda mínima ou crédito acessível aospobres;337 Cf. CNBB. Doc. Exigências Evangélicas e Éticas de Superação da Misériae da Fome, n. 39. São Paulo, Paulinas, 2002.135g) Combater a corrupção e a impunidade, atravésdo efetivo acompanhamento das ações do poderpúblico em todas as suas instâncias, continuando ocombate contra a corrupção eleitoral, através da Lei9.840 e de outras iniciativas das Comissões Justiça ePaz. Enfatize-se, também, que nenhum cristão pode,qualquer que seja a vantagem, aceitar esquemasde corrupção e impunidade, seja deles diretamenteparticipando, seja se omitindo em denunciá-los;h) Trabalhar pela segurança e pelo combate à criminalidade,colaborando para que se dêem passosconcretos para o enfrentamento da criminalidadeendêmica e a superação do crescente sentimento deimpunidade generalizada, bem como trabalhar pelasegurança preventiva, com ações que contemplemos que se encontram em situação de risco social.Entre as urgências, podemos destacar a redefiniçãodos programas de segurança pública, a ampliaçãoda reflexão sobre a estrutura das polícias, definindo,com maior clareza, suas competências e cuidandomelhor da formação de seus quadros, a reforma dopoder judiciário e o combate à corrupção nas forçasresponsáveis pela segurança pública;i) Incrementar ainda mais a presença pastoral juntoaos presidiários, ajudando a dar às penalidades umcaráter curativo e corretivo, visando à reintegraçãoao meio social. Colaborar no cuidado com a saúdemental e o equilíbrio humano, dos presidiários epresidiárias, estabelecendo, por exemplo, atividadesocupacionais e penas alternativas;136j) Promover uma sociedade que respeite as diferenças,combatendo o preconceito e a discriminaçãonas mais diversas esferas, efetivando a convivênciapacífica das diversas etnias, culturas e expressõesreligiosas, o respeito das legítimas diferenças.Torna-se urgente trabalhar pela criação de mecanismoslegais para o combate a qualquer forma dediscriminação, bem como a efetiva aplicação dessesmecanismos;k) Educar para a preservação do meio ambiente, atravésde atitudes que respeitem e evitem a destruiçãoda natureza, tanto no meio urbano quanto no rural.Entre essas atitudes, destaca-se a preservação daágua, patrimônio da humanidade, evitando suaprivatização.338 O esforço por maior crescimentoeconômico deve ser orientado para o desenvolvimentosustentável. Em tudo isso, incentivem-seiniciativas de educação ambiental e solidária, quelevem a população a cuidar da água e da vegetação,preservando-as.Compromisso solidário182. Cada comunidade local será chamada a tomar iniciativasde solidariedade especialmente em relação aosmais gravemente atingidos pela exclusão e a trabalharpor políticas públicas eficazes. A Igreja no Brasil338 Cf. CNBB. Texto-base da Campanha da Fraternidade 2004, com o lema“Água fonte da vida”.137vem assumindo claro compromisso com essa luta eassim quer permanecer.339 A implantação da Cáritasem cada diocese, com suas ramificações em cadaparóquia, poderá ser de grande valia para incentivare sustentar iniciativas de solidariedade para com osmais necessitados.183. Diversas são as formas de presença solidária juntoaos pobres e excluídos. A longa caminhada da Igrejajunto a eles e com eles tem revelado que não existeapenas um único modelo válido para todas as situações.Importa oferecer possibilidades de acolhimentoa partir do contato interpessoal, com escuta, orientaçãoreligiosa e psicológica, ajuda médica, jurídicaou material. Trata-se de presença efetiva em face dasnecessidades humanas básicas, tais como alimentação,saúde, escola, moradia…184. Seja mantido o Mutirão para a superação da miséria eda fome,340 assim como as diversas iniciativas nessecampo. Para tanto, criem-se comissões diocesanas elocais para a realização do Mutirão, dando-se continuidadeaos empreendimentos já em ato, convocandoos cristãos à generosa participação e articulação dosesforços do Mutirão com os do Governo e da sociedadetoda.339 Cf. DA, n. 397.340 Cf. CNBB. Doc. Exigências Evangélicas e Éticas de Superação da Misériae da Fome. São Paulo, Paulinas, 2002.138185. Apóie-se com discernimento e segundo a DoutrinaSocial da Igreja a organização dos movimentos sociaisou populares, visando que os oprimidos e excluídostornem-se sujeitos da própria libertação e da edificaçãode novas formas de solidariedade. Valorize-seo voluntariado, orgânico ou ocasional, tanto nasorganizações católicas quanto nas Organizações Nãogovernamentais(ONGs).186. Consciente de que precisa enfrentar as urgênciasque decorrem da miséria e da exclusão, o discípulomissionário também sabe que não pode restringir suasolidariedade ao gesto imediato da doação caritativa.Embora importante e mesmo indispensável, a doaçãoimediata do necessário à sobrevivência não abrangea totalidade da opção pelos pobres. Antes de tudo, elaimplica convívio, relacionamento fraterno, atenção,escuta, acompanhamento nas dificuldades, buscando, apartir dos próprios pobres, a mudança de sua situação.Os pobres e excluídos são sujeitos da evangelização eda promoção humana integral.341341 Cf. DA, nn. 397 e 398.139Compromisso social e político187. Incentive-se cada vez mais a participação social epolítica dos cristãos leigos e leigas nos diversos níveise instituições, promovendo-se cursos, grupos dereflexão, formação e ação, entre outros. Incentive-sea participação, ativa e consciente, nos Conselhos deDireitos. Quer promovendo, quer se unindo a outrasiniciativas, incentive-se a participação em campanhase demais atividades que busquem efetivar com gestosconcretos a pacificação do bairro ou da região.188. Devemos nos empenhar na busca de políticas públicasque ofereçam condições necessárias ao bem-estar depessoas, famílias e povos. As comunidades e demaisinstituições católicas haverão de colaborar com outrasinstituições privadas ou públicas,342 com os movimentospopulares e outras entidades da sociedade civil, nosentido de reivindicar democraticamente a implantaçãoe a execução de políticas públicas voltadas para adefesa da vida e do bem comum, segundo a DoutrinaSocial da Igreja.189. Acompanhe-se o trabalho do Legislativo, do Executivoe do Judiciário, em seus diversos níveis e instâncias,a fim de evitar a corrupção, a impunidade, o prejuízoao bem comum e a legislação que atente contra a342 Cf. DA, n. 384.140vida e contra a lei natural. Grupos específicos, coma colaboração de ONGs, podem ser constituídos.Apóiem-se políticas que visam superar as desigualdadeshistóricas, tais como as cotas estudantis e paraconcursos públicos.190. Apóiem-se as diferentes iniciativas de economia solidária,como alternativas de trabalho e renda, consumosolidário, segurança alimentar, cuidado com o meioambiente, formas de finanças solidárias, trabalho coletivoe busca do desenvolvimento local sustentávele solidário.Compromisso missionário nos novos areópagos191. A sensibilidade para a missão, a solidariedade e o compromissosociotransformador levam a Igreja a assumirnovas realidades que marcam a vida do povo brasileiro.À luz da fé, essas realidades são consideradas novosareópagos, ou seja, lugares para onde a atenção evangelizadorase deve voltar. Alguns sempre existiram,assumindo, no entanto, importância maior. Outros têmorigem mais recente, exigindo estudo e compreensãomais aprofundada. Entre os novos areópagos, podemosdestacar o mundo das culturas, a realidade urbana, omundo da educação e os meios de comunicação. Nãosão os únicos que se destacam, porém.141Diálogo com as culturas192. É particularmente importante, na busca de uma sociedaderespeitosa das diversidades culturais e antropológicas,que os cristãos, mantendo sua identidade, colaboremcom outros grupos religiosos ou da sociedadecivil, apoiando iniciativas ecumênicas e estabelecendoparcerias em vista à difusão da solidariedade.193. Apóiem-se as propostas e políticas públicas que favoreçama inclusão social e o reconhecimento dos direitosdas populações de origem indígena e africana.343 ComoIgreja “advogada da justiça e dos pobres”, cabe-nosdenunciar a prática da discriminação e do racismo emsuas diferentes expressões e fazer-nos solidários emsuas reivindicações pela defesa de seus territórios, naafirmação de seus direitos, cidadania, projetos própriosde desenvolvimento e consciência de suas culturaspróprias.344194. A ação evangelizadora não pode ignorar a culturaglobalizada, que se vai expandindo cada vez mais. Eladeve ser conhecida, avaliada criticamente e, em certosentido, assumida pela Igreja, com uma linguagemcompreendida por nossos contemporâneos. Somenteassim a fé cristã poderá aparecer como realidade343 Cf. CNBB. Doc. Brasil – 500 anos: Diálogo e Esperança, nn. 17-22 e 58e 59. São Paulo, Paulinas, 2000.344 Cf. DA, nn. 529-533.142pertinente e significativa de salvação.345 Muitos católicosse encontram desorientados diante dessa mudançacultural. Compete à Igreja denunciar modelosantropológicos que afastam a pessoa humana de suacentralidade na vida e anunciar Jesus Cristo em nossosdias, como verdade e modelo último do ser humano.Em todo esse empenho, os cristãos procurem unir-seàs ONGs e a todas as forças vivas da sociedade.195. Tarefa de grande importância é a formação de pensadorese pessoas que estejam em níveis de decisão.Devemos empregar esforços na evangelização de empresários,políticos e formadores de opinião no mundodo trabalho, dirigentes sindicais e comunitários.346196. O Santo Padre Bento XVI, em seu Discurso Inauguralà Conferência de Aparecida, afirmou que “as estruturasjustas […] não nascem nem funcionam sem umconsenso moral da sociedade sobre os valores fundamentaise sobre a necessidade de viver esses valorescom as indispensáveis renúncias, inclusive o interessepessoal”.347 Em vista disso, é necessário promover odiálogo sobre as grandes questões éticas, apresentadasa uma sociedade que precisa, urgentemente, escolherentre a insensatez de um egoísmo desenfreado e a345 Cf. DA, n. 480.346 Cf. DA, n. 492.347 Bento XVI. DA: Discurso Inaugural, n. 4.143racionalidade de uma ordem social construída sobrevalores universais, como, por exemplo, o reconhecimentoda dignidade da pessoa humana e a preservaçãodo meio ambiente,348 e da vida, a consciência humanae a liberdade, entre outros. Não há como postergar abusca de “uma ética que ajude a superar o hedonismo,a corrupção e o vazio de valores”.349 Alguns aspectosentão se destacam: o desarmamento e a promoção dapaz, o socorro de urgência a refugiados e vítimas decatástrofes naturais, a provisão de alimento aos famintos,a criação de estruturas de ensino para analfabetos,os programas de reabilitação para toxicômanos oudependentes químicos, bem como para o combate àprostituição de crianças, jovens e adultos.350 Neutralizara cultura de morte com a cultura da vida e dasolidariedade é um imperativo que diz respeito a todosos seres humanos.197. O empenho da Igreja pela promoção humana e pelajustiça social exige, também, um amplo e decididoesforço para educar a comunidade eclesial como umtodo no conhecimento da Doutrina Social da Igrejacomo decorrência ética imprescindível da própria fécristã. Em nosso tempo, leigos e leigas se interessam,348 Cf. CNBB. Doc. Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja noBrasil: 1999-2002, n. 242. São Paulo, Paulinas, 1999.349 DA, n. 99g.350 Cf. Pontifício Conselho para a Unidade dos Cristãos. Diálogo Católico-Pentecostal, Relatório sobre a quarta fase 1990-1997, n. 129.144cada vez mais, por sua formação teológica, tambémna Doutrina Social da Igreja, tornando-se verdadeirosmissionários da caridade.351 A ética social cristã nãoé opção facultativa ou generoso empenho de poucos,mas exigência para todos. Ela é contribuição própriada Igreja para a construção de uma sociedade justa esolidária e deve ocupar lugar de destaque em nossosprogramas de formação e na própria pregação inspiradapelo Evangelho.352198. A educação dos discípulos missionários à solidariedadee ao engajamento social, no seio da comunidadeeclesial, pode ser adquirida através da formação naação. Entre nós, têm-se mostrado eficazes:a) O engajamento nas Campanhas da Fraternidade,que anualmente destacam um tema social relevanteda realidade brasileira, bem como em outras iniciativas,entre as quais as romarias da terra e dostrabalhadores;b) A constituição ou apoio a grupos, cursos e escolasde fé e política nos diferentes âmbitos eclesiais;353351 Cf. DA, n. 99f.352 Cf. CNBB. Doc. Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja noBrasil: 1999-2002, n. 197. São Paulo, Paulinas, 1999.353 Como por exemplo, os cursos do CEFEP (Centro Nacional de Fé e Política– Dom Hélder Câmara), os cursos de formação cristã para cidadania doIBRADES (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento) e do CNLB (ConselhoNacional do Laicato do Brasil).145c) O empenho nas iniciativas da Cáritas e das Comissõesde Justiça e Paz;d) A participação em mobilizações e debates relacionadoscom momentos importantes da vida do povo,como os Fóruns das Pastorais Sociais, as SemanasSociais, o Grito dos Excluídos e as campanhas eleitoraisnas esferas municipal, estadual e federal.199. Numa perspectiva de testemunho e co-responsabilidade,é preciso superar as desigualdades econômicase sociais existentes no interior da Igreja.354 É precisotornar mais efetiva e dinâmica a circulação e partilhade recursos materiais e humanos entre dioceses e paróquiasricas e pobres. Sem esse testemunho visívelde comunhão, perde-se a identidade cristã da Igreja,fica eliminado o mistério da koinonia, da unidadeeclesial e do Espírito, e se destrói uma das quatroexigências intrínsecas da evangelização: o testemunhoda comunhão.Crescente urbanização200. Num país que se urbaniza rápida e violentamente,torna-se imprescindível a criação de estruturas eclesiaisnovas que permitam enfrentar a problemática dasenormes concentrações humanas e as novas formas decultura em gestação. A urbanização é um fenômeno354 Cf. DA, n. 100e.146de amplo alcance, que em muito ultrapassa os limitesfísicos das grandes cidades. A mentalidade que surgeem estreita ligação com os imensos aglomeradoshumanos chega, especialmente em virtude dos meiosde comunicação, aos mais diversos recantos do país,impondo-se, plasmando visões de mundo, configurandovalores. Nesse sentido, algumas atitudes se tornamprioritárias:a) Organização pastoral adequada à realidade urbanaem sua linguagem, estruturas, práticas, horários eplanejamentos;b) Mais rápida setorização das paróquias territoriaisem unidades menores, que permitam proximidadee serviço mais eficaz;355c) Multiplicação e diversificação das comunidadeseclesiais nas periferias e em ambientes específicos,tais como a escola, a universidade, os ambientesainda rurais e o mundo das diferentes etnias;d) Descentralização dos serviços eclesiais, levando emconta as categorias profissionais;e) Discernimento e troca de experiências quanto àsestratégias para chegar aos condomínios fechados,prédios residenciais, favelas, cortiços e outros núcleosde convivência;f) Maior presença nos centros de decisão da cidade,tanto nas estruturas administrativas como nas organizaçõescomunitárias;355 Cf., nestas Diretrizes, nn. 148-153.147g) Reflexão e planejamento pastoral em comum entreparóquias da mesma cidade ou área;h) Criação e desenvolvimento de pólos ou centrosde evangelização que atendam à mobilidade dapopulação urbana e que ofereçam oportunidadesmúltiplas de contato com a mensagem evangélicae a experiência eclesial;i) Acolhida aos que chegam à cidade e aos que jávivem nela,356 com fortalecimento do diálogo e dacooperação entre as Igrejas de origens, trânsito edestino das pessoas em mobilidade, com vista a lhesdar atenção humanitária e pastoral;357j) Comunicação e contato missionário com quem dificilmenteconseguem ligar-se de forma permanentea uma comunidade estável;358k) Atenção especial à evangelização nos ambientesde favelas, cortiços e periferias, lugares facilmenteesquecidos pelo poder público e nem sempre atingidospelas iniciativas pastorais;l) Criação de paróquias em ambientes especializados,em meio à complexidade da vida urbana;356 Cf. DA, n. 517.357 Cf. DA, n. 413.358 Cf. CNBB. Doc. Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja noBrasil: 1999-2002, nn. 234 e 235. São Paulo, Paulinas, 1999.148m) Formação específica para presbíteros, diáconos eagentes de pastoral, capacitando-os a responder aosnovos desafios da cultura urbana.359Mundo da educação201. Ao lado da família, a escola adquire importânciafundamental na educação para os valores humanos,segundo os princípios evangélicos.360 Educar não consisteapenas em fornecer conteúdos técnicos ou informaçõesobjetivas.361 A escola é “lugar privilegiado deformação e promoção integral, mediante a assimilaçãosistemática e crítica da cultura”.362 A escola católicaempenhe-se no resgate de sua identidade, enquantoautêntica comunidade eclesial e centro de evangelização,inserindo nela verdadeiros processos de iniciaçãocristã, assumindo seu papel de formadora de discípulosmissionários em todos os seus extratos.363202. A ação evangelizadora é, portanto, chamada a assumircom todo o vigor o mundo da educação, seja atravésdas instituições especificamente católicas, seja atravésda presença missionária nas demais escolas, colégios359 Cf. DA, n. 518.360 Cf. Paulo VI. PP, n. 40.361 Cf. DA, n. 328.362 DA, n. 329.363 Cf. DA, nn. 337 e 338.149e universidades.364 Seja grande também o empenhomissionário das Igrejas Particulares nos Estados, paraque as escolas públicas de gestão estatal não ignorem aformação integral dos estudantes, definindo a inclusãode conteúdos religiosos,365 por força de legislaçõesadequadas, considerando a abertura à transcendênciacomo dimensão insubstituível da vida humana, animandoe capacitando, doutrinal e pedagogicamente,seus professores de ensino religioso nessas escolaspúblicas.366 Cabe aqui uma atenção especial à formaçãode professores de ensino religioso confessional paraescolas públicas, lugar privilegiado da evangelização,verdadeiros novos areópagos do mundo atual.203. Nesse aspecto, papel importante e mesmo indispensáveldevem desempenhar as instituições educativascatólicas. Ultrapassando os limites de uma “educaçãopreponderantemente voltada para a produção”,367 essasinstituições são chamadas a marcarem, ainda mais,sua presença educativa a partir de “um projeto deser humano em que habite Jesus Cristo, com o podertransformador de sua vida nova”. Trata-se de buscar edesenvolver projetos educativos centrados na pessoahumana, capacitando-a a viver em comunidade e aberta364 Cf. DA, nn. 329ss e 483.365 Cf. DA, n. 481.366 Cf. DA, n. 483.367 DA, nn. 328 e 336.150ao sonho e ao labor por uma sociedade cada vez maisjusta, solidária e fraterna.368 Além disso, a presençaexplicitamente católica no mundo da educação haveráde ser marcada por forte sensibilidade em relação aosque se encontram excluídos da educação formal.204. A ação evangelizadora nas universidades católicasexige uma séria revisão e explicitação prática de suaidentidade católica. Evangelizem de tal forma seusalunos, para que, uma vez formados, iluminem o mundoprofissional com autêntica vivência do Evangelho,fiéis à fé católica, sobretudo no campo da bioética e dajustiça social, combatendo princípios que alimentemuma sociedade sem Deus.205. As escolas, porém, não são as únicas responsáveis pelaeducação. Esse papel cabe primordialmente às famílias.369 Cabe também às comunidades. Por isso, numempenho comum, em espírito de diálogo e colaboraçãomútua, famílias, escolas, comunidades e demais instituiçõeshaverão de reconhecer a importância da missãoeducadora não apenas das novas gerações, mas tambémde toda pessoa, que é chamada, ao longo da vida, a seatualizar diante dos novos desafios. Todos têm direitode ser estimulados a desenvolver reta consciência dosvalores morais, “prestando a esses valores sua adesão368 Cf. DA, nn. 334, 337 e 338.369 Cf. DA, n. 329.151pessoal, e também de ser estimulados a conhecer eamar mais a Deus”,370 assumindo criticamente o quelhe é apresentado pela cultura globalizada.Meios de comunicação206. Num mundo que valoriza cada vez mais os meios decomunicação, os cristãos individualmente e as comunidadesdevem aprender a utilizá-los com mais desempenho,competência e profetismo, para o anúnciodo Reino de Deus. No entanto, é preciso estar sempreconsciente de que, na maioria das vezes, os meios decomunicação acabam por servir a fortes interesseseconômicos e à mentalidade secularista. Portanto,algumas indicações se destacam: 371a) Assumir, com mais empenho, o uso dos meios decomunicação na ação evangelizadora;b) Estimular o espírito crítico atento à manipulaçãoda opinião pública pela mídia,372 ajudando a selecionar,criticar, reagir e mesmo negar audiênciaa programas que firam a consciência cristã e a leimoral;373370 Cf. DA, n. 482.371 Cf. DA, n. 486.372 Para algumas indicações neste sentido, cf. Pontifício Conselho para asComunicações Sociais, Aetatis Novae. 1992.373 Cf. CNBB. Doc. Igreja e Comunicação Rumo ao Novo Milênio, nn, 24-35.São Paulo, Paulinas, 1997.152c) Promover iniciativas que estendam a todos o direitoà informação e busquem sua democratização;d) Educar na formação crítica quanto ao uso dos meiosde comunicação;e) Tornar mais eficaz a presença da Igreja nos meios decomunicação de massa, evitando a mercantilizaçãoe a banalização do sagrado;f) Valorizar e apoiar seus próprios meios de comunicação,tornando-os adequados instrumentos dotrabalho de evangelização;g) Valorizar os amplos recursos da internet e utilizá-lade modo criativo e responsável;h) Cuidar que a própria linguagem da Igreja sejaatualizada, evitando tudo o que pode obscurecero essencial de sua mensagem e dificultar acomunicação;374i) Investir na formação de comunicadores, com boapreparação profissional e pastoral, e na própria açãopastoral junto aos comunicadores em geral;j) Ampliar a cooperação ecumênica nos meios de comunicação,para através deles anunciar os princípioscristãos;375374 Cf. CNBB. Doc. Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja noBrasil: 1999-2002, nn. 243 e 244. São Paulo, Paulinas, 1999.375 Cf. Pontifício Conselho para as Comunicações. Comunnio et Progressio,n. 99. 1971.153k) Incentivar uma informação e uma comunicaçãoabertas ao mundo, que favoreçam o conhecimentodas realidades internacionais e que façam surgirlaços sempre mais fraternos com outros povos,tendo em vista a construção de um mundo justo esolidário;l) Incentivar e, onde já existe, animar a Pastoral daComunicação nos regionais, dioceses e paróquiaspara que possa contribuir para a integração entre asdemais pastorais, articulando o processo de comunicaçãono interior da Igreja e envolvendo os meiosde comunicação no anúncio da Palavra de Deus atodos.Compromisso com as questões que envolvemtoda a humanidade207. A sensibilidade do discípulo missionário para asquestões que envolvem a realidade brasileira não oexime de voltar sua atenção para as grandes questõesque dizem respeito a toda a humanidade. Num mundoglobalizado, em que as ações e suas conseqüênciasultrapassam fronteiras, é impossível fechar os olhospara aspectos que atingem não apenas o povo brasileiro,mas também os demais povos, em especial osmarcados pela pobreza, pela exclusão, pela violênciae pela perseguição.154208. Por isso, os cristãos individualmente e também todaa sociedade brasileira sejam sensibilizados a respeitodas grandes questões da justiça internacional, sempreinspirados na postura de Jesus e nos princípios norteadoresda Doutrina Social da Igreja. Tendo em vistaisso, torna-se necessário:a) Apoiar a participação da sociedade civil para areorientação e reabilitação ética da política;b) Formar na ética cristã a busca do bem comum, acriação de oportunidades para todos, a luta contraa corrupção, a vigência dos direitos trabalhistas esindicais;c) Priorizar a criação de fontes de trabalho para setoresmarginalizados da população, dentre os quaisalguns seguimentos de mulheres, jovens, indígenase afro-descendentes;d) Incentivar a justa regulação da economia, do sistemafinanceiro e do comércio mundial. É urgente prosseguirno desendividamento público, para favoreceros investimentos no desenvolvimento de políticassociais;e) Examinar atentamente os tratados intergovernamentaise outras negociações a respeito do livrecomércio, alertando os responsáveis políticos ea opinião pública a respeito das eventuais conseqüênciasnegativas que podem afetar os setores maisdesprotegidos e vulneráveis da população;376376 Cf. DA, n. 406.155f) Assumir efetivamente as questões ligadas aoaquecimento global e demais aspectos inerentes àresponsabilidade ecológica de pessoas, grupos enações;g) Incentivar a atenção as pessoas necessitadas deproteção internacional e apoiar a ação pastoralda acolhida e integração de refugiados em nossopaís.209. Estas numerosas Pistas de Ação cumprirão seu objetivoà medida que forem assumidas com crescentecoerência de vida da parte dos discípulos missionários.A contemplação dos mistérios de Jesus Cristo e oengajamento na construção de seu Reino são critériosinconfundíveis para essa fidelidade. Sem isso, tornaseimpossível evitar as tentações do materialismo,do utilitarismo, do hedonismo e do consumismo.377Inseridas nos corações humanos, especialmente pormecanismos de imposição cultural sobre um povo detradição claramente cristã, elas se tornam fonte de injustiças,fechamento sobre si mesmo, perda do sentidode fraternidade e solidariedade. Nestes tempos em quepalavras e imagens se misturam a todo gosto, somentea força do testemunho é capaz de mostrar claramenteque o Evangelho é fermento de libertação plena decada pessoa, de todas as pessoas, das sociedades e dasculturas. Não temam, portanto, os discípulos missioná-377 Cf. DA, nn. 99g, 357 e 397.156rios, individual ou comunitariamente, assumir sua féem todos os âmbitos e momentos, dando testemunhode sua esperança, integrando-se em parcerias, agindo,enfim, para que, nos corações sensibilizados, brote apergunta pelas razões da esperança.
378378 Cf.

Capítulo III Pistas de ação para a missãoevangelizadora

Capítulo III
Pistas de ação para a missão  evangelizadora
102. Consciente de sua missão evangelizadora e tendo contemplado a realidade brasileira, com o olhar e o coração do discípulo missionário, a Igreja percebe numerosos e complexos desafios. Visando evitar a   dispersão na ação evangelizadora, mantém para os próximos anos os três âmbitos de ação: pessoa, comunidade e sociedade.227 Estas não são realidades a serem consideradas separadamente, mas três realidades interligadas e complementares. Para cada âmbito,são indicados (1) o desafio principal, (2) o cerne da mensagem cristã como fundamento e critério do agire (3) algumas pistas de ação. Cabem às Igrejas Particulares   e às comunidades locais a concretização e aaplicação. No que diz respeito às quatro exigências(serviço, diálogo, anúncio e testemunho de comunhão),estas Diretrizes as assumem e as enriquecem com as grandes proposições de Aparecida, principalmenteas que se referem à conversão pessoal, pastorale à missionariedade.227 Essa perspectiva foi adotada a partir das Diretrizes Gerais da Ação Pastoral em1991-1994, especialmente nos capítulos III e IV, do referido documento.86Promover a dignidade da pessoaO desafioA construção da identidade pessoal e da liberdadeautêntica na atual sociedade.A fé cristã“Filhos de Deus, nós o somos!” (1Jo 3,2).103. A fé cristã ensina que a dignidade do ser humano temsua raiz mais profunda no próprio Deus. O ser humanoé dom de Deus. Não apenas seu ser, mas tambémsua vontade, sua liberdade e sua autonomia. Deus,por amor, criou o ser humano. Criou-o à sua imageme semelhança.228 Criou-o por amor e para o amor.Criou-o para a reciprocidade e para a comunhão. Emtudo isso, percebemos que o ser humano está fecundae positivamente aberto ao diálogo e à comunhão comDeus, com o próximo e consigo mesmo.104. O olhar cristão sobre o ser humano permite, de início,perceber seu valor, que transcende todo o universo. Àdiferença do restante da criação, o ser humano é pessoa,dotada de razão, vontade, autonomia, liberdadee capacidade de amar. É sujeito em relação a toda a228 Cf. Gn 1,24.87realidade, descobrindo seu sentido e governando-a.229Por isso, não podemos deixar de reconhecer e valorizarcada pessoa, em sua liberdade, autonomia, responsabilidadee dignidade. Por isso, não podemos deixar derespeitar a dignidade de todas as pessoas.105. Respeitar a dignidade da pessoa humana apresentainúmeras conseqüências. Entre as principais, destacam-se:a) defender e promover a dignidade da vida humanaem todas as etapas da existência, desde a fecundaçãoaté a morte natural;b) tratar o ser humano como fim e não como meio, nãoo manipulando como se fosse um objeto; respeitá-loem tudo que lhe é próprio: corpo, espírito e liberdade;c) tratar todo ser humano sem preconceito nem discriminação,acolhendo, perdoando, recuperando avida e a liberdade de cada pessoa, denunciando osdesrespeitos à dignidade humana e considerando ascondições materiais, históricas, sociais e culturaisem que cada pessoa vive.106. A fé cristã nos ensina que o referencial para compreendera dignidade da pessoa é Jesus Cristo, VerboEncarnado, rosto humano de Deus e rosto divino do229 Cf. Gn 2,20.88homem.230 A encarnação revela a dignidade sagradada pessoa e seu valor inquestionável. “Se o pecadodeteriorou a imagem de Deus no homem e feriu suacondição, a Boa-Nova, que é Cristo, o redimiu e orestabeleceu na graça.”231 Essa graça atua no coraçãode toda pessoa, sendo fonte de esperança, liberdadeautêntica, comunhão e paz. Diante de um clima culturalrelativista, que a todos envolve, Jesus se apresentacomo Caminho, Verdade e Vida.232• Diante de uma vida sem sentido, Jesus nos revela avida íntima de Deus em seu mistério mais elevado:a comunhão trinitária. É tal o amor de Deus, quefaz do ser humano, peregrino neste mundo, suamorada;233• Diante do desespero de um mundo sem Deus, quevê na morte só o final definitivo da existência, Jesusnos oferece a ressurreição e a vida eterna na qualDeus será tudo em todos;234• Diante da idolatria dos bens terrenos, Jesus apresentaa vida em Deus como valor supremo;235230 Cf. João Paulo II. EAm, n. 67.231 Cf. DA, n. 109.232 Cf. DA, n. 22.233 Cf. Jo 14,23.234 Cf. 1Cor 15,28.235 Cf. Mc 8,36.89• Diante do subjetivismo hedonista, Jesus propõeentregar a vida para ganhá-la, porque “quem salvaguardasua vida terrena perdê-la-á”;236• Diante do individualismo, Jesus convoca a viver ecaminhar juntos. A vida cristã só se aprofunda e sedesenvolve na comunhão fraterna;237• Diante da despersonalização, Jesus ajuda a construiridentidades integradas. A vocação, a liberdade e aoriginalidade são dons de Deus para buscar a plenitudenuma atitude de serviço a Deus e ao próximo;• Diante da exclusão, Jesus defende os direitos dosfracos e o direito a uma vida digna para todo serhumano. O ser humano, imagem vivente de Deus, ésempre sagrado, desde sua concepção até sua mortenatural, em todas as circunstâncias e condições desua vida. Por isso a Igreja assume a promoção dadignidade da pessoa diante das várias formas dedesrespeito à vida: manipulação genética, aborto,eutanásia, esterilização, comercialização do sexo, docorpo, bem como às diversas formas de violência;• Diante das estruturas de morte, Jesus faz presente avida plena. Por isso, ele cura os enfermos, expulsaos demônios e compromete os discípulos na promoçãoda dignidade humana e de relacionamentossociais fundados na justiça e na misericórdia;236 Jo 12,25.237 Cf. Mt 23,8.90• Diante da natureza ameaçada, Jesus nos convocaa cuidar da integridade da criação, defendendo-a epreservando-a, para abrigo e sustento de todas aspessoas, dos animais e de todo o ecossistema,238 emrespeito às gerações futuras.107. É através de atitudes claramente solidárias que o discípulomissionário de Jesus Cristo será capaz de dizeruma palavra específica a respeito do sofrimento. Asdores de muitos de nossos irmãos e irmãs são imensas enão podem passar despercebidas. Elas desafiam a açãoevangelizadora a não seguir alguns caminhos:a) Os caminhos da indiferença ou do ativismo, quenão deixam tempo para se colocar ao lado dos queestão sofrendo;b) O caminho das promessas fáceis e enganadoras,com oferta de prodígios, milagres, curas e sucessos,como se Jesus Cristo estivesse preso nas mãosde alguns privilegiados ou de quem cumpre certasobrigações.108. Esses caminhos não levam ao encontro com JesusCristo. Geram cristãos e cristãs marcados pelo egoísmoe não pelo amadurecimento na fé. É necessárioum discipulado que conduza a uma clara e proféticaatitude diante de uma sociedade que coloca a felicidadeno lucro, no prazer imediato e na solução dosproblemas pessoais.238 Cf. Lc 12,28; Gn 1,29; 2,15.91109. Embora envolto numa nuvem de mistério, o sofrimentohumano deve ser vivido, à semelhança de todas asdemais instâncias da vida: como uma etapa particularno caminho em direção a Cristo. Do mesmo modo queo discípulo missionário de todos os tempos, o cristãode hoje é também chamado a saber viver na fartura ouna penúria. Quer vivendo, quer morrendo, seu coraçãodeve sempre se voltar para Cristo, porque, para o discípulomissionário, o viver é Cristo e cada dia destaexistência consiste na certeza, como nos diz o ApóstoloSão Paulo, de que já não somos nós que vivemos, masé Cristo que vive em nós. É verdade que a resposta aosofrimento não é completa, acabada, imediata. Mas,no caminho dos discípulos missionários, vai se fortalecendoaquela esperança que não decepciona, umaesperança forte o suficiente para nos conduzir até odia em que aquele que começou em nós essa boa obrahaverá de levá-la à plenitude.239110. “Deus é amor. Quem ama permanece em Deus e Deuspermanece nele.”240 A resposta ao sofrimento só poderáser a resposta do amor, do amor-solidário, que ajuda acarregar a cruz, que não teme ser fraco com os fracos,que não teme sofrer com os que sofrem.241 Um amorsamaritano, que impele “ao encontro das necessida-239 Cf. Fl 4,12; Rm 14,8; Fl 1,21; Gl 2,20; Rm 5,5; Fl 1,6.240 Jo 4,8.241 Cf. 1Jo 4,8-16; Mt 27,32; 1Cor 9,19-23.92des dos pobres e dos que sofrem, atuando para criarestruturas justas, condição sem a qual não é possíveluma ordem justa na sociedade”.242 Um amor que fazassumir o sofrimento para “completar na própria carneo que falta à paixão de Cristo, por seu corpo, que é aIgreja”.243111. “Podemos procurar limitar o sofrimento e lutar contraele, mas não podemos eliminá-lo. Uma sociedade quenão consegue aceitar os que sofrem e não é capaz decontribuir, mediante a com-paixão, para fazer com queo sofrimento seja compartilhado e assumido mesmointeriormente, é uma sociedade cruel e desumana.Não é o evitar o sofrimento, a fuga diante da dor, quecura o homem, mas sim a capacidade de aceitar a tribulaçãoe nela amadurecer, de encontrar seu sentidoatravés da união com Cristo, que sofreu com infinitoamor. E, por fim, também o ‘sim’ ao amor é fonte desofrimento, porque o amor exige sempre expropriaçõesde meu eu, nas quais me deixo podar e ferir. O amornão pode, de modo algum, existir sem essa renúnciamesmo dolorosa a mim mesmo, senão torna-se puroegoísmo, anulando-se desse modo a si próprio enquantotal.”244 Seremos, portanto, felizes à medida que nosaproximarmos, cada vez mais, de Deus, acolhendo-o242 DA, nn. 419 e 537.243 Cl 1,24.244 Bento XVI. SpS, n. 37s.93na oração, seguindo os mandamentos, vivendo emcomunidade e trabalhando por um mundo onde afelicidade vise não ao proveito pessoal, mas sim aoserviço do Reino de Deus.112. Importa reconhecer que toda busca de felicidade,nesta vida, é sempre limitada, incompleta, apontandopara a eternidade. Não podemos, todavia, confundiro indispensável sonho pela vida eterna feliz com odescompromisso pelas questões ligadas a esta vida.Caminhamos para a eternidade, construindo felicidadejá nesta vida. Essa é a razão pela qual o discípulomissionário é alguém inquieto e indignado diante detodas as formas de sofrimento. Porque mergulhado nomistério do Deus de toda paz, o discípulo missionárionão se desespera nem se acomoda diante da dor e damorte. Ele sabe que, tendo os olhos fitos no futuro, nãodeixa, porém, de tirar seus pés do chão desta existência.Por isso, assume a luta pela vida e pela felicidade. Oanseio pela vida eterna feliz, longe, portanto, de descomprometercom a ação profética nesta vida, colocaa felicidade em seu verdadeiro lugar.113. A eternidade em Deus ilumina todas as buscas humanas.Liberta o discípulo missionário dos apegosexcessivos ao que é imediato. Evita a manipulaçãode Deus em nome de interesses pessoais ou grupais,na maioria das vezes, tão contrários ao Reino desse94mesmo Deus.245 Quer nas vitórias quer nas derrotas,o discípulo missionário vai se apaixonando pelo Senhorda história, da felicidade e da paz, na certeza,cada vez maior de, um dia, na eternidade, contemplaraquele que é, ao mesmo tempo, fonte e meta de todaa felicidade.Pistas de ação114. Considerando a experiência vivida nos diversos recantosde nosso país, em especial nas últimas décadas,bem como à luz da Conferência de Aparecida, algumaspistas de ação se destacam, tornando-se urgentes.A pessoa: testemunho, busca, acolhimento eacompanhamento115. Firma-se, cada vez mais, a consciência missionáriade que é preciso ir a todas as pessoas, a cada pessoa,às pessoas integralmente. A busca e o acolhimentode todos, em especial dos que experimentam algumaforma de exclusão, é sinal do Reino de Deus.246 Porisso, atenção especial haverá de ser dispensada aocontato com aquelas pessoas que não fazem parteda vida da comunidade, algumas vezes nem mesmoseguindo Jesus Cristo, nem se deixando pautar pelosvalores do Reino.245 Cf. Lc 12,13-15; Lc 18,18-27.246 Cf. Mc 10,46-52; DA, n. 353.95116. Acolher no respeito implica atenção personalizada,através da capacitação de quem possa “acompanharespiritual e pastoralmente a outros”.247 Trata-se de umadimensão importantíssima do ministério ordenado, àqual ele é chamado a se dedicar ainda mais intensamente.Trata-se, além disso, de exercer a criatividadepastoral, incentivando o surgimento e o fortalecimento,entre os cristãos leigos e cristãs leigas, de ministériosda escuta e do aconselhamento.117. Importa valorizar o encontro pessoal, como caminhode evangelização. Nele se aprofundam laços deconfiança e experiências de vida são partilhadas. Porcerto, muitas são as formas de realizar esse encontro.Os discípulos missionários precisam estar preparadospara o encontro e a escuta no momento em que sefizerem necessários. A novidade é que tais momentosde encontro pessoal não podem mais ser deixados àespontaneidade e à eventualidade. É preciso buscar ecriar momentos específicos de visita, escuta, aconselhamentoe oração. No Brasil, tem crescido bastantea experiência da visitação, com serviços e ministériospróprios. Através da visitação, do contato pessoal,contínuo e organizado, manifesta-se a iniciativa dodiscípulo missionário, que não espera a chegada doirmão ou irmã, mas vai ao encontro de cada um, decada uma e de todos.247 DA, n. 282.96118. Tendo consciência de que não há um único modeloválido para todos, é preciso oferecer às pessoas diversificadasoportunidades de encontro, de contato e deconhecimento entre si. Promovam-se oportunidades depráticas solidárias ou participação em projetos comuns,experiências de amizade e reciprocidade, experiênciasde doação gratuita a serviço dos irmãos.119. Tais visitas se dirigem não apenas às famílias e às residências,mas também a todos os demais ambientes.É preciso visitar, entre outros, os locais de trabalho, asmoradias de estudantes, as favelas e os cortiços, os alojamentosde trabalhadores, as prisões e os albergues.É preciso visitar os moradores de rua lá onde vivem:na própria rua. Todos esses locais se constituem emnúcleos de convivência, onde se experimentam valoreshumanos profundos, que devem ser reconhecidos eapoiados.248A pessoa e as diversas situações de vida120. Falar da pessoa humana, nas diversas etapas da vida,implica lembrar a criança, sinal vivo dos que acolhemo Reino de Deus.249 Infelizmente, várias são as sombrasque, em nossos dias, atingem a criança. Muitas sofremas conseqüências das grandes mudanças no contexto248 Cf. DA, n. 442.249 Cf. Mt 19,14.97familiar. Outras experimentam a pobreza, a exclusãosocial, tendo, nas situações mais agudas, apenas a rua,com suas mazelas, por abrigo. Nos ambientes onde odistanciamento em relação às comunidades cristãs émaior, encontramos crianças a quem, sob a alegação daliberdade de escolha, se nega o direito a ouvir falar deJesus. Essas são algumas das inúmeras interpelaçõespara que a comunidade missionária de nossos dias permaneçafiel à ação evangelizadora, que sempre olhouas crianças com especial carinho e atenção.250121. A infância, mais do que em épocas anteriores, é terrenode urgente missão. Essa missão se concretiza já nafirme defesa do direito ao nascimento. Permanece noacompanhamento dos primeiros anos de vida, onde,graças a trabalhos como o da Pastoral da Criança, avida ameaçada manifesta todo o seu vigor. Acolhe,nos grupos de iniciação eucarística, as crianças e seusfamiliares, faz-se presente nas escolas confessionais,no ensino religioso e nas diversas ações, onde a criançavai gradativamente se sentindo sujeito da própriacaminhada de fé. Nestes tempos em que a consciênciamissionária emerge com maior vigor, haveremos dedestacar ações como a Infância Missionária e tantas outras,que, desde a infância, ajudam o coração humanoa descobrir a riqueza do anúncio do Evangelho.251250 Cf. DA, n. 439.251 Cf. DA, n. 441.98122. Os adolescentes e os jovens, dada a situação em quese encontram, na sociedade de hoje, merecem melhoracolhida e sincero amor nas comunidades eclesiaise maior espaço para a ação. Estão entre os mais expostosaos efeitos da pobreza, vítimas de toda sortede alienações, que afetam sua identidade pessoal esocial. São fortemente influenciados por falsas ilusõesde felicidade e pelo paraíso enganoso das drogas, doprazer, do álcool e de todas as formas de violência.252São presas fáceis das novas propostas religiosas epseudo-religiosas.253 Estão afetados por uma educaçãode baixa qualidade. Muitos nem encontram possibilidadede estudar ou trabalhar. Outros são obrigados adeixar seu lugar de origem. Buscam possibilidades ealternativas de estudo, acesso à instrução, qualificaçãoe emprego nos grandes centros urbanos ou até mesmoem outros países. Longe da família e das estruturas deapoio do tecido de origem, endossam o contingentedos migrantes.254123. Torna-se urgente renovar a “opção afetiva e efetivade toda a Igreja pela juventude na busca conjunta depropostas concretas”255 capazes de acolher a pluralidadede pastorais, grupos, movimentos e serviços,252 DA, nn. 443 e 422-426.253 Cf. DA, n. 444.254 Cf. DA, n. 445.255 CNBB. Doc. Evangelização da Juventude: Desafios e perspectivas pastorais,n. 4. Brasília, Edições CNBB, 2007.99na busca de um trabalho em conjunto, incentivandoos jovens a, fraterna e solidariamente, evangelizar ospróprios jovens,256 comprometendo-se, junto aos maisdiversos ambientes, com a construção de um mundocada vez mais próximo do Reino de Deus. Em todo otrabalho evangelizador com a juventude, haverá de seconsiderar as ricas indicações do Documento Evangelizaçãoda Juventude. Desafios e perspectivas pastorais,aprovado pela 45a Assembléia Geral. Entre outros, odocumento refere-se aos seguintes aspectos:a) Garantir a formação integral no planejamento e noprocesso de evangelização em todos os segmentoseclesiais que trabalham com a juventude;b) Promover e valorizar projetos e processos de educaçãoaos valores, principalmente a educação parao amor;c) Garantir o acompanhamento de programas quecontribuam com a construção do projeto pessoalde vida, com o devido discernimento e amadurecimentovocacional;d) Valorizar a dimensão missionária dos jovens paraque sejam verdadeiros protagonistas na evangelização;e) Privilegiar processos de educação e amadurecimentona fé, com atenção à espiritualidade, formando,256 Cf. DA, n. 336; CNBB. Doc. Evangelização da Juventude: Desafios eperspectivas pastorais, n. 5. Brasília, Edições CNBB, 2007.100de maneira gradual, os jovens para a missão, a açãopolítica e a transformação do mundo;f) Ajudar os jovens a assumir a opção preferencialpelos pobres;g) Propiciar capacitação profissional, apoio humanoe comunitário, ajudando os jovens a não caírem nomundo das drogas, na violência e na criminalidade;h) Estimular a pastoral do mundo universitário, emsuas mais diversas formas, visando à formação deprofissionais éticos e de futuras lideranças sociaise políticas;i) Criar, também nas dioceses, o Setor Juventude;j) Garantir assessores que acompanhem, nas dioceses,a Pastoral da Juventude e o Setor Juventude.257124. No que diz respeito às crianças e jovens, é necessáriosubsidiar famílias, escolas, paróquias, pastorais e outrasentidades com propostas de educação na área daafetividade e da sexualidade, para a vivência do amorno caminho da autêntica felicidade.125. Contemplando ainda a pessoa nos diversos momentosde sua vida, torna-se necessário respeitar e valorizaros idosos, acompanhá-los em sua condição especial e257 Cf. CNBB. Doc. Evangelização da Juventude: Desafios e perspectivaspastorais. Brasília, Edições CNBB, 2007101deles aprender a sabedoria da vida.258 A família, a comunidadee a sociedade não podem considerá-los pesoou carga. Fazem-se necessárias atitudes e políticassociais justas e solidárias, que atendam às necessidadesdos idosos.259 A Igreja se sente comprometida a darlhesatenção humana integral, incorporando-os aindamais na missão evangelizadora.260 A Pastoral da PessoaIdosa é hábil instrumento para que isso aconteça.126. Sejam valorizadas as mulheres, de toda condiçãosocial, em seu cuidado e educação dos filhos, na construçãode uma vida social mais humana e na busca desempre melhor servir à vida eclesial e familiar. É necessáriosuperar a mentalidade machista, que ignora anovidade do cristianismo acerca da “igual dignidade eresponsabilidade da mulher em relação ao homem”.261Urge que as mulheres possam participar plenamente davida familiar, eclesial, cultural, social, política e econômica,criando espaços e estruturas que favoreçamsua inclusão.262 Entre as ações pastorais cabe:a) Impulsionar uma organização pastoral que promovaainda mais o protagonismo das mulheres;258 Cf. DA, n. 448.259 Cf. DA, n. 449.260 Cf. DA, n. 450.261 DA, n. 453.262 Cf. DA, n. 454.102b) Garantir a efetiva presença da mulher nos ministériosque a Igreja confia aos leigos, assim como nasesferas de planejamento e decisão;c) Acompanhar as associações que lutam para superarsituações difíceis pelas quais as mulheres passamem seu dia-a-dia;d) Apoiar programas, leis e políticas públicas quepermitam harmonizar a vida laboral da mulher comseus deveres de mãe de família,263 com atençãoespecial às empregadas domésticas, às operárias esimilares.127. Preocupa ainda o fato de que muitos homens se têmmantido à margem da Igreja. Isso questiona fortementeo estilo de nossa pastoral convencional.264 Parasuperar esses limites, cabe incluir nos conteúdos deformação na Igreja a reflexão em torno da vocação aque o homem está chamado a viver no Matrimônio,na família, na Igreja e na sociedade,265 bem comoutilizar de criatividade para acolhê-los e auxiliá-losno engajamento comunitário.263 Cf. DA, n. 458.264 Cf. DA, n. 461.265 Cf. DA, n. 463f.103A pessoa e a família128. Um olhar atento haverá de ser dirigido à família, patrimônioda humanidade, lugar e escola de comunhão,pequena Igreja doméstica e primeiro local para a iniciaçãocristã das crianças.266 Tamanha é sua importânciaque deve ser considerada “um dos eixos transversaisde toda a ação evangelizadora”.267129. A família é reconhecida como o maior valor por nossopovo. Por isso deve ser ajudada por uma pastoralfamiliar intensa e vigorosa.268 A reconhecer a belezado amor humano quando é vivido como dom sincerode si para o bem do outro. A pastoral familiar poderácontribuir para que a família seja reconhecida e vividacomo lugar não somente de sacrifício, mas também derealização humana, a mais intensa possível na experiênciade paternidade, de maternidade, de filiação, comoestrutura de um pertencer que desperte crescimento,maturidade, e proporcione satisfação.130. Por isso, os pais têm o dever de transmitir a fé e dartestemunho do amor por Jesus Cristo e pela Igreja, paraseus filhos, na qualidade de primeiros catequistas. A espiritualidadeconjugal e familiar se expressa na oração266 Cf. DA, nn. 118 e 302.267 DA, n. 435.268 Cf. Bento XVI. DA: Discurso Inaugural, n. 5.104em família, na participação na Eucaristia dominical ena dedicação aos serviços pastorais da comunidade. Ospilares da vida e espiritualidade familiar são o diálogo,o afeto, o perdão e a oração, que são expressões doamor conjugal e familiar. Pela graça do Batismo e dosacramento do Matrimônio, pais e filhos se santificamno cotidiano.131. Nas últimas décadas, assistimos a transformaçõesprofundas no jeito de ser família, transformações queafetaram até mesmo sua compreensão e valorização.269Sofremos a imposição de uma mentalidade antivida,com graves conseqüências pessoais, comunitárias esociais. Na família nuclear, diminuem os nascimentose também as vocações. A sociedade envelhece rapidamente.Em meio a tantos desafios importa auxiliar,com a luz do Evangelho, as famílias a viverem suasalegrias e dores, bem como buscar a prática efetiva dosvalores cristãos essenciais à família,270 com estímuloexplícito à recepção responsável, consciente e coerentedo sacramento do Matrimônio.132. Faz-se necessária uma profunda e séria preparaçãoao Matrimônio, com evangelização de namorados e269 Cf. João Paulo II, NMI, n. 47, onde aparece a expressão “crise generalizadae radical”.270 Cf. CNBB. Estudo. Pastoral Familiar no Brasil, nn. 71-82. São Paulo, Paulus,2004; Pontifíci o Conselho para a Família. Lexicon: Termos ambíguose discutidos sobre família, vida e questões éticas. Brasília, Edições CNBB,2007, pp. 317-442.105noivos e acompanhamentos de novos casais. Sejamcelebradas datas importantes ligadas à vida e à família,como a Semana Nacional da Vida e o Dia doNascituro.133. Os casais em segunda união e seus filhos sejam acolhidos,acompanhados e incentivados, conforme suasituação, a participarem da vida da Igreja, segundo asorientações do Magistério.271134. Na atuação em prol da família, é preciso cobrarpolíticas públicas, efetivas e duradouras que, paraalém de meras propostas eleitoreiras, efetivamenteproporcionem condições necessárias ao bem-estar dasfamílias, evitando tudo que as prejudique. Sempre queas políticas públicas se manifestarem insuficientes ouineficazes, a própria comunidade local deve tomariniciativas de solidariedade em relação a pessoas,famílias e grupos atingidos pela miséria, pela fome epor outras tantas formas de sofrimento.272135. Carinho especial haverão de receber as famíliasmarcadas pela violência e outros males em suas maisdiversas formas, como o alcoolismo, o machismo,o desemprego e principalmente as drogas, as balasperdidas, os assassinatos e os grupos de extermínio. É271 Cf. João Paulo II. FC, n. 84.272 Cf. CNBB. Doc. Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja noBrasil: 2003-2006, n. 123c. São Paulo, Paulinas, 2003.106indispensável que se continue e mesmo se intensifiqueo trabalho de prevenção contra as drogas e o combateà sua difusão. Criem-se e se desenvolvam pastorais einstituições que lidem com toxicodependentes e seusfamiliares. Sejam estimulados grupos de apoio às famíliasque perderam seus entes queridos em situaçõesde aguda violência.136. A Conferência de Aparecida enfatizou a importância dapresença do homem, do pai, e sua missão na família,como também o direito que os filhos possuem de tera presença do pai em casa.A pessoa, o trabalho e a moradia137. É preciso acompanhar as alegrias e preocupações dostrabalhadores e das trabalhadoras, fazendo-se evangelicamentepresente nos locais de trabalho, nos sindicatos,nas associações de classe e lazer, entre outros. Emnossos dias, não há como deixar de lado a luta contrao desemprego, buscando caminhos alternativos paraa geração de renda e a economia solidária. Contamosnessa tarefa, entre outros, com as diversas pastorais emovimentos ligados ao mundo do trabalho.138. Atenção especial seja dada aos migrantes forçadospela busca de trabalho e moradia:a) Os migrantes brasileiros no exterior, vivendo nomeio de outras culturas e tradições, e que precisamde amparo, apoio e assistência religiosa;107b) Os migrantes sazonais, que constituem mão-de-obrabarata e superexplorada pelo agronegócio em suasformas variadas;c) As vítimas do tráfico de pessoas seduzidas por propostasde trabalho que levam à exploração tambémsexual;d) Os trabalhadores explorados pelos métodos deterceirização, vítimas de atravessadores de mãode-obra;e) Os novos migrantes estrangeiros em busca de sobrevivênciaem nossa pátria, muitos se encontrandoem situação de não-cidadania e discriminação.139. É urgente o estabelecimento de estruturas nacionaise diocesanas destinadas não apenas a acompanhar osmigrantes e refugiados, como também a empenhar-sejunto aos organismos da sociedade civil, para que osgovernos tenham uma política migratória que leve emconta os direitos das pessoas em mobilidade.140. Junto com os migrantes, observe-se especial atençãoaos que são marcados pela itinerância. Entre estes,podemos destacar os marítimos, os pescadores e oscaminhoneiros, os ciganos, os circenses e os parquistas.Quer ao longo do litoral e dos rios, especialmentenos portos, quer ao longo da grande malha rodoviáriabrasileira, é preciso estar junto com aqueles que fazemda itinerância seu ganha-pão.108141. Considerando, ainda, que, em nossos dias, o lazer e oturismo também se constituem em motivo de mobilidade,é necessário pensar formas de atendimento pastoralaos que, em temporada de finais de semana, deixamsuas residências, dirigindo-se a regiões de descanso,férias, ecoturismo e turismo religioso, bem como aostrabalhadores e agentes promotores do turismo. Étempo de desenvolver e incrementar uma criativa earticulada Pastoral do Turismo.273A pessoa, a pobreza, a exclusão e as ameaças à vida142. A Igreja faz a opção pela vida, mergulhando nas profundezasda existência humana: o nascer e o morrer, acriança e o idoso, o adolescente e o jovem, o sadio e oenfermo, o recém-nascido e o envelhecido, o excluído,o renegado e o jogado à margem da dignidade humana.274 Opção pelos pobres e opção pela vida não sãoduas realidades distintas. Ao contrário, estamos diantede um período fecundo, no qual se fortalece ainda maiso compromisso solidário que brota do Evangelho.143. Em nossos dias, assistimos ao surgimento de novosrostos sofredores. “A Igreja, em todos os seus grupos,movimentos e associações, animados pela Pastoral273 Cf. CNBB. Doc. Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja noBrasil: 2003-2006, n. 123k. São Paulo, Paulinas, 2003; DA, n. 243.274 Cf. Hb 2,11-12; DA, n. 392; João Paulo II. NMI, n. 50.109Social, deve dar acolhida e acompanhar essas pessoasexcluídas nas esferas respectivas.”275 É preciso assumiratitudes,276 não apenas em nível de anúncio do imprescindívelvalor da vida, mas também através de práticasque ajudem a vida a florescer e se manter.144. Entre essas atitudes, destacam-se as pastorais dasobriedade e de prevenção ao HIV e assistência àspessoas que vivem e convivem com HIV/Aids.277 Aassistência precisa ser marcada pelo acolhimento sempreconceito e discriminação, bem como pela defesados direitos das pessoas infectadas. A pastoral da Aidsse realiza em cinco direções: prevenção, intervenção,recuperação, ressocialização, acompanhamento eapoio das políticas governamentais para combater essapandemia. A prevenção, baseada em critérios éticos ecristãos, deve implementar a informação, promovera educação e levar a assumir atitudes responsáveisdiante da epidemia.145. “Preocupam-nos também as pessoas com limitaçõesfísicas e os portadores e vítimas de enfermidadesgraves, que sofrem a solidão e se vêem excluídos daconvivência familiar e social.”278 Favorecer o acolhimentodas pessoas com deficiência, assegurando-lhes275 DA, n. 402; ver nestas Diretrizes, n. 83.276 Cf. DA, n. 436.277 Cf. DA, n. 421.278 DA, n. 65.110o direito à evangelização e à acessibilidade, é serviçodo discípulo missionário de Jesus Cristo, não apenas nacatequese especial, mas na formação de fóruns permanentesde pessoas portadoras de deficiência. No ensinoreligioso nas escolas, deve-se ter especial atenção paracom os alunos com deficiências. A integração dessesalunos em sala de aula e na comunidade escolar é fonteeducativa também para as outras crianças.146. Por tudo isso, torna-se imprescindível aprofundar, emtodos os âmbitos, a formação dos ministros ordenadosem vista do conhecimento profundo da realidadecomo ponto importante de sua espiritualidade e de suamissão, pois que serão ordenados para seguir JesusCristo, que, “sendo rico, se fez pobre, para a todosenriquecer”.279A pessoa, a oração e a celebração147. Outro destaque se refere à vida de oração. Sabemos que“a oração diária é o sinal do primado da graça no caminhodo discípulo missionário”.280 Com alegria, vemoscrescer, em muitas regiões, o contato com a Palavrade Deus através do Ofício Divino, da leitura orante daBíblia, dos círculos bíblicos e grupos de reflexão, daoração em família e outras formas de oração.279 2Cor 8,9.280 DA, n. 255.111148. Torna-se, pois, importante que se eduque para aoração pessoal, familiar, comunitária e litúrgica. Afamiliaridade com a oração pessoal permite ao discípulomissionário colocar-se diante da pessoa de JesusCristo em qualquer ambiente, a qualquer hora. Essamaturidade na vida de oração é ainda mais importantenaqueles lugares e naquelas situações em que a vidase torna mais agitada e socialmente conflitiva. Nessesambientes, os cristãos e cristãs devem ser ajudados amergulhar na atitude de oração, mesmo que o contextonão lhes seja propício.149. Por outro lado, a maior proximidade com a vida deoração comunitária e litúrgica haverá de atuar comoponto de equilíbrio, diante da forte tentação do individualismoaté mesmo ao se colocar diante de Deus.Nesse equilíbrio, o discípulo missionário aprende que,quanto mais ele reza sozinho, mais sente vontade derezar com seus irmãos e vice-versa. Para isso, torna-senecessário facilitar o direito dos fiéis à participação nossacramentos, sacramentais e demais atos de piedadecristã, com horários e locais adequados aos ritmos devida das pessoas e maior disponibilidade dos ministrosordenados.