II CAPÍTULO
« Esta é a nossa fé, esta é a fé da igreja »
« Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para instruir, para refutar, para corrigir e para educar na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito, qualificado para toda boa obra » (2 Tm 3,16).« Portanto, irmãos, ficai firmes; guardai as tradições que vos ensinamos oralmente ou por escrito » (2 Ts 2,15).
119. Este capítulo reflete acerca do conteúdo da catequese tal como ele é exposto pela Igreja nas sínteses de fé que, oficialmente, elabora e propõe nos seus catecismos.
A Igreja sempre se valeu de formulações da fé que, em forma breve, contêm o essencial daquilo que crê e vive: textos neotestamentários, símbolos ou profissões, fórmulas litúrgicas, orações eucarísticas. Mais tarde, considerou-se também conveniente oferecer uma explicitação mais ampla da fé, na forma de uma síntese orgânica, mediante os Catecismos que em numerosas Igrejas locais foram elaborados nestes últimos séculos. Em dois momentos históricos, por ocasião do Concílio de Trento e nos nossos dias, decidiu-se ser oportuno oferecer uma exposição orgânica da fé, mediante um Catecismo de caráter universal, como ponto de referência para a catequese de toda a Igreja. Assim, de fato, quis proceder João Paulo II, com a promulgação do Catecismo da Igreja Católica, no dia 11 de outubro de 1992.
O presente capítulo procura situar estes instrumentos oficiais da Igreja, como o são os catecismos, em relação à atividade ou à prática catequética.
Em primeiro lugar, refletir-se-á sobre o Catecismo da Igreja Católica, procurando esclarecer o papel que lhe cabe no conjunto da catequese eclesial. Depois, analisar-se-á a necessidade dos Catecismos locais, que têm o objetivo de adaptar o conteúdo da fé às diferentes situações e culturas e propor-se-á algumas diretrizes para facilitar a elaboração dos mesmos. A Igreja, ao contemplar a riqueza de conteúdo da fé exposta nos instrumentos que os próprios Bispos propõem ao Povo de Deus, e que, como uma « sinfonia » (413) exprimem aquilo que ela crê, celebra, vive e proclama: « Esta é a nossa fé, esta é a fé da Igreja ».
O Catecismo da Igreja Católica e o Diretório Geral para a Catequese
120. O Catecismo da Igreja Católica e o Diretório Geral para a Catequese são dois instrumentos distintos e complementares, a serviço da ação catequizadora da Igreja.
– O Catecismo da Igreja Católica é « uma exposição da fé da Igreja e da doutrina católica, atestadas e iluminadas pelas Sagradas Escrituras, pela Tradição Apostólica e pelo Magistério da Igreja ». (414)
– O Diretório Geral para a Catequese é a proposição dos « fundamentais princípios teológico-pastorais, inspirados no Magistério da Igreja e, de modo particular, no Concílio Vaticano II, aptos a poder orientar a coordenação » (415) da atividade catequética na Igreja.
Ambos os instrumentos, tomados cada um no seu próprio gênero e na sua específica autoridade, completam-se mutuamente.
– O Catecismo da Igreja Católica é um ato do Magistério do Papa, com o qual, no nosso tempo, ele sintetiza normativamente, em virtude de sua autoridade apostólica, a globalidade da fé católica e a oferece, antes de mais nada, às Igrejas, como ponto de referência para a exposição autêntica do conteúdo da fé.
– O Diretório Geral para a Catequese, por sua vez, tem o valor que a Santa Sé normalmente atribui a estes instrumentos de orientação, aprovando-os e confirmando-os. É um subsídio oficial para a transmissão da mensagem evangélica e para o conjunto do ato catequético.
O caráter de complementaridade de ambos os instrumentos justifica o fato, como dito no Prefácio, que o presente Diretório Geral para a Catequese não dedique um capítulo à exposição dos conteúdos da fé, como foi feito no Diretório de 1971, sob o título: « Os elementos essenciais da mensagem cristã ». (416) Por este motivo, no que concerne ao conteúdo da mensagem, o Diretório Geral Catequético remete simplesmente ao Catecismo da Igreja Católica, do qual pretende ser um instrumento metodológico para a sua aplicação concreta.
A apresentação do Catecismo da Igreja Católica que se expõe a seguir, não é elaborada nem para resumir, nem para justificar tal instrumento do Magistério, mas sim para facilitar uma melhor compreensão e recepção do mesmo, na prática catequética.
O Catecismo da Igreja Católica
Finalidade e natureza do Catecismo da Igreja Católica
121. É o próprio Catecismo da Igreja Católica a indicar, no seu Prefácio, a finalidade que o orienta: « Este Catecismo tem o objetivo de apresentar uma exposição orgânica e sintética dos conteúdos essenciais e fundamentais da doutrina católica, tanto sobre a fé como sobre a moral, à luz do Concílio Vaticano II e do conjunto da Tradição da Igreja ». (417)
O Magistério da Igreja, com o Catecismo da Igreja Católica, quis prestar um serviço eclesial para o nosso tempo, reconhecendo-o:
– « instrumento válido e legítimo a serviço da comunhão eclesial ». (418) Deseja fomentar o vínculo da unidade, facilitando nos discípulos de Jesus Cristo, « a profissão de uma única fé, recebida dos Apóstolos »; (419)
– « norma segura para o ensinamento da fé ».(420) Diante do legítimo direito de todo batizado, de conhecer da Igreja o que ela recebeu e aquilo em que ela crê, o Catecismo da Igreja Católica oferece uma resposta clara. É, por isso, um referencial obrigatório para a catequese e para as demais formas de ministério da Palavra;
– « ponto de referência para os catecismos ou compêndios que são preparados nas diversas regiões ». (421) O Catecismo da Igreja Católica, de fato, « não é destinado a substituir os catecismos locais », (422) mas sim « a encorajar e ajudar a redação de novos catecismos locais, que levem em consideração as diversas situações e culturas, mas que preservem com cuidado a unidade da fé e a fidelidade à doutrina católica ». (423)
A natureza ou caráter próprio deste documento do Magistério consiste no fato que ele se apresenta como síntese orgânica da fé, de valor universal. Neste aspecto, difere de outros documentos do Magistério, os quais não pretendem oferecer tal síntese. É diferente, por outro lado, dos catecismos locais que, embora na comunhão eclesial, são destinados a servir uma parte determinada do Povo de Deus.
A articulação do Catecismo da Igreja Católica
122. O Catecismo da Igreja Católica se articula em torno a quatro dimensões fundamentais da vida cristã: a profissão de fé, a celebração litúrgica, a moral evangélica e a oração. Estas quatro dimensões nascem de um mesmo núcleo: o mistério cristão. Este:
– « é o objeto da fé (primeira parte);
– é celebrado e comunicado nas ações litúrgicas (segunda parte);
– é presente para iluminar e amparar os Filhos de Deus em suas ações (terceira parte);
– é fundamento da nossa oração, cuja expressão privilegiada é o Pai Nosso, e constitui o objeto da nossa súplica, do nosso louvor e da nossa intercessão (quarta parte) ».(424)
Esta articulação quadripartita desenvolve os aspectos essenciais da fé:
– crer em Deus criador, Uno e Trino, e no seu desígnio salvífico;
– ser santificados por Ele, na vida sacramental;
– amá-Lo com todo o coração e amar ao próximo como a nós mesmos;
– rezar, na expectativa da vinda do seu Reino e do encontro face a face com Ele.
O Catecismo da Igreja Católica se refere, assim, à fé crida, celebrada, vivida e pregada, e constitui um chamado à educação cristã integral.
A articulação do Catecismo da Igreja Católica remete à profunda unidade da vida cristã. Nele se faz explícita a inter-relação entre « lex orandi », « lex credendi » e « lex vivendi ». « A liturgia é, ela própria, oração; a confissão da fé encontra o seu justo posto na celebração do culto. A graça, fruto dos sacramentos, é a condição insubstituível do agir cristão, assim como a participação na liturgia da Igreja, requer a fé. Se a fé não se realiza nas obras, é morta e não pode dar frutos de vida eterna ». (425)
Com esta articulação tradicional em torno das quatro colunas que sustentam a transmissão da fé (símbolo, sacramentos, decálogo e Pai Nosso), (426) o Catecismo da Igreja Católica se oferece como referência doutrinal na educação às quatro tarefas basilares da catequese (427) e para a elaboração dos Catecismos locais, embora não pretendendo impor, nem àquela primeira, nem a estes últimos, uma configuração determinada. O modo mais adequado de ordenar os elementos do conteúdo da catequese deve responder às respectivas circunstâncias concretas, e não deve ser estabelecido para toda a Igreja, através do Catecismo comum. (428) A perfeita fidelidade à doutrina católica é compatível com uma rica diversidade no modo de apresentá-la.
A inspiração do Catecismo da Igreja Católica: o cristocentrismo trinitário e a sublimidade da vocação cristã da pessoa humana
123. O eixo central do Catecismo da Igreja Católica é Jesus Cristo, « ...o Caminho, a Verdade e a Vida » (Jo 14,6).
O Catecismo da Igreja Católica, centrado em Jesus Cristo, orienta-se em duas direções: em direção a Deus e em direção à pessoa humana.
– O mistério de Deus, Uno e Trino, e a sua economia salvífica, inspira e hierarquiza, a partir do seu interior, o Catecismo da Igreja Católica, no seu conjunto e nas suas partes. A profissão de fé, a liturgia, a moral evangélica e a oração têm, no Catecismo da Igreja Católica, uma inspiração trinitária, que atravessa toda a obra, como fio condutor. (429) Este elemento inspirador central contribui a dar ao texto um profundo caráter religioso.
– O mistério da pessoa humana é apresentado nas páginas do Catecismo da Igreja Católica, sobretudo em alguns capítulos particularmente significativos: « O homem é capaz de Deus », « A criação do homem », « O Filho de Deus se fez homem », « A vocação do homem é a vida no Espírito »... e outros ainda. (430) Esta doutrina, contemplada à luz da natureza humana de Jesus, homem perfeito, mostra a altíssima vocação e o ideal de perfeição a que cada pessoa humana é chamada.
Na verdade, toda a doutrina do Catecismo da Igreja Católica pode ser sintetizada neste pensamento conciliar: « Na mesma revelação do mistério do Pai e de Seu amor, Cristo manifesta plenamente o homem ao próprio homem e lhe descobre a sua altíssima vocação ». (431)
O gênero literário do Catecismo da Igreja Católica
124. É importante descobrir o gênero literário do Catecismo da Igreja Católica, para respeitar a função que a autoridade da Igreja lhe atribui, no exercício e na renovação da atividade catequética dos nossos dias.
Os traços principais que definem o gênero literário do Catecismo da Igreja Católica são:
– O Catecismo da Igreja Católica é, antes de mais nada, um catecismo; ou seja, um texto oficial do Magistério da Igreja que, com autoridade, reúne, de forma precisa, na forma de síntese orgânica, os eventos e as verdades salvíficas fundamentais, que exprimem a fécomum do povo de Deus e constituem a indispensável referência de base para a catequese.
– Pelo fato de ser um catecismo, o Catecismo da Igreja Católica encerra aquilo que é basilar e comum à vida cristã, sem apresentar como pertencentes à fé interpretações particulares, que não são senão hipóteses pessoais ou opiniões de alguma escola teológica. (432)
– O Catecismo da Igreja Católica é, além disso, um Catecismo de caráter universal, oferecido a toda a Igreja. Nele se apresenta uma síntese atualizada da fé, que incorpora a doutrina do Concílio Vaticano II e as interrogações religiosas e morais da nossa época. Todavia, « pela sua própria finalidade, este Catecismo não se propõe realizar as adaptações da exposição e dos métodos catequéticos exigidos pelas diferenças de culturas, de idades, da vida espiritual, de situações sociais e eclesiais daqueles a quem a catequese é dirigida. Tais adaptações indispensáveis adaptações cabem aos catecismos apropriados e, ainda mais aos que ministram instrução aos fiéis ». (433)
O « Depósito da fé » e o Catecismo da Igreja Católica
125. O Concílio Vaticano II se propôs como objetivo principal, o de melhor conservar e apresentar o precioso depósito da doutrina cristã, para torná-lo mais acessível aos fiéis de Cristo e a todos os homens de boa vontade.
O conteúdo de tal depósito é a Palavra de Deus, conservada na Igreja. O Magistério da Igreja, tendo-se proposto a finalidade de elaborar um texto de referência para o ensinamento da fé, escolheu deste precioso tesouro coisas novas e coisas antigas, que considerou mais convenientes para a finalidade prefixada. O Catecismo da Igreja Católica se apresenta, assim, como um serviço fundamental: favorecer o anúncio do Evangelho e o ensinamento da fé, que recebem a sua mensagem do depósito da Tradição e da Sagrada Escritura confiado à Igreja, para que se realizem com total autenticidade. O Catecismo da Igreja Católica não é a única fonte da catequese, uma vez que, como ato do Magistério, não é superior à Palavra de Deus, mas a Ela serve. Todavia, é um ato particularmente relevante de interpretação autêntica desta Palavra, em vista do anúncio e da transmissão do Evangelho, em toda a sua verdade e pureza.
126. À luz desta relação entre Catecismo da Igreja Católica e o depósito da fé, convém esclarecer duas questões de vital importância para a catequese:
– a relação entre a Sagrada Escritura e o Catecismo da Igreja Católica, como pontos de referência para o conteúdo da catequese;
– a relação entre a Tradição catequética dos Padres da Igreja, com a sua riqueza de conteúdos, e de compreensão do processo catequético, e o Catecismo da Igreja Católica.
A Sagrada Escritura, o Catecismo da Igreja Católica e a catequese
127. A Constituição Dei Verbum, do Concílio Vaticano II, sublinhou a importância fundamental da Sagrada Escritura na vida da Igreja. Ela é apresentada, junto com a Sagrada Tradição, como « regra suprema da fé », já que transmite imutavelmente « a própria palavra de Deus » e faz « ressoar nas palavras dos Profetas e dos Apóstolos a voz do Espírito Santo ». (434) Por isso, a Igreja quer que em todo o ministério da Palavra, a Sagrada Escritura tenha uma posição proeminente. A catequese, em síntese, deve ser « uma autêntica introdução à "lectio divina", isto é, à leitura da Sagrada Escritura feita "segundo o Espírito" que habita na Igreja ». (435)
Neste sentido, « falar da Tradição e da Escritura como fonte da catequese, quer dizer sublinhar que esta última deve embeber-se e permear-se com o pensamento, com o espírito e com as atitudes bíblicas e evangélicas, mediante um assíduo contato com tais textos; mas significa também, recordar que a catequese será tanto mais rica e eficaz, quanto mais ler os textos com a inteligência e o coração da Igreja ». (436) Nesta leitura eclesial da Escritura, feita à luz da Tradição, o Catecismo da Igreja Católica desempenha um papel muito importante.
128. A Sagrada Escritura e o Catecismo da Igreja Católica se apresentam como dois instrumentos fundamentais para inspirar toda a ação catequizadora da Igreja no nosso tempo.
– A Sagrada Escritura, de fato, como « palavra de Deus escrita sob a inspiração do Espírito Santo » (437) e o Catecismo da Igreja Católica, enquanto relevante expressão atual da Tradição viva da Igreja e norma segura para o ensinamento da fé, são chamados, cada um a seu próprio modo e segundo a sua específica autoridade, a fecundar a catequese na Igreja contemporânea.
– A catequese transmite o conteúdo da Palavra de Deus, segundo as duas modalidades com que a Igreja o possui, o interioriza e o vive: como narração da História da Salvação e como explicitação do Símbolo da fé. A Sagrada Escritura e o Catecismo da Igreja Católica devem inspirar tanto a catequese bíblica quanto a catequese doutrinal, que veiculam este conteúdo da Palavra de Deus.
– No desenvolvimento ordinário da catequese, é importante que os catecúmenos e os catequizandos possam valer-se tanto da Sagrada Escritura quanto do Catecismo local. A catequese, enfim, não é senão a transmissão, vital e significativa, destes « documentos de fé ». (438)
A Tradição catequética dos Santos Padres e o Catecismo da Igreja Católica
129. No depósito da fé, juntamente com a Escritura, está contida toda a Tradição da Igreja. « As asserções dos Santos Padres atestam a vivificante presença desta Tradição, cujas riquezas se transfundem na praxe e na vida da Igreja crente e orante ». (439)
Em referência a tanta riqueza doutrinal e pastoral, alguns aspectos merecem atenção:
– A importância decisiva que os Padres atribuem ao catecumenato batismal na configuração das Igrejas particulares.
– A progressiva e gradual concepção da formação cristã, estruturada em etapas. (440) Os Padres configuram o catecumenato, inspirando-se na pedagogia divina. No processo catecumenal, o catecúmeno, como o Povo de Israel, percorre um caminho para chegar à terra prometida: a identificação batismal com Cristo. (441)
– A estruturação do conteúdo da catequese segundo as etapas daquele processo. Na catequese patrística, a narração da história da salvação tinha um papel primário. Em meados do período da Quaresma, se procedia às entregas do Símbolo e do Pai Nosso e à explicação dos mesmos, com todas as suas implicações morais. A catequese mistagógica, uma vez celebrados os sacramentos da iniciação, ajudava a interiorizá-los e a saboreá-los.
130. O Catecismo da Igreja Católica, por sua vez, leva à catequese a grande tradição dos catecismos. (442) Da grande riqueza desta tradição, também aqui cabe sublinhar alguns aspectos:
– A dimensão cognoscitiva ou verídica da fé. Esta não é somente adesão vital a Deus, mas também assentimento do intelecto e da vontade à verdade revelada. Os catecismos recordam constantemente à Igreja, a necessidade de que os fiéis, ainda que de forma simples, tenham um conhecimento orgânico da fé.
– A educação à fé, bem radicada em todas as suas fontes, abraça diferentes dimensões: uma fé professada, celebrada, vivida e orada.
A riqueza da tradição patrística e daquela dos catecismos conflui na atual catequese da Igreja, enriquecendo-a, tanto na suaprópria concepção, quanto nos seus conteúdos. Recordam à catequese os sete elementos basilares que a configuram: as três etapas da narração da história da salvação: o Antigo Testamento, a vida de Jesus Cristo e a História da Igreja; e as quatro colunas da exposição: o Símbolo, os Sacramentos, o Decálogo e o Pai Nosso. Com estas sete pedras fundamentais, base tanto de todo o processo da catequese de iniciação como do itinerário contínuo do amadurecimento cristão, podem-se construir edifícios de diversa arquitetura ou articulação, segundo os destinatários ou as diferentes situações culturais.
Os Catecismos nas Igrejas locais
Os Catecismos locais: a sua necessidade (443)
131. O Catecismo da Igreja Católica é oferecido a todos os fiéis e a cada homem que queira conhecer aquilo em que crê a Igreja Católica (444) e, de maneira toda especial, « é destinado a encorajar e ajudar a redação de novos Catecismos locais, que levem em consideração as diversas situações e culturas, mas que preservem com cuidado a unidade da fé e a fidelidade à doutrina católica ». (445)
Os Catecismos locais, de fato, elaborados ou aprovados pelos Bispos diocesanos ou pelas Conferências dos Bispos, (446) são inestimáveis instrumentos para a catequese « chamada a levar a força do Evangelho ao coração da cultura e das culturas ». (447) Por esta razão, João Paulo II dirigiu « um fervoroso encorajamento às Conferências dos Bispos de todo o mundo: que elas tomem a iniciativa, com paciência mas ao mesmo tempo com firme resolução, daquele grande trabalho a ser realizado, de acordo com a Sé Apostólica, qual é o de preparar verdadeiros catecismos, fiéis aos conteúdos essenciais da Revelação e atualizados no que se refere ao método, em condições de educar para uma fé vigorosa, as gerações cristãs dos tempos novos ». (448)
Por meio dos Catecismos locais, a Igreja atualiza a « pedagogia divina » (449) que Deus utilizou na Revelação, adaptando a sua linguagem à nossa natureza, com próvida solicitude. (450) Nos Catecismos locais, a Igreja comunica o Evangelho de maneira acessível à pessoa humana, a fim de que esta possa realmente apreendê-lo como Boa Nova de salvação. Os Catecismos locais se convertem, assim, em expressão palpável da admirável « condescendência » (451) de Deus e do seu amor« inefável » (452) pelo mundo.
O gênero literário de um Catecismo local
132. Três são os traços principais que caracterizam todo catecismo, assumido como próprio por uma Igreja local: o seu caráter oficial, a síntese orgânica e básica da fé que apresenta, e o fato de que seja oferecido, juntamente com as Sagradas Escrituras, como ponto de referência para a catequese:
– O Catecismo local, de fato, é texto oficial da Igreja. De algum modo, ele torna visível a « entrega do Símbolo » e a « entrega do Pai Nosso » aos catecúmenos e aos batizandos. Por isso, é a expressão de um ato de tradição.
O caráter oficial do Catecismo local estabelece uma distinção qualitativa em referência aos outros instrumentos de trabalhos, úteis na pedagogia catequética (textos didáticos, catecismos não oficiais, guias para os catequistas...)
– Além disso, todo Catecismo é um texto de caráter sintético e básico, no qual se apresenta, de maneira orgânica e no respeito pela « hierarquia das verdades », os eventos e as verdades fundamentais do mistério cristão.
– O Catecismo local apresenta, na sua organicidade, « um conjunto dos documentos da Revelação e da tradição cristã, (1)que são oferecidos na rica diversidade de « linguagens » em que se exprime a Palavra de Deus.
O Catecismo local se oferece, enfim, como ponto de referência que inspira a catequese. A Sagrada Escritura e o Catecismo são os dois documentos doutrinais de base no processo de catequização, a serem mantidos sempre à mão. Embora sendo, tanto um quanto outro, instrumentos de primária importância, não são, todavia, os únicos: são necessários, de fato, outros instrumentos de trabalho mais imediatos. (2) Por isso, é legítimo perguntar-se se um Catecismo oficial deva conter elementos pedagógicos ou, ao contrário, deva limitar-se a ser apenas uma síntese doutrinal, oferecendo somente as fontes.
Em todo caso, sendo o Catecismo um instrumento para o ato catequético, que é ato de comunicação, responde sempre a uma certa inspiração pedagógica e deve sempre fazer transparecer, nos limites do seu gênero, a pedagogia divina.
As questões mais claramente metodológicas são, ordinariamente, mais consoantes a outros instrumentos.
Os aspectos da adaptação num Catecismo local (3)
133. O Catecismo da Igreja Católica indica quais são os aspectos que devem ser levados em consideração no momento de adaptar ou contextualizar a síntese orgânica da fé, que todo Catecismo local deve oferecer. Esta síntese da fé deve realizar as adaptações que são exigidas « pelas diferenças de culturas, de idades, da vida espiritual, de situações sociais e eclesiais daqueles a quem a catequese é dirigida ».(4) Também o Concílio Vaticano II afirma com ênfase a necessidade de adaptar a mensagem evangélica: « Esta maneira apropriada de proclamar a palavra revelada deve permanecer como lei de toda a evangelização ».(5) Por isso:
– Um Catecismo local deve apresentar a síntese da fé em referência à cultura concreta em que se encontram os catecúmenos e os catequizandos. Incorporará, portanto, todas aquelas « expressões originais de vida, de celebração e de pensamento que são cristãos » (6) e que nasceram da própria tradição cultural e são fruto do trabalho e da inculturação da Igreja local.
– Um Catecismo local, « fiel à mensagem e fiel à pessoa humana »,(7) apresenta o mistério cristão de modo significativo e próximo à psicologia e à mentalidade da idade do destinatário concreto e, conseqüentemente, em clara referência às experiências fundamentais da sua vida.(8)
– É preciso cuidar de modo especial a forma concreta de viver o fato religioso numa determinada sociedade. Não é a mesma coisa fazer um Catecismo para um ambiente caracterizado pela indiferença religiosa, e fazê-lo para outro, cujo contexto é profundamente religioso.(9) A relação « fé-ciência » deve ser tratada com muito cuidado em cada Catecismo.
– A problemática social circunstante, ao menos no que diz respeito aos elementos estruturais mais profundos (econômicos, políticos, familiares...) é um fator muito importante para contextualizar o Catecismo. Inspirando-se na doutrina social da Igreja, o Catecismo saberá oferecer critérios, motivações e linhas de ação que iluminem a presença cristã em meio a tal problemática.(10)
– Finalmente, a situação eclesial concreta, que a Igreja particular vive, é sobretudo o contexto obrigatório ao qual o Catecismo deve referir-se. Obviamente, não as situações conjunturais, às quais se provê mediante outros documentos magisteriais, mas sim a situação permanente, que postula uma evangelização com acentos mais específicos e determinados.(11)
A criatividade das Igrejas locais em relação à elaboração dos Catecismos
134. As Igrejas locais, na tarefa de adaptar, contextualizar e inculturar a mensagem evangélica às diferentes idades, situações e culturas, por meio dos Catecismos, necessitam de uma criatividade segura e madura. Do depositum fidei confiado à Igreja, as Igrejas locais devem selecionar, estruturar e exprimir, sob a orientação do Espírito Santo, Mestre interior, todos aqueles elementos com que transmitir o Evangelho, na sua completa autenticidade, numa determinada situação.
Nesta árdua tarefa, o Catecismo da Igreja Católica é « ponto de referência » para garantir a unidade da fé. O presente Diretório Geral para a Catequese, por sua vez, oferece os critérios basilares que devem orientar a apresentação da mensagem cristã.
135. Na elaboração dos Catecismos locais, é conveniente recordar o seguinte:
– Trata-se, antes de mais nada, de elaborar verdadeiros Catecismos adaptados e inculturados. Neste sentido, é conveniente distinguir entre um Catecismo que adapta a mensagem cristã às diferentes idades, situações e culturas, e o que é uma mera síntese do Catecismo da Igreja Católica, como instrumento de introdução ao estudo do mesmo. São dois gêneros diferentes.(12)
– Os Catecismos locais podem ter caráter diocesano, regional ou nacional.(13)
– Em relação à estruturação dos conteúdos, os diversos Episcopados publicam, de fato, Catecismos com diversas articulações ou configurações. Como já foi dito, o Catecismo da Igreja Católica foi proposto como referência doutrinal, mas não se quer, com ele, impor a toda a Igreja uma determinada configuração de Catecismo. Assim, existem Catecismos com uma configuração trinitária, outros são estruturados segundo as etapas da salvação, outros segundo um tema bíblico e teológico de grande densidade (Aliança, Reino de Deus, etc.), outros segundo a dimensão da fé, e outros, ainda, seguindo o ano litúrgico.
– Quanto à maneira de exprimir a mensagem evangélica, a criatividade de um Catecismo incide também sobre a própria formulação do conteúdo.(14) Evidentemente, um Catecismo deve permanecer fiel ao depósito da fé, no seu método de exprimir a substância doutrinal da mensagem cristã. « As Igrejas particulares profundamente amalgamadas não apenas com as pessoas, mas também com as aspirações, as riquezas e os limites, os modos de rezar, de amar e de considerar a vida e o mundo, que distinguem um determinado ambiente humano, têm a tarefa de assimilar a essencial mensagem evangélica, de transfundi-la sem a mínima alteração da sua verdade fundamental, na linguagem compreendida por estes homens e, a seguir, de anunciá-lo na mesma linguagem ».(15)
O princípio a seguir, nesta delicada tarefa, é o que ensina o Concílio Vaticano II: « descobrir a maneira mais apropriada de comunicar a doutrina aos homens de seu tempo, porque uma coisa é o próprio depósito da fé ou as verdades, e outra é o modo de enunciá-las, conservando-se contudo o mesmo sentido e o mesmo significado ».(16)
O Catecismo da Igreja Católica e os Catecismos locais: a sinfonia da fé
136. O Catecismo da Igreja Católica e os Catecismos locais, naturalmente com a específica autoridade de cada um, formam uma unidade. São a expressão concreta da « unidade na mesma fé apostólica »(17) e, ao mesmo tempo, da rica diversidade de formulação da mesma fé.
O Catecismo da Igreja Católica e os Catecismos locais, juntos, a quem contempla a sua harmonia, exprimem a « sinfonia » da fé: antes de mais nada, uma sinfonia interna ao próprio Catecismo da Igreja Católica, elaborado com a colaboração de todo o Episcopado da Igreja Católica; e uma sinfonia dele derivada e expressa nos Catecismos locais. Esta « sinfonia », este « coro de vozes da Igreja Universal » (18) manifestada nos Catecismos locais, fiéis ao Catecismo da Igreja Católica, tem um significado teológico importante:
– Manifesta, antes de mais nada, a catolicidade da Igreja. As riquezas culturais dos povos se incorporam na expressão da fé da única Igreja.
– O Catecismo da Igreja Católica e os Catecismos locais manifestam também a comunhão eclesial da qual a « profissão da mesma fé » (19) é um dos vínculos visíveis. As Igrejas particulares, « nas quais e pelas quais existe a Igreja Católica una e única », (20) formam com o todo, com a Igreja universal, « uma peculiar relação de mútua interiorização ». (21) A unidade entre o Catecismo da Igreja Católica e os Catecismos locais torna visível esta comunhão.
– O Catecismo da Igreja Católica e os Catecismos locais exprimem, igualmente, de maneira evidente, a realidade da colegialidade episcopal. Os Bispos, cada qual na sua diocese e juntos como colégio, em comunhão com o Sucessor de Pedro, têm a máxima responsabilidade pela catequese na Igreja.(22)
O Catecismo da Igreja Católica e os Catecismos locais, por sua profunda unidade e rica diversidade, são chamados a ser o fermento renovador da catequese na Igreja. Ao contemplá-los com olhar católico e universal, a Igreja, isto é, toda a comunidade dos discípulos de Cristo, poderá dizer verdadeiramente: « Esta é a nossa fé, esta é a fé da Igreja ».
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