terça-feira, 10 de dezembro de 2013

DIOCESE DE BRAGANÇA PAULISTA

HOMÍLIA I
HOMÍLIA DO BISPO DIOCESANO DE BRAGANÇA PAULISTA
DOM SÉRGIO APARECIDO COLOMBO
ENCERRAMENTO DO ANO DA FÉ
TERÇA-FEIRA, 19 DE NOVEMBRO DE 2013
CATEDRAL DIOCESANA IMACULADA CONCEIÇÃO
BRAGANÇA PAULISTA SP BRASIL


Irmãos e Irmãs!

Nossa Igreja Diocesana reúne-se nesta noite para celebrar
em comunhão com toda a Igreja, antecipadamente por razões pastorais,
a Eucaristia, ao término do Ano da Fé. Em Roma, o Ano da Fé será
encerrado no domingo próximo, dia 24 de novembro, solenidade de Nosso
Senhor Jesus Cristo – Rei do Universo, sob a presidência do Santo Padre, o
Papa Francisco.
Retomar o objetivo do Ano da Fé, para que continue
iluminando a caminhada da Igreja, na perspectiva da Nova Evangelização,
é oportuno e necessário: “um renovado impulso à sua missão para
conduzir homens e mulheres para fora do deserto em que muitas vezes se
encontram, rumo ao lugar da vida, da amizade com Cristo que nos dá a
vida em plenitude”. Ao terminar o Ano da Fé, enquanto tempo cronológico,
permanecem a graça e o compromisso para uma conversão a Deus, cada
vez mais plena para fortalecer a nossa fé n’Ele e para O anunciar com
alegria no tempo presente; uma fé ardorosa capaz de ajudar a todos
os que creem em Cristo a se tornarem mais conscientes e revigorarem
sua adesão ao Evangelho; a fé de sempre a ser transmitida às próximas
gerações para que não se apaguem a confiança e a esperança; fé a ser
celebrada e intensificada na liturgia, tendo como centralidade a Eucaristia,
de modo que o testemunho de vida dos que creem alcance sempre mais
Os textos bíblico-litúrgicos escolhidos para esta
celebração nos ajudam, entre outros, a vislumbrar o caminhar da Igreja, de
nossa Igreja Particular no compromisso de evangelizar. Na primeira leitura
nos deparamos com o profeta Zacarias. É ele quem anima o povo que
ainda sofre os efeitos da dominação dos inimigos (520aC); quem afirma,
junto aos desencorajados, que Deus está presente e não os abandonará;
que seu projeto de vida se concretizará e as dúvidas e a resignação passivas
não subsistirão; quem estimula o povo a reconstruir o Templo, símbolo
da fé e da unidade. E assim, os familiares a Israel, vendo a convicção, o
contentamento, a coragem e a fé em Javé dos exércitos, a ele se juntarão.
De novo, relata o Profeta: “Virão povos e moradores das grandes cidades.
Os de uma cidade irão para outra, dizendo: ‘vamos aplacar a face de Javé
e procurar a Javé dos exércitos’. Eu também irei! E virão muitos povos e
nações poderosas procurar Javé dos exércitos em Jerusalém, e aplacar a sua
face. Assim diz Javé dos exércitos: Naqueles dias, dez homens de todas
as línguas faladas pelas nações pegarão um judeu pela barra do manto,
dizendo: ‘Nós queremos ir com vocês, pois ouvimos falar que Deus
está com vocês’” (Zc 8, 20-23), queremos conhecê-lo! Confrontamo-nos,
neste texto, com o que é primordial à Nova Evangelização: o testemunho
convicto dos que creem como lembra o Papa Francisco.
Com o Apóstolo Paulo na Carta aos Romanos,
compreendemos que o Evangelho é graça, força de salvação, acessível a
todos, sem distinção. Acolhido, conduz para uma vida nova. Seu anúncio
supõe não apenas a crença em Jesus morto e ressuscitado, mas a adesão e o
É o Papa Francisco quem recorda, ainda, que a Igreja
é depositária da missão de fazer o Evangelho chegar a todos. Para isso,
ela precisa ser ousada em sua ação evangelizadora e chegar às “periferias
existenciais”. “… uma Igreja capaz de curar as feridas e de aquecer o
coração dos fiéis com a proximidade. Quando esteve no Brasil, por ocasião
da JMJ, insistiu por várias vezes na cultura do encontro, da proximidade;
não apenas ser uma Igreja que acolhe e recebe, tendo as portas abertas,
mas uma Igreja que propõe novos caminhos, capaz de sair de si mesma
e ir ao encontro de quem não a frequenta, de quem a abandonou ou lhe
é indiferente. Quem a abandonou o fez, por vezes, por razões que, se
forem bem compreendidas e avaliadas, podem levar a um regresso. Mas
é necessário audácia, coragem. Uma Igreja que ajude compreender que
Deus está na vida de cada pessoa, na vida de cada um. Mesmo se a vida de
uma pessoa foi ou é um desastre, se se encontra destruída pelos vícios, pela
droga ou por qualquer outra coisa, Deus está na sua vida. Pode e deve-se
procurá-lo na vida humana. Mesmo se a vida de uma pessoa é um terreno
cheio de espinhos e ervas daninhas, há sempre um espaço onde a semente
boa pode crescer. É preciso confiar em Deus. E que a Igreja possa ir além
das pequenas coisas e dos pequenos preceitos em que se encerrou para
fazer a todos o primeiro anúncio: Jesus Cristo te salvou”.
No Evangelho há pouco proclamado, o encontro
essencial que transforma radicalmente a vida: “Então a mulher deixou o
balde, foi para a cidade e disse para as pessoas: Venham ver um homem
que me disse tudo o que eu fiz. Será que ele não é o Messias? O pessoal
saiu da cidade e foi ao encontro de Jesus. Muitas pessoas acreditaram em
Jesus ao ouvir sua palavra. E diziam à mulher: Já não acreditamos por
causa daquilo que você disse. Agora, nós mesmos sabemos que este é, de
fato, o salvador do mundo” (Jo 4, 29-30.41-42). No encontro pessoal da
mulher samaritana com Jesus, a inimizade tornou-se amizade, a distância
deu lugar à proximidade, e a incredulidade e o medo tornaram-se fé
alegre e confiante. Sua experiência tornou-se, assim, um modelo para o
discipulado e para a missionariedade, capaz de dar à Igreja do nosso tempo
um novo rosto, um novo vigor. Igreja reunida em pequenas comunidades
com capacidade de humanizar as relações e alimentar a solidariedade.
Terminamos retomando a Carta Apostólica para o
Ano da Fé, do sempre amado Papa Emérito Bento XVI. Reporta-nos ao
apóstolo Paulo exortando Timóteo, seu verdadeiro filho na fé: “Procure a
fé (2Tm 2,22) com a mesma constância de quando era novo (2Tm 3,15).
Sintamos nesta noite, irmãos e irmãs, este convite dirigido a cada um de
nós, para que não nos tornemos indolentes na fé. Esta é companheira de
vida, que permite perceber, com um olhar sempre novo, as maravilhas que
Deus realiza por nós. Solícita a identificar os sinais dos tempos no hoje da
história, a fé obriga a cada um de nós a tornar-se sinal vivo da presença
do Ressuscitado no mundo. Aquilo de que o mundo tem hoje de particular
necessidade é o testemunho credível de quantos, iluminados na mente e no
coração pela Palavra do Senhor, são capazes de abrir o coração e a mente
de muitos outros ao desejo de Deus e da vida verdadeira, aquela que não
tem fim” (Porta Fidei, 15).
Que Maria, mãe de Jesus, mãe da Igreja, nos ensine a
ser fiéis e a conservar no coração tudo o que aprendemos com seu Filho
neste Ano da Fé. Amém.


Bispo Diocesano




 CERTO
ARTIGO I


ARTIGO DO BISPO DIOCESANO DE BRAGANÇA PAULISTA
DOM SÉRGIO APARECIDO COLOMBO
ADVENTO - " PREPAREM O CAMINHO DO SENHOR" (MT,3b).



Irmãos e Irmãs!
Ao iniciarmos com toda a Igreja um novo Ano Litúrgico, somos chamados a renovar a esperança, abrindo-nos ao mistério de Deus que sempre vem ao nosso encontro, para nos salvar com seu amor sem medida. Ele é o Emanuel – Deus Conosco, que nos mantém na expectativa alegre da realização do Seu Reino. Reino já presente na história pelo seu Filho amado, na prática da justiça e da solidariedade, sem ostentação e com simplicidade, como graça e como dom, e que logo mais no Natal faremos memória. Reino a ser acolhido cada dia no encontro entre as pessoas, nos acontecimentos, na comunidade de fé, na natureza, como “um caminho para Javé, uma estrada para o nosso Deus” (Is 40,3). Este é o sentido do Advento que nos convida à contemplação, admiração, fé e confiança.
O evangelista para o Ano Litúrgico que se inicia é Mateus. Seu Evangelho é conhecido como o Evangelho das comunidades do Senhor Ressuscitado, comunidades de camponeses, na maioria compostas por judeus cristãos, que viviam muitas tensões, sobretudo, a dificuldade na abertura para os gentios; comunidades que acreditavam que Jesus veio somente para “as ovelhas perdidas da casa de Israel” (Mt 10,6) e que aceitavam a exclusão dos “pagãos e cobradores de impostos” (Mt 18,17), mas que aos poucos, pela ação do Espírito, foram abrindo-se à missão, quebrando as resistências e tornando-se acolhedoras e solidárias.
Jesus, o Messias enviado por Deus, servidor e pobre, que põe no centro de sua pregação a pessoa humana e não a Lei, que revela o rosto de um Deus que é Pai, faz o sol nascer sobre os bons e maus, quer a misericórdia e não sacrifícios, que como novo Moisés revela um Deus amoroso que constitui com o povo uma nova aliança, que leva as comunidades à abertura para as culturas pagãs, que a todos conduz para o Reino dos Céus – a Nova Terra Prometida, é o Jesus que Mateus anunciou às suas comunidades, o “juiz que julgará com justiça toda a humanidade” (Mt 25,31-46).
No itinerário da nova evangelização, as pessoas buscam uma experiência concreta do encontro com Jesus Cristo. Essa experiência se dá numa comunidade eclesial desafiada como as primeiras comunidades, a vencer a tentação do fechamento e apatia em relação aos outros. A grandeza do tempo do Advento está em propor novos caminhos para a comunidade, um novo recomeço, “necessariamente o convívio, vínculos profundos, afetividade, interesses comuns, estabilidade e solidariedade nos sonhos, nas alegrias e nas dores”.
E tudo isso requer o testemunho convicto de Jesus Cristo, um novo ardor. “Trata-se do testemunho pessoal, base sobre a qual o explícito anúncio haverá de ser construído. Afinal, não existe vida cristã no isolamento e no fechamento. A comunidade é o lugar da fé e do seguimento de Jesus Cristo. A vida comunitária é intrínseca à fé cristã, pois se trata de vivência eclesial que é reflexo da vida em comunhão e que existe na Santíssima Trindade” (Texto: Comunidade de Comunidades – Uma nova Paróquia, n. 137).
O Advento chega mais uma vez como apelo sempre antigo e sempre novo, da vigilância que nos mantém no caminho com a certeza do encontro que permitirá ver a Deus face a face, Aquele mesmo que hoje nos chama à comunhão com seu projeto amoroso para a vida e a liberdade, próprias dos filhos que confiam no Pai.
Unidos e identificados com Maria no seu sim a Deus, vivamos Advento colocando-nos ao serviço do Senhor e dos irmãos.

+ Sérgio
Bispo Diocesano

+ Sérgio

HOMÍLIA II 

HOMÍLIA DOM SÉRGIO COLOMBO
SOLENIDADE DA IMACULADA CONCEIÇÃO DA VIRGEM MARIA

CATEDRAL DIOCESANA - BRAGANÇA PAULISTA (SP)
DOMINGO, 8 DE DEZEMBRO DE 2013

“Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre!” (Lc 1,42).

Irmãos e Irmãs!
Celebramos hoje, com toda a Igreja, a Solenidade da Imaculada Conceição da Virgem Maria, a mulher que, “bendita entre todas as mulheres” (Lc 1,42), encontrou graça diante de Deus e concebeu, por obra do Espírito Santo, o menino que foi chamado “Filho de Deus” (Lc 1,35b), “Filho do Altíssimo” (Lc1, 28). Um novo início com o resgate da humanidade decaída pela autossuficiência, mas que encontrou graça diante de Deus, no seu Filho, Jesus Cristo, que “reinou sobre a descendência de Jacó, mas cujo reinado não terá fim” (Lc 1,33). Nele, “nos tornamos herdeiros, fomos predestinados para o louvor da sua glória, nós que esperávamos em Cristo” (Ef 1, 11-12). Assim, o mal, devido ao pecado original, nunca será vitorioso e, embora viva os embates do tempo presente, o ser humano e toda a criação estão para o Reino de Deus e sua justiça, onde tudo é redimido, torna-se santo.

A Solenidade que celebramos apresenta “Maria como primeiro ser da criação totalmente livre do pecado original. A 8 de dezembro de 1854, o Papa Pio IX, através da Bula Ineffabilis Deus – Inefável Deus – proclamou oficialmente: ‘No primeiro instante de sua conceição, pela graça e privilégio de Deus todo – poderoso e em consideração aos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, a Virgem Maria foi preservada e isenta de toda mancha do pecado original. Não só. Ela foi cumulada de tantas graças e de tanta perfeição que não se pode imaginar maior depois de Cristo e de Deus’”.

Mas, afinal, o que é o pecado original? No centro desta questão está sempre a pretensão de ser como Deus, usurpar o seu lugar, fazer oposição a Ele, ao seu projeto de vida e liberdade. Assim, o pecado original é o pecado da autossuficiência, do querer ser igual a Deus, a incapacidade de abrir-se a Ele para amá-lo de todo coração como Senhor absoluto e criador de todas as coisas. É o fechamento, o egoísmo que transforma as relações de comunhão e de fraternidade em relações de dominação e opressão, tanto entre as pessoas, como com a natureza. Essas relações atingem tal nível de deterioração que levam o ser humano a esconder-se do seu Criador, experimentando a sensação de estar nu, sem perspectiva.

“A nudez é a forma que a história encontrou para mostrar que, quando dá livre curso à sede de autossuficiência, o ser humano acaba desprotegido, pois pode devorar seu semelhante ou ser devorado por ele. As relações com Deus, portanto, tornam-se de medo e fuga, pois Ele se tornou um inimigo”. Quantos já não suportam a presença de Deus, não querem compartilhar de seu projeto. A autossuficiência lhes fechou o coração.

Se considerarmos a realidade do pecado original, é necessário considerarmos a realidade da graça original, que supera todo pecado. Afirma o apóstolo Paulo: “Nele (Cristo), Deus nos escolheu, antes da fundação do mundo, para sermos santos e íntegros diante dele... (Ef 1, 4)”. “Cada criança que vem a este mundo nasce como uma bênção original de Deus. O Senhor cria todos os seres humanos, independentemente de sua futura pertença religiosa, para serem felizes e colaborarem na felicidade dos outros. Essa é a etapa que nos prepara para a comunhão plena com Deus, na vida eterna. Cada homem ou mulher se desenvolve com o tempo, constituindo-se como pessoa no decorrer da existência. Aprende a amar e a ser amado, recebe a fé de outros e a assume como sua. Já pensaram como é fascinante sermos, até a hora da morte, aprendizes da arte de viver? Construímos nossas vidas sob as coordenadas do tempo cronológico e do espaço físico. Somos condicionados pela cultura onde nascemos e vivemos. No processo de aprendizado com a vida, até os erros têm lugar como oportunidade de superação e crescimento. É preciso lembrar que somos marcados pela finitude e isso constitui algo essencial ao ser humano, pois é criatura e não um Deus. Ser finito, limitado pelo tempo e pelo espaço, ao ciclo de vida e de morte, estar condicionado pela cultura, não diz respeito ao pecado, mas ao fato de ser criatura. Ontem, como hoje, o que conta na verdade é que somos parte do grande projeto amoroso de Deus, marcados por sua graça, devendo vigorar, entre nós, relações de bondade, acolhida, gratuidade e partilha”.
E, se “nossa liberdade está comprometida pelo pecado, precisa ser libertada”. Lembra-nos o apóstolo Paulo: ... Queremos fazer o bem, mas acabamos fazendo o mal que não desejamos... (cf. Rm 7,14-24). Somos frágeis, é verdade, mas cremos na vitória da Graça de Jesus Cristo, que nos liberta de todas as cadeias (cf. Rm 5,8 e 8,1-4). A “graça original” de Deus, que nos cria e nos salva, é mais forte do que o pecado original e nos ajuda a superar pecados e falhas.

O dogma da Imaculada Conceição não pode ser compreendido a partir das categorias humano-científicas. Ele é pura graça e iniciativa de Deus. A resposta positiva da mulher, Maria de Nazaré, ao convite do Arcanjo Gabriel para ser a Mãe do Filho de Deus só pode ser compreendida no plano da Graça. É na graça que está a raiz de sua resposta. É verdade que ela recebeu do Senhor um dom especial. Nasceu mais integrada do que nós, perfeita, com maior capacidade para a liberdade. E isto lhe permitiu acolher a proposta divina. E, entre graça de Deus e liberdade não há competição. “Ao contrário, quanto mais o ser humano se deixa iluminar por Deus, mais é livre para resistir ao assédio do mal e aderir ao bem. Assim aconteceu com Maria! Imaculada significa inteireza, liberdade profunda em Deus, que significa bem mais do que o livre arbítrio para fazer escolhas. Essa liberdade é ao mesmo tempo dom (recebido gratuitamente de Deus) e conquista (cultivado dia a dia, confirmado em cada opção, a ponto de constituir um projeto de vida)”.

Em Maria, portanto, a máxima realização da existência cristã, paradigma para toda a humanidade, modelo perfeito na obediência à vontade de Deus, Mãe da Igreja, discípula perfeita do Senhor. Com ela aprendamos a peregrinar pelas estradas da vida. Com ela aprendamos a existir em Cristo e n’Ele encontrar nossa verdadeira identidade. Com ela permaneçamos em pé nos momentos de dor e sofrimento. Com ela acolhamos o mistério de amor que brota do alto da cruz e que nos faz vislumbrar já, agora, a plenitude da maturidade cristã. Amém.

+ Sérgio
Bispo Diocesano

MODELO




CERTO



HOMÍLIA DOM SÉRGIO COLOMBO
SOLENIDADE DA IMACULADA CONCEIÇÃO DA VIRGEM MARIA

CATEDRAL DIOCESANA - BRAGANÇA PAULISTA (SP)
DOMINGO, 8 DE DEZEMBRO DE 2013

“Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre!” (Lc 1,42).

Irmãos e Irmãs!
Celebramos hoje, com toda a Igreja, a Solenidade da Imaculada Conceição da Virgem Maria, a mulher que, “bendita entre todas as mulheres” (Lc 1,42), encontrou graça diante de Deus e concebeu, por obra do Espírito Santo, o menino que foi chamado “Filho de Deus” (Lc 1,35b), “Filho do Altíssimo” (Lc1, 28). Um novo início com o resgate da humanidade decaída pela autossuficiência, mas que encontrou graça diante de Deus, no seu Filho, Jesus Cristo, que “reinou sobre a descendência de Jacó, mas cujo reinado não terá fim” (Lc 1,33). Nele, “nos tornamos herdeiros, fomos predestinados para o louvor da sua glória, nós que esperávamos em Cristo” (Ef 1, 11-12). Assim, o mal, devido ao pecado original, nunca será vitorioso e, embora viva os embates do tempo presente, o ser humano e toda a criação estão para o Reino de Deus e sua justiça, onde tudo é redimido, torna-se santo.

A Solenidade que celebramos apresenta “Maria como primeiro ser da criação totalmente livre do pecado original. A 8 de dezembro de 1854, o Papa Pio IX, através da Bula Ineffabilis Deus – Inefável Deus – proclamou oficialmente: ‘No primeiro instante de sua conceição, pela graça e privilégio de Deus todo – poderoso e em consideração aos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, a Virgem Maria foi preservada e isenta de toda mancha do pecado original. Não só. Ela foi cumulada de tantas graças e de tanta perfeição que não se pode imaginar maior depois de Cristo e de Deus’”.

Mas, afinal, o que é o pecado original? No centro desta questão está sempre a pretensão de ser como Deus, usurpar o seu lugar, fazer oposição a Ele, ao seu projeto de vida e liberdade. Assim, o pecado original é o pecado da autossuficiência, do querer ser igual a Deus, a incapacidade de abrir-se a Ele para amá-lo de todo coração como Senhor absoluto e criador de todas as coisas. É o fechamento, o egoísmo que transforma as relações de comunhão e de fraternidade em relações de dominação e opressão, tanto entre as pessoas, como com a natureza. Essas relações atingem tal nível de deterioração que levam o ser humano a esconder-se do seu Criador, experimentando a sensação de estar nu, sem perspectiva.

“A nudez é a forma que a história encontrou para mostrar que, quando dá livre curso à sede de autossuficiência, o ser humano acaba desprotegido, pois pode devorar seu semelhante ou ser devorado por ele. As relações com Deus, portanto, tornam-se de medo e fuga, pois Ele se tornou um inimigo”. Quantos já não suportam a presença de Deus, não querem compartilhar de seu projeto. A autossuficiência lhes fechou o coração.

Se considerarmos a realidade do pecado original, é necessário considerarmos a realidade da graça original, que supera todo pecado. Afirma o apóstolo Paulo: “Nele (Cristo), Deus nos escolheu, antes da fundação do mundo, para sermos santos e íntegros diante dele... (Ef 1, 4)”. “Cada criança que vem a este mundo nasce como uma bênção original de Deus. O Senhor cria todos os seres humanos, independentemente de sua futura pertença religiosa, para serem felizes e colaborarem na felicidade dos outros. Essa é a etapa que nos prepara para a comunhão plena com Deus, na vida eterna. Cada homem ou mulher se desenvolve com o tempo, constituindo-se como pessoa no decorrer da existência. Aprende a amar e a ser amado, recebe a fé de outros e a assume como sua. Já pensaram como é fascinante sermos, até a hora da morte, aprendizes da arte de viver? Construímos nossas vidas sob as coordenadas do tempo cronológico e do espaço físico. Somos condicionados pela cultura onde nascemos e vivemos. No processo de aprendizado com a vida, até os erros têm lugar como oportunidade de superação e crescimento. É preciso lembrar que somos marcados pela finitude e isso constitui algo essencial ao ser humano, pois é criatura e não um Deus. Ser finito, limitado pelo tempo e pelo espaço, ao ciclo de vida e de morte, estar condicionado pela cultura, não diz respeito ao pecado, mas ao fato de ser criatura. Ontem, como hoje, o que conta na verdade é que somos parte do grande projeto amoroso de Deus, marcados por sua graça, devendo vigorar, entre nós, relações de bondade, acolhida, gratuidade e partilha”.
E, se “nossa liberdade está comprometida pelo pecado, precisa ser libertada”. Lembra-nos o apóstolo Paulo: ... Queremos fazer o bem, mas acabamos fazendo o mal que não desejamos... (cf. Rm 7,14-24). Somos frágeis, é verdade, mas cremos na vitória da Graça de Jesus Cristo, que nos liberta de todas as cadeias (cf. Rm 5,8 e 8,1-4). A “graça original” de Deus, que nos cria e nos salva, é mais forte do que o pecado original e nos ajuda a superar pecados e falhas.

O dogma da Imaculada Conceição não pode ser compreendido a partir das categorias humano-científicas. Ele é pura graça e iniciativa de Deus. A resposta positiva da mulher, Maria de Nazaré, ao convite do Arcanjo Gabriel para ser a Mãe do Filho de Deus só pode ser compreendida no plano da Graça. É na graça que está a raiz de sua resposta. É verdade que ela recebeu do Senhor um dom especial. Nasceu mais integrada do que nós, perfeita, com maior capacidade para a liberdade. E isto lhe permitiu acolher a proposta divina. E, entre graça de Deus e liberdade não há competição. “Ao contrário, quanto mais o ser humano se deixa iluminar por Deus, mais é livre para resistir ao assédio do mal e aderir ao bem. Assim aconteceu com Maria! Imaculada significa inteireza, liberdade profunda em Deus, que significa bem mais do que o livre arbítrio para fazer escolhas. Essa liberdade é ao mesmo tempo dom (recebido gratuitamente de Deus) e conquista (cultivado dia a dia, confirmado em cada opção, a ponto de constituir um projeto de vida)”.

Em Maria, portanto, a máxima realização da existência cristã, paradigma para toda a humanidade, modelo perfeito na obediência à vontade de Deus, Mãe da Igreja, discípula perfeita do Senhor. Com ela aprendamos a peregrinar pelas estradas da vida. Com ela aprendamos a existir em Cristo e n’Ele encontrar nossa verdadeira identidade. Com ela permaneçamos em pé nos momentos de dor e sofrimento. Com ela acolhamos o mistério de amor que brota do alto da cruz e que nos faz vislumbrar já, agora, a plenitude da maturidade cristã. Amém.

+ Sérgio
Bispo Diocesano


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